Grandes inventos da humanidade surgiram na China. Um deles, a pipa, está presente em Dragão Floresta Abundante. A obra Passeio controlado convida o público para participar de uma fábrica de pipas. A ideia é promover uma aproximação com a milenar tradição do brinquedo, remetendo também às atuais condições do sistema de produção industrial e a desvalorização de trabalhos manuais e métodos artesanais.
Quem for ao CCBB vai ter a oportunidade de ‘trabalhar’ nessa fábrica, com direito a uniforme, cadastro digital, ponto e turnos de trabalho. A curadora Renata Azambuja explica que, a cada 11 pipas que o visitante/operário produzir, ele ganhará uma. “Esse número 11 é simbólico, porque a nova legislação trabalhista brasileira passou a vigorar em 11/11 do ano passado. E quem produzir 1.000 pipas (uma pessoa atingiu a marca em Brasília, onde a mostra ficou em cartaz no início do ano) vai ganhar uma pipa folheada a ouro. É algo único, justamente para que as pessoas possam ter essa experiência fabril, além de pensar e refletir sobre leis do trabalho, o modo de produção contemporâneo”, afirma a curadora. A montagem ainda apresenta centenas de pipas estampadas com fotos de chineses que já exerceram o ofício de produzir o objeto.
Outra fábrica em destaque é a de nuvens.
RESIDÊNCIA NA CHINA
Radicado há 15 anos em Brasília, o artista plástico paraibano Christus Nóbrega já está acostumado a conviver com os famosos azulejos de Athos Bulcão (1918-2008).
“Nossas obras vão conviver em perfeita harmonia. Há um diálogo entre as duas mostras. É bacana, até porque não houve nenhum planejamento. Coincidiu de estarmos expondo juntos. A ideia da minha exposição, que está espalhada pelo prédio do CCBB, é fazer com que o público viaje pelo hall, pelas salas, pela bilheteria, assim como ocorreu comigo na China. Ela não deixa de ser a história de um deslocamento”, diz o artista.
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Christus Nóbrega, que é mestre e doutor em arte contemporânea pela Universidade de Brasília (UnB), revela que, desde menino, seu imaginário é povoado pela China – como um lugar fantástico e misterioso, mas também bem inacessível. “Quando o Itamaraty fez o convite, foi muito emocionante. Não deixa de ser a realização de um sonho infantil. Mesmo tendo estudado um pouco de mandarim, pesquisado sobre a cultura e tradições chinesas, a China é muito mais do que eu imaginava. Realmente me maravilhei e me senti bastante estimulado. Acho que isso acabou se refletindo no meu trabalho.”
DIÁLOGO Um dos motivos da escolha do artista de João Pessoa para fazer a residência foi justamente a aproximação de sua arte com a China.
Uma das obras que refletem essa ponte entre o brasileiro e a China é Roupa nova do rei, que consiste numa série de autorretratos de Christus recobertos com mantos de papel recortados por artesãs chinesas. Eles são afixados sobre as imagens com o uso de alfinetes de ouro. “O autorretrato está presente no meu trabalho há algum tempo e também sempre pesquisei sobre o papel e o recorte. O resultado ficou bem interessante.”
O título da exposição se relaciona ao nome que Christus Nóbrega ganhou durante a residência. Dragão Floresta Ambulante é a tradução literal do nome Lóng Pèi Sem, que foi dado a ele por Gloria Lee, estudante de fotografia de Taiwan que o ciceroneou nesses dois meses. “Ela foi a pessoa responsável por me introduzir nos rituais da China e, no dia do meu aniversário, 28 de novembro, que acabei passando lá, Gloria me presenteou com esse nome chinês. O primeiro logograma significa dragão; o segundo, abundante; e o terceiro, floresta. Em uma tradução livre, significa aquele que faz coisas bem-aventuradas e grandiosas. A Renata, curadora, adorou e achou que casava muito bem com a proposta da exposição”, relata.
Outra obra interessante é 89 passos.
Dragão Floresta Abundante
Exposição de obras de Christus Nóbrega produzidas a partir de residência na China. Até 30 de julho, no Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). De quarta a segunda, das 9h às 21h. Entrada Franca