O artista plástico Leo Brizola cria em suas pinturas um contraponto entre estéticas do passado e abordagens do presente. Retomando a técnica de óleo sobre tela, que havia abandonado logo após o início de sua carreira, na década de 1980, ele expõe sua recente produção na Errol Flynn Galeria de Arte, em mostra aberta à visitação a partir desta quarta (25) . As obras permanecem no local até 12 de maio.
“Há cerca de seis anos, eu estava com uma turma de ateliê coletivo e uma das alunas trabalhava com óleo. Senti uma nostalgia com aquele cheiro da tinta... Retomei essa técnica ao acaso, quando bateu saudade”, diz o artista.
Na série de pinturas que compõem a mostra, Leo apresenta diversas dicotomias, a exemplo do real associado com frequência ao irreal e ao fantástico. “Coloco nas telas o real que não é o imediato, objetivo ou fotográfico. Só é real porque você percebe uma figura representável, reconhecível. Nisso, gosto de misturar a fantasia.
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O mito grego de Diana e Acteón instiga Leo há pelo menos 20 anos e tem forte impacto em seu fazer artístico. Em síntese, conta a história de um caçador que encontra uma deusa tomando banho e, por ter a ousadia de vê-la nua, é transformado por ela em um animal que acaba morto pelos cães que o acompanhavam.
“É um mito que me fascina pela atualidade. Fala do ser humano que encara a divindade sem qualquer receio, algo que me assusta. É o que a gente faz quando brinca com a genética, cria um clone ou uma comida transgênica. Você está brincando com o divino sem saber qual será a consequência, mas os resultados sempre vêm depois”, opina.
Sentimentos como agonia, ansiedade e desassossego se manifestam de forma recorrente na obra de Leo Brizola.
Ele afirma que, aliado ao caráter fantasioso de sua arte, há nela um compromisso político e de observação do mundo ao seu redor. O que Leo cria pode, por vezes, causar estranheza, já que o artista imprime nas telas as mazelas e o caos que enxerga no país e no mundo.
“Os tempos não estão fáceis. Nos últimos anos, vimos uma presidente, eleita pela maioria, ser deposta; e um ex-presidente sendo preso, contra o anseio de um mundo de gente. O que faço é imprimir um pouco desse sentimento de angústia, mas de forma bela. É como o Brasil: esse mar de corrupção em um país maravilhoso, de natureza belíssima”, analisa o artista.
“Eu sou muito pessimista, mesmo. Tenho sobrinhos e fico pensando qual será o futuro deles. Vejo uma juventude triste, neutra, sem esperanças.
LEO BRIZOLA – PINTURAS
Abertura quarta (25/4). Até 12 de maio, na Errol Flynn Galeria de Arte. Rua Alagoas, 977, Savassi. (31) 3318-3830. Aberta à visitação de segunda a sexta, das 9h às 19h, e aos sábados, das 9h às 13h..