Ele já foi líder de favela, coronel autoritário, caminhoneiro, anarquista, mocinho corrupto, cafeicultor, médico, professor gago e até Deus. Em 55 anos de carreira, Antonio Fagundes experimentou inúmeras vivências no cinema, TV e, principalmente, no teatro.
"Sempre tive sorte, pois trabalhei em diversos veículos, que me permitiram atingir camadas distintas, muitas vezes com profundidade, e o que me possibilitou também alcançar público de diversas ramificações", conta o ator de 69 anos. Tal caleidoscópio artístico é o ponto de partida de Antonio Fagundes no palco da história: Um ator (Perspectiva), obra de Rosangela Patriota, que será lançada na noite desta quarta-feira (8), na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo.
Não se trata de uma biografia convencional - inicialmente parte de um projeto de pesquisa e reflexão sobre o trabalho do diretor Fernando Peixoto, as entrevistas comandadas por Rosangela acabaram rumando para a trajetória de Fagundes, a partir de conversas sobre arte, política e a situação do Brasil.
Ciente da imagem do ator construída pela sua participação em novelas, a ponto de Fagundes se transformar em uma instituição da TV, Rosangela buscou apontar para outros campos, como os trabalhos no teatro e no cinema, nos quais o ator rompeu caminhos e parâmetros.
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CONTRA PAREDE Tal assunto leva a outro tópico do livro de Rosangela, que é pensar o teatro para além do mero entretenimento, especialmente nos anos 1960 e 70, quando as circunstâncias históricas incentivavam os jovens artistas ao debate político-estético. "É uma discussão interessante, pois ressalta a importância do mercado. Costumo brincar que certos colegas se parecem com açougueiros que querem vender carne para vegetarianos. Não adianta só privilegiar um ou outro lado, é preciso conciliar as intenções."
A relação com o público, aliás, foi direcionada para outros (e originais) caminhos - ao longo dos anos, Fagundes passou a cobrar de seu público uma relação de respeito mútuo. Isso implicaria que, de seu lado, o espetáculo teatral começaria rigorosamente no horário, impedindo até o acesso de retardatários para não atrapalhar os que já estavam presentes. E, do lado da plateia, além da pontualidade, cuidados para evitar ruídos como tosse e, principalmente, toques de celular.
Entre apoio e críticas (especialmente dos que não conseguiram entrar para a sessão), Fagundes se inspirou para escrever a peça Sete minutos, encenada por ele em 2002.
Ciente da importância social de sua profissão, Fagundes encenou textos provocativos no teatro (como Morte acidental de um anarquista, em 1981, uma crítica geral à sociedade) e no cinema, como no filme inédito Contra parede, que estreia no sábado (11) na Globo. Sem o uso das leis de incentivo, o longa dirigido por Paulo Pons conta uma história atual: à véspera da eleição presidencial do Brasil, o âncora de um importante telejornal lida com acusações de corrupção contra candidatos. "A estreia é na TV, pois não podíamos esperar o lançamento no cinema", justifica ele. .