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Mostra Benjamin de Oliveira presta homenagem à dançarina e coreógrafa pioneira Marlene Silva

Mais de 40 anos de carreira, pioneirismo, uma série de espetáculos e colecionadora de prêmios Brasil afora. Essa é a história de luta da bailarina, coreógrafa, pesquisadora e professora de dança Marlene Silva, que, de acordo com ela mesmo, tem “psicose de palco”. Currículo mais que invejável e merecedor de receber as homenagens que serão prestadas na Mostra Benjamin de Oliveira.

O festival, que ocorre desde 2013, ganhou recorte diferente para a edição deste ano. “O caráter do Benjamin sempre foi valorizar as artes cênicas, dança e teatro. Para 2018, a gente vai valorizar também a diversidade”, explica Rui Moreira, curador da mostra, que apresenta, de hoje (5) a domingo (10), no Teatro Francisco Nunes, programação com espetáculos de dança, música e oficinas. A sessão de homenagem desta noite conta com 20 bailarinos e a presença da Guarda de São Jorge de Nossa Senhora do Rosário, do Bairro Concórdia. De quinta a domingo, quatro espetáculos de dança, sendo um de Minas, dois do Rio de Janeiro e um de São Paulo.

De acordo com Rui Moreira, a escolha pelo nome de Marlene foi simples, pela importância que desempenhou na valorização da cultura afro. “Ela representa o ponto de início para uma mudança de pensamento. Ela ousou colocar o negro na cena cultural de Belo Horizonte, fazendo integração também das periferias, criando uma relação diferente entre as classes sociais”, conta Rui.

Mas a luta de Marlene Silva contra o preconceito não terminou.
Mesmo aos 81 anos, ela ainda está na ativa e com espetáculo novo para estrear em 2019. “A partir de sábado, começam as aulas comigo e com os primeiros bailarinos para selecionar o elenco que vai participar de Casa grande e senzala”, conta, acrescentando que os ensaios têm início em setembro e a previsão de estreia é maio de 2019. “Vamos passar em vários centros culturais do Brasil, uma espécie de turnê, para conhecer o trabalho dessa gente que valoriza tanto o nosso”, adianta Marlene. Outro projeto dela é remontar a Cia Danç’Arte. “Já dei aula para quase 600 pessoas. Tenho certeza que, assim que abrir, vai encher de novo. Mesmo ficando aqui em Belo Horizonte, o trabalho evoluiu muito. Um dia a gente ainda vai aparecer na televisão.
Tenho esse sonho.”

A trajetória da dançarina teve início na década de 1970, quando chegou a Belo Horizonte com o espetáculo Xica da Silva, que trazia a linguagem da dança afro para os palcos. “Quando eu cheguei aqui, em 1974, não tinha nada”, conta, lembrando que a dona de uma academia de dança se encantou com o trabalho e propôs que ela desse aulas na escola. “Foi aí que comecei fazer raízes aqui.”

Seu percurso, no entanto, foi recheada de percalços. “Eu tinha um projeto com a Belotur de apresentar nas periferias, ir lá mostrar o nosso trabalho. Mas tinha muita gente que ria, apontava e nos chamava de macaco, inclusive, macaco era das coisas mais leves que eu ouvia. Só que eu não podia deixar isso me abater. Então, lutei muito contra isso, para nossa cultura ser reconhecida. Hoje, mesmo longe do que eu queira, a situação já está bem melhor do que era”, conta.

Com relação ao preconceito, Marlene é pessimista, mas vê uma evolução considerável.
“Ele sempre vai existir, não tem jeito. Na cabeça de algumas pessoas mais radicais ele vai continuar vivo, mas me consola saber que, cada dia mais, o preconceito vem sendo sufocado, que essas pessoas são julgadas por cabeças mais evoluídas. Nossos ancestrais já foram bastante judiados. É hora de chegarmos a um nível maior, não de sermos maiores que ninguém, mas sermos tão bem vistos quanto os brancos”, diz a artista.

No Rio de Janeiro, sua companhia ganhou um concurso de dança, em que a indefinição em relação aos ritmos e estilos causou reação negativa de alguns jurados. “A culpa não é minha que eles não separaram os estilos. Teve gente que não aceitava que uma dança indígena e afro estivesse ganhando mais destaque que os clássicos. Mas foi uma sensação bem satisfatória receber o cheque das mãos do jurado que nos deu a nota mais baixa. Ele parecia inconformado”, diz.

Marlene se diz emocionada com a homenagem. “Fiquei muito feliz com o convite. De verdade.
É uma oportunidade para colocar para fora muita coisa que ficou guardada por muitos anos. Mas, mais do que isso, é uma chance para eu agradecer quem sempre me ajudou nessa caminhada. Os teatros que abriram as portas, as pessoas que foram importantes para me dar força, seja divulgando o trabalho, seja em coisas simples como cuidar da aparência.”

* Estagiário sob a supervisão do subeditor Pablo Pires Fernandes.


Diversidade no palco
Mostra Benjamin de Oliveira

» Hoje (5), 20h – Homenagem à Marlene Silva
• Com artistas negros e apresentação da Guarda São Jorge de Nossa Senhora do Rosário


» Amanhã, 19h30 – Palco Hip-Hop Danças Urbanas (MG)
• Batalha Livre de Danças Urbanas para Mulheres, performances de Raquel Cabaneco e Soul Guetto


» Quinta-feira, às 20h – Espetáculo O despertar
• Com a companhia de dança urbana Hebreus 11 (MG)


» Sexta-feira, 20h – Espetáculo Rebanhos
• Com a Cia. Sansacroma (SP). Com audiodescrição


» Sábado, 14h – Oficina de gunga
• Com Mauricio Tizumba (MG), gratuita, a partir de 14 anos


» Sábado, 20h – Espetáculo Na manha do house
• Com o grupo de dança Bonde do Jack (RJ)


» Domingo, 10h – Oficina de danças urbanas para crianças
• Com Breaking no Asfalto (MG), gratuita, a partir de 9 anos


» Domingo, 17h – Espetáculo infantil Fuzuêzinho
• Com a Companhia de Aruanda (RJ)


•  No Teatro Francisco Nunes (Parque Municipal). Ingressos para os espetáculos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). As oficinas serão realizadas em frente ao teatro.
•  Após o encerramento da programação no Teatro Francisco Nunes, funcionará o Bar da Mostra (Tambor Mineiro, Rua Ituiutaba, 339, Prado), com show musicais de sexta a domingo, às 22h. Ingressos: R$ 20. Informações: (31) 3277-6325..