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Turma da Mônica traz histórias com personagem negro e debate racismo

Jeremias é um dos personagens mais antigos da Turma da Mônica — a primeira aparição ocorreu em 1960. A característica mais marcante dele é ser negro. Como parte do projeto Graphic MSP, no qual o próprio Maurício de Sousa convida ilustradores e escritores para produzirem uma história e redesenharem personagens que estão no imaginário das crianças brasileiras, o integrante da Turma do Bermudão é o protagonista em uma nova graphic novel.

Jeremias — Pele foi escrita por Rafael Calça e recebe ilustrações de Jefferson Costa. No enredo, o protagonista é hostilizado por colegas de classe por conta da cor da pele. Para os autores, falar sobre esse tema em pleno 2018 é importante. “O racismo está muito presente na sociedade, e a forma como é dissimulado ou velado atrapalha o combate”, afirma o ilustrador.

Além disso, o roteirista explica que se baseou em vivências da própria infância para desenvolver a trama. “Nunca imaginei que, um dia, escreveria para algum personagem do Maurício de Sousa, mas o Jeremias combinava perfeitamente com o que queria. Como era uma criança protagonista, foi essencial encontrar memórias da minha infância e criar um contexto”, relembra.

A dupla já havia trabalhado em 2005, quando criou a HQ Feliz aniversário, feliz obituário.
Agora, Sidney Gusman, editor da MSP, fez um convite para os dois produzirem essa nova história. Segundo Rafael Calça, trazer à luz esse trabalho não foi fácil, porque muitas pessoas têm um carinho gigantesco pelos personagens da Turma da Mônica. Então, ele sentiu grande responsabilidade em recriá-los. Também existe o fato de Jeremias ser um personagem que pouco aparecia nos gibis. Assim, o público negro, como o próprio artista, tem uma expectativa dobrada, e a equipe ficou com a responsabilidade maior ainda. “Mas é a história que eu gostaria de ter lido quando moleque, então fizemos o nosso melhor”, completa Calça.

De um lado, Rafael Calça era um leitor das peripécias da “galerinha do Limoeiro” — bairro em que Mônica e sua turma vivem. De outro, Jefferson Costa não conseguia ler sempre as aventuras, mas os amigos emprestavam os gibis e ele conheceu um pouco mais dos personagens.
“Como Jeremias não é famoso na mesma proporção que seus colegas e é um personagem pouco desenvolvido, diminui a pressão de agradar ou desagradar leitores fiéis da Turma da Mônica. O desafio de trabalhar o Jeremias estava em entregar algo à altura do que essa oportunidade de representatividade merece”, ressalta o ilustrador.
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