Cuide dos pais antes que seja tarde é o mais novo livro do escritor e poeta gaúcho Fabrício Carpinejar. Mais do que o título de uma obra, a publicação é, antes de tudo, um grito de alerta. “É necessário repensar essa relação com os nossos pais, essa inversão necessária. O país está envelhecendo, a expectativa de vida era de 60 e já ultrapassou 80 anos. Ou seja, não dá mais para contar com o acaso e esperar que a velhice dos pais se resolva sozinha. Os filhos precisam ter em mente e no coração essa preocupação de cuidar dos pais quando eles ficarem mais velhos, precisam planejar a velhice deles”, ressalta Carpinejar, que estará na noite desta terça-feira (22), no auditório da Cemig, no projeto Sempre um Papo, onde vai lançar e debater a publicação.
O livro – que não deixa de ser uma homenagem ao pai, Carlos, de 79 anos, e à mãe, Maria, de 78 –, traz textos comoventes e inspirados sobre o tempo, a perda, o amor, o carinho e o cuidado que os filhos devem ter. “Os pais também precisam da gente e, no meu caso, essa tomada de decisão, de cuidar deles, veio só agora com eles mais velhos, beirando os 80. Uma série de acontecimentos começou a latejar na minha cabeça, mas acho que o estopim disso tudo foi quando tive que viajar por duas semanas e, quando voltei, parecia que minha mãe tinha envelhecido muito”, recorda.
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Para Fabrício Carpinejar, isso ocorre porque boa parte das pessoas quer fugir dos pais por não conseguir modificar o jeito que os enxerga. “É como se eles estivessem em dívida conosco. E do meu modo, não estou cultivando esse ressentimento, essa culpa.
O escritor também fala da importância dos avôs e dedica alguns textos a eles, destacando que o respeito e a amizade pelos mais velhos é o primeiro passo para nos tornarmos bons filhos. “São os avós que vão fazer o trailer da velhice. São eles que vão trazer para a mentalidade dos filhos, essa suavidade, esses cuidados, o olho no olho, os preparativos, a véspera. Tanto que a morte dos avós é a primeira morte dos pais”, analisa Carpinejar, pai de Mariana, de 24 anos, e Vicente, de 16, que vive em BH com ele.
Tanto Carlos como Maria se emocionaram com o novo livro do filho e destacaram que a obra não deixa de ser uma humanização da relação filial. Aliás, Carpinejar tem recebido uma enxurrada de e-mails e comentários nas redes sociais sobre Cuide dos pais antes que seja tarde. “São mensagens de agradecimento e também de espanto. Espanto porque há uma revisão dos nossos laços, a gente quer se tornar cada vez mais essencial.
SEMPRE UM PAPO
Com Fabrício Carpinejar. Hoje, às 19h30, no Auditório da Cemig (Rua Alvarenga Peixoto 1.200, Santo Agostinho). Entrada franca.
TRECHOS
“Chega uma fase em que visualizamos o tempo que nos falta. Percebemos menos vida pela vida do que a vida que já experimentamos. É quando avistamos, ao longe do oceano, um limite, uma ilha, um desembarque. Raciocinamos que faltam dez, ou quinze anos para permanecer ainda, palpável e físico, entre quem amamos.”
“Se hoje eu controlo a raiva, suporto a pressão do trabalho e negocio prazos com a minha ansiedade, devo isso à paciência para a leiteira. A leiteira de ferro amassado da infância.”
Educação não tem rascunho, cópia, arquivo de segurança, repescagem. Ou é ou nunca foi. Exige atitudes determinadas. Ou o sangue bombeia o sopro benfazejo ou o vento troca repentinamente a imagem de nossas pálpebras.”
CUIDE DOS SEUS PAIS ANTES QUE SEJA TARDE
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. Bertrand Brasil
. 112 páginas
. R$ 29,90.