Premiado com o Nobel de Literatura em 2001, o britânico de origem indiana V.S. Naipaul, que morreu no sábado, em Londres, aos 85 anos, foi um escritor controverso, que passou quase toda a sua longa carreira sendo admirado por seus livros e criticado por suas declarações, posicionamentos políticos e pelo temperamento irascível.
Nascido em Trinidad e Tobago no meio de uma numerosa família indiana da qual ele procurou se afastar, Vidiadhar Surajprasad Naipaul escreveu mais de 30 livros, sendo Uma casa para o Sr. Biswas (1961) seu título mais conhecido. Aos 18 anos, Naipaul ganhou uma bolsa para estudar literatura inglesa na Universidade de Oxford, e fez dela a chance de deixar para trás um país que, décadas mais tarde, ele descreveria como “uma plantação”.
Leia Mais
Quem são os booktubers e influenciadores que agitam o mercado de livrosVeja como foi o primeiro fim de semana da exposição São Francisco na arte de mestre italianosCom obra no Palácio das Artes, artista Yuri Firmeza fala de sua produção Ator José Pimentel é internado em estado grave e respira com ajuda de aparelhos
Em seus primeiros livros, Naipaul se concentrou nas Índias Ocidentais, mas depois passou a escrever sobre diversos países e foi descrito como um “circunavegador” pela Academia Sueca, ao lhe conceder o Nobel. A Academia também louvou Naipaul por “ter misturado narração perspectiva e observação incorruptível em suas obras, que nos condenam a ver a presença da história esquecida” e observou que o escritor não se sentia em casa em nenhum outro lugar a não ser dentro de si mesmo, “no seio de sua expressão inimitável”.
Naipaul misturou ficção, não ficção e autobiografia sem fazer distinções. Muitas de suas obras estudam os traumas das mudanças pós-coloniais. Uma casa para o Sr.
Ele foi um dos primeiros agraciados com o Booker Prize, o principal prêmio literário do Reino Unido, em 1971, por Num estado livre. Para produzir ensaios jornalísticos ou livros de viagem, Naipaul passou longos períodos viajando por países como Índia, Paquistão, Indonésia, Irã e Argentina, onde seu interesse era a figura de Eva Perón.
POLÊMICAS
Muitas das polêmicas nas quais se envolveu derivaram de suas opiniões depreciativas sobre os países em desenvolvimento, de suas críticas ao islamismo e de seu discurso rasgadamente machista. Patricia Hale morreu em 1996. Mais tarde, Naipaul revelou numa entrevista para a revista The New Yorker que sentia que ele havia acelerado a morte da mulher, ao admitir publicamente que havia procurado prostitutas quando ela combatia um câncer.
“A confissão a consumiu. Acho que teve todas as recaídas e todo o resto depois disso... Poderia dizer que eu a matei”, afirmou o escritor em sua biografia autorizada, escrita por Patrick French. Naipaul sempre se expressou com franqueza e sem rodeios e chegou a comparar o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair com um pirata à frente de uma revolução socialista.
Falou mal das mulheres escritoras, descreveu os países pós-coloniais como sociedades pela metade e afirmou que o Islã escraviza e tenta acabar com outras culturas.
Ele também teve uma rumorosa briga pública com o escritor americano Paul Theroux, depois de anos de amizade. Quando os dois se desentenderam, Theroux disse que Naipaul era um “racista e machista” que tinha o hábito de tratar mal as mulheres. Dois meses depois da morte de Patricia, o escritor se casou com a paquistanesa Nadira Khannum Alvi.
A desavença entre Naipaul e Theroux foi superada depois de anos. O norte-americano visitou Naipaul recentemente, quando o britânico já estava doente. Em entrevista à Associated Press, após o anúncio da morte do Nobel, Theroux afirmou que ele será reconhecido como “um dos maiores escritores do nosso tempo”.
V.S. NAIPAUL EM PORTUGUÊS
Confira os livros do autor editados no Brasil pela Companhia das Letras:
Além da fé
A máscara da África
Entre os fiéis
Ler e escrever (Editora Ayine)
Meia vida
Miguel Street
Num estado livre
Uma casa para o Sr. Biswas
Uma curva no rio
O enigma da chegada
O massagista místico
Os mímicos
Sementes mágicas