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Exposição na CâmeraSete reúne imagens das últimas quatro décadas do regime comunista

Primeiros passos, de Vladimir Bogdanov, integra a mostra na CâmeraSete. - Foto: Vladimir Blogdanov/FCS/Divulgação
O cotidiano da população soviética na segunda metade do século 20 é tema da exposição fotográfica A União Soviética através da câmera, que será aberta ao público nesta sexta (27), na galeria CâmeraSete. O contexto político e social ganha forma nos cliques de seis profissionais expoentes da mesma geração: Antanas Sutkus, Leonid Lazarev, Victor Akhlomov, Vladimir Bogdanov, Vladimir Lagrange e Yuri Krivonossov. A mostra, em cartaz até 13 de outubro, reúne 120 trabalhos, realizados entre 1953, ano da chegada do líder Nikita Khrushchov ao poder, e 1991, quando a URSS foi extinta.

O projeto nasceu no rastro do sucesso de Antanas Sutkus: um olhar livre, exposição que reuniu, em 2012, um apanhado da obra do fotógrafo lituano em BH. “A partir da vinda dessa obra para cá, tive certeza sobre a escassez do que chegava ao Brasil sobre a União Soviética da segunda metade do século 20”, conta Luiz Gustavo Carvalho, responsável pela curadoria das duas exposições, em parceria com Maria Vragova. “Naquele processo de pesquisa, encontrei diversos outros fotógrafos de grande importância e, assim, nasceu o desejo de mostrar esse olhar múltiplo sobre um mesmo tópico que sempre existiu na União Soviética”, completa.

A seleção já passou por Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo e traz registros de seis profissionais nascidos na década de 1930 e que despontaram a partir dos anos 1950. “Eles têm como traço perene e forte a quebra de uma estética stalinista de fotografia. Em vez de retratar multidões em um país perfeito, os seis retratam o cidadão simples e fazem homenagem, por meio de enquadramentos e composições geométricas, ao Construtivismo russo das décadas de 1920 e 1930, esquecido justamente devido ao stalinismo”, avalia Carvalho.

Ele ressalta a pluralidade alcançada ao se expor o trabalho desses profissionais. Uns, como Sutkus, trazem um olhar mais conformista, enquanto outros se aproximavam dos cânones estéticos impostos pelo regime vigente, caso de Yuri Krivonossov.
“Apesar de todo esforço em impor uma estética oficial e, junto dela, uma censura do que poderia ser retratado, o regime nunca conseguiu penetrar a liberdade de um olhar pessoal. Na construção das fotos e nos temas escolhidos, sempre fica uma margem aberta para alguma crítica, seja ela mais ou menos velada, à realidade em que se vivia.”

PARADIGMAS O público terá oportunidade de ver fotos realizadas em grandes centros urbanos – Moscou e São Petersburgo –, e também em localidades afastadas no Cáucaso. Os curadores trabalharam para que fossem contemplados os diversos aspectos da realidade daquele país, imenso em território e diversidade cultural.

Não há personalidades públicas nas fotos, em uma tentativa de evidenciar como era o dia a dia do homem comum soviético. Desta forma, a exposição busca desmistificar parte da imagem estabelecida sobre a União Soviética no imaginário popular brasileiro.

O curador constatou, na recente cobertura da Copa do Mundo pela mídia, um esforço em omitir os o período do comunismo na Rússia, explanando sobre as riquezas do czarismo – que chegou ao fim no início do século 20 – ou sobre o contexto atual. Para Carvalho, há uma lacuna de informações no Brasil sobre a URSS desde os tempos da Guerra Fria, causada não só pela distância geográfica, mas também por questões políticas.

“Havia o lado idealizado por uma esquerda que tentava vender uma União Soviética como o lugar ideal, algo que, hoje, sabemos que não era, a exemplo do stalinismo, que cometeu crimes horríveis. Por outro lado, vivíamos em uma ditadura de direita, que demonizava tudo o que chegava da URSS”, analisa Carvalho..