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Obras de Basquiat podem ser apreciadas por deficientes visuais no CCBB-BH


Como você descreveria as obras acima (Jazz e Black) para uma pessoa que não pode ver?


“No quadro Black, placas fixadas com pregos e pintadas com faixas horizontais em preto e branco constituem o suporte para quatro caixas organizadas nos cantos. Há também duas placas cortadas grosseiramente, pintadas e fixadas na superfície, conforme mostram as gotas de cola seca. Com a coroa no centro superior, a impressão geral é de que a letra D forma a cabeça e as caixas são os braços e pernas.”

“A palavra jazz aparece inscrita num campo com moldura vermelha, muito semelhante ao logotipo do Brillo Box que Warhol usou em suas esculturas de caixas nos anos 1960. Em lugar de acrescentar o nome de um produto de consumo nesse destaque, o artista inseriu duas coisas que muito provavelmente não são anunciadas, embaladas e vendidas: a natureza livre do jazz e o charme da negritude. Na frente da caixa, um disco de Charlie Parker é representado no canto superior esquerdo, da mesma forma que um disco de Louis Armstrong é mostrado no canto inferior esquerdo do quadro Black.”

É dessa maneira que deficientes visuais são apresentados aos dois trabalhos produzidos em 1986 por Jean-Michel Basquiat (1960-1988). Das 80 obras que compõem a exposição dedicada ao artista norte-americano em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), 23 são descritas em um audioguia criado para quem não pode enxergar. O mesmo texto serve também para visitas em libras (a linguagem brasileira de sinais).

 AUTONOMIA “O aparelho, um iPod, dá autonomia para o visitante, que não precisa agendar a visita (cinco dispositivos estão disponíveis)”, comenta Francisca Caporali, coordenadora-geral do programa CCBB Educativo. O aplicativo reconhece os sensores na galeria e determina o percurso que o visitante deve seguir.

Para aqueles que preferem conferir as obras numa visita guiada, há horários inclusivos.

Os textos voltados para os portadores de necessidades especiais foram criados para a exposição. “O jeito de descrever é diferente, pois há uma série de referências estéticas que não se aplicam a eles”, diz Francisca.

As visitas mediadas podem ser acompanhadas tanto por deficientes visuais quanto auditivos. Um educador surdo faz todo o percurso em libras – outro educador acompanha o grupo fazendo a tradução para o português. “Muitos surdos não são alfabetizados em português. A libra é uma outra língua”, observa Francisca.

Tal mediação não é exclusiva para a exposição de Basquiat – também está disponível para outras atrações do CCBB, bem como para a visita ao prédio na Praça da Liberdade. Em 2017, o centro cultural atendeu 2.654 pessoas nas atividades inclusivas. Desde abril, o setor educativo das quatro unidades do CCBB – BH, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília – está sob a responsabilidade do JACA– Jardim Canadá Centro de Arte e Tecnologia.
Nos próximos meses, deverá ser lançado um aplicativo do Educativo, que terá uma série de atrativos para o público inclusivo.


JEAN-MICHEL BASQUIAT – OBRAS DA COLEÇÃO MUGRABIA
Exposição está em cartaz no CCBB-BH, Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400. Visitação de quarta a segunda, das 9h às 21h, até 24 de setembro. Visitas mediadas em libras são realizadas às quintas, às 19h30; e aos domingos, às 17h. Visitas mediadas em libras para grupos de escolas einstituições são realizadas às sextas, às 14h30. Neste caso, é necessário agendamento (o CCBB disponibiliza ônibus para visitas de instituições sem fins lucrativos). Mais informações: (31) 3431-9441.

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