Uai Entretenimento

Editoras mineiras independentes participam da programação paralela da Flip

Maria Mazarello Rodrigues, diretora da Mazza Edições, elogia espaço aberto pela curadoria da Flip - Foto: Netun Lima/Light Press. 18/05/06

A literatura produzida em Minas ou por mineiros ocupa lugar de destaque no mais importante evento literário do Brasil, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) em sua 16ª edição. Nestas duas últimas edições, sob a curadoria de Joselia Aguiar, as pequenas editoras e independentes, que movimentam a cena das letras, ficou mais evidente. Mais do que ocupar lacunas deixadas pelas grandes companhias, as editoras mineiras oxigenam o mercado, nacionalmente, ao revelar autores ou abrir espaço para os que estavam à margem.


Relicário Edições, Páginas Editora, Editora Moinhos, Mazza Edições e Editora Letramento levam as publicações para Paraty, no Rio de Janeiro, entre 25 e 29 de julho. A festa literária homenageará a escritora Hilda Hilst (1930-2004). “O mercado editorial, assim como qualquer outro mercado, é, em boa parte, controlado pelas grandes empresas. O fato de Joselia abrir espaço para editoras pequenas, em que consideramos que a Letramento se encaixa, e editoras independentes, representa vitória e prova que o mercado, cada vez mais, precisa se adequar”, afirma Gustavo Abreu, editor e fundador da Letramento.

Muitos dos autores que brilham na Flip foram alçados por editoras independentes com sede em Belo Horizonte. A Relicário Edições foi a responsável por publicar Jamais o fogo nunca, da chilena Diamela Eltit, até então inédita no Brasil. Eltit participou da edição do ano passado.

Este ano, a poeta Laura Erber, de quem a editora mineira publicou A retornada, está na programação principal desta edição.


A Letramento convidou Djamila Ribeiro para editar a coleção e escrever O que é lugar de fala? (2017). Feminista negra, a escritora participa da mesa Amada Vida da programação oficial desta edição, no dia 26. “Nossa ideia com a coleção Feminismos Plurais é reconhecer a importância da multiplicidade de vozes. A Djamila Ribeiro, como organizadora da coleção, representa bem essa pluralidade”, afirma Gustavo. A Letramento dedica-se a publicar não-ficção. “É um gênero pouco explorado no mercado editorial, e o sucesso da coleção dá mais visibilidade para a editora”, completa.


Paralelamente à programação principal, as editoras promovem eventos na Off Flip. A Relicário estará na Casa Paratodxs.

No sábado, lança o livro O exílio, do poeta mineiro Lucas Guimarães. “É o caminho natural que a Flip e as festas literárias abram espaço para as editoras independentes. Estamos produzido literatura relevante e trazendo gente nova. Se a curadoria tivesse optado por continuar a trabalhar com as grandes editoras seria uma defasagem. A Flip é um reflexo do que ocorre no mercado”, diz Maíra Nassif, idealizadora da editora.


No sábado (28 de julho), das 18h30 às 19h30, a Relicário lança o livro Bruno Schulz conduz um cavalo, com texto de Leda Cartum e desenhos de Marcos Cartum. “Estar na Flip aumenta a repercussão em relação à editora. A gente ganha mais espaço nas livrarias e na mídia, o que ajuda a divulgar o trabalho da editora”, avalia Maíra.


A mineira Moinhos é uma das editoras responsáveis pela organização da Casa do Desejo, ao lado da Editora Patuá, de São Paulo, e da Quase Oito, do Rio de Janeiro. A editora fará seis lançamentos de autores da casa, uma oficina de escrita criativa, realizada pelo escritor Bruno Ribeiro, que também lançará o romance Glitter.

No ano passado, a editora não participou da Flip, mas, com a chegada dos poetas portugueses Adília Lopes e António Ramos Rosa, ganhou projeção no mercado editorial brasileiro.


O editor Nathan Matos destaca o espaço aberto pela curadora Josélia Aguiar para as editoras independentes.“Todo curador ou curadora sabe que há inúmeras editoras pequenas no mercado, mas nem todos têm coragem de assumir esse compromisso e convidar autores de pequenas casas editoriais, seja chamando autores estrangeiros ou brasileiros”, afirma.

 

Diversidade e formação



Maria Mazarello Rodrigues fala da participação da editora na Casa do Desejo. No ano passado, Mazza, editora que completou 37 anos em maio deste ano, esteve na festa literária para prestigiar a participação de Edimilson de Almeida Pereira, escritor que tem vários livros publicados pela casa mineira. Também publicou Conceição Evaristo (Ponciá Vicêncio, 2003), uma das estrelas da edição passada da Flip. 

Qual será a participação da Mazza Edições na Flip 2018?
A Mazza Edições estará presente na Casa do Desejo, que reunirá várias editoras independentes e terá programação muito interessante. Levaremos nosso material para venda durante os dias de realização da feira, inclusive lançamentos recentes como À flor da pele, de Maria de Lourdes Siqueira, e Ardis da imagem e Assim se benze em Minas Gerais, ambos de Edimilson de Almeida Pereira, que deverá passar por lá. A Kiusam de Oliveira, autora do livro Omo-oba: histórias de princesas, participará da programação da Flipinha.

No ano passado, o Edimilson de Almeida Pereira estava na programação principal. Isso trouxe reflexos em termos de visibilidade para a Mazza que o edita?
Edimilson é um autor que está conosco desde o início da caminhada da Mazza Edições. Acredito, sim, que a brilhante participação dele na programação principal do ano passado atraiu a atenção para discussões relevantes e contribuiu para maior visibilidade do nosso trabalho e das reflexões que procuramos publicar em nossos livros.

Qual a importância de a curadora Josélia Aguiar abrir espaço para as editoras independentes? O que representa para a Mazza?
Considero que a curadoria da Josélia Aguiar é fundamental para a construção de uma Flip mais diversa em diferentes sentidos. Não estive presente nas edições anteriores, mas, em 2017, conversei com muitas pessoas que estavam positivamente surpresas com o novo perfil da Flip, representado nas autoras e autores presentes, nas discussões das mesas, na presença de editoras independentes e na força da programação paralela. Espero ser uma festa positiva não apenas para a Mazza Edições, mas para muitas editoras pequenas, que têm se organizado de forma coletiva para estarem presentes e para o público que vai até Paraty acompanhar o evento. A nova formatação representa fortalecimento da Flip e a possibilidade de novas discussões a cada edição e da ampliação do número e da diversidade dos leitores.

 

 

 

.