Depois de dois meses de trabalho praticamente ininterrupto, o estudante de artes visuais Rodrigo Marques, de 29 anos, conseguiu um feito que considera uma vitória. Após produzir 1.000 pipas na fábrica que faz parte da exposição Dragão floresta abundante, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na Praça da Liberdade, ele conquistou o prêmio máximo, a pipa de ouro.

Quem entregou o certificado e o troféu a Rodrigo Marques foi o artista plástico Christus Nóbrega, autor das obras em exibição até 30 de julho no local. “A sensação é de realização e de alívio. Estou muito feliz e orgulhoso de mim. De vez em quando a gente enfrenta um vento mais forte, que nos faz bambear, mas tem que ter persistência e acreditar. No fim, tudo compensa”, diz Rodrigo.

Na fábrica instalada no pátio do CCBB desde 2 de maio e que encerra suas atividades hoje, os visitantes vestem uniformes de operários e confeccionam pipas. O contrato de trabalho estipula jornada de 15 minutos (podendo ser renovada) e até marcação de ponto. A cada 11 pipas produzidas, uma passa a pertencer a quem a produziu. As demais vão para o acervo da exposição. “A obra é incontrolável, e a gente nunca sabe como o público vai reagir. Mas em Brasília um visitante conseguiu produzir mil pipas, e a gente ficou com a expectativa de como seria em BH. Lá, ele concluiu o milheiro em três meses. Aqui, o Rodrigo conseguiu isso em apenas dois. Fiquei impressionado com a determinação dele desde o começo”, comenta Christus Nóbrega.

O artista plástico destaca a postura do vencedor e seu histórico como fatores determinantes para a conquista. “Como performer e estudante de artes, desde o princípio ele estava com esse interesse de não só produzir as pipas, como discutir, se integrar à obra e levar à reflexão sobre as relações de trabalho. E ainda tem o fato de que, no passado, o Rodrigo chegou a trabalhar numa fábrica de verdade em São Paulo. Isso é bem bacana”, diz.

Ganhar a pipa de ouro é apenas a primeira etapa de uma longa jornada para Rodrigo Marques. A partir desta semana, ele quer começar a desenvolver vários projetos, como a criação de um ateliê, o lançamento de um livro com poemas do pipoqueiro Washington Silvestre, que trabalha na Praça da Liberdade, e até fazer uma publicação sobre o processo de confecção das pipas. “Quero incorporar ao diário que fiz ao longo desses dois meses uma borboleta morta que encontrei na rua. A própria pipa de ouro lembra uma borboleta, que tem tudo a ver com mudança, renovação, e acho que esse é um momento de transformação na minha vida também”, afirma.

As pipas produzidas nas fábricas montadas em Brasília e em Belo Horizonte, que somam cerca de 10 mil exemplares, vão seguir para Curitiba, onde Dragão floresta abundante chega a partir de outubro.

 

DRAGÃO FLORESTA ABUNDANTE

Exposição de obras de Christus Nóbrega. Até 30 de julho, no Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). De quarta a segunda, das 9h às 21h. Entrada Franca.

Hoje (2), último dia da fábrica de pipas, o funcionamento o CCBB será das 14h às 21h.

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