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As areias do imperador aborda a derrocada do Império de Gaza, no Sul de Moçambique, tido como o palco mais importante da resistência da África à colonização portuguesa. Trata-se da primeira trilogia assinada pelo moçambicano. Mulheres de cinzas (2015) e A espada e a azagaia (2016) antecederam O bebedor de horizontes, sobre o fim da epopeia de captura do imperador Gugunhana pelos portugueses.
Mia Couto se diz realizado ao encerrar o projeto. Quando se lançou na empreitada, sabia que deveria vencer a tendência de se dispersar em várias direções. “Pensei que não era capaz de ter a disciplina que uma trilogia requer.
Missão cumprida, ele já trabalha em um novo romance. “É um livro muito centrado na minha infância e na figura do meu próprio pai. Revisitei, na semana passada, a minha cidade natal (Beira) – que fica no centro de Moçambique – para mergulhar no clima encantado que foram esse tempo e esse lugar”, adianta.
‘MINEIRO’ Ano passado, durante o Festival Literário de Araxá (Fliaraxá), Mia se assumiu “mineiro”, contando que sempre ouve comentários de que parece brasileiro. A “mineiridade” se dá não só pelo jeito mais discreto, mas pelas próprias referências literárias.
“Minas Gerais é um dos estados do Brasil que mais me fizeram pensar que estou em Moçambique. Há um sentido do tempo, uma habilidade de converter o mundo em histórias que me é muito familiar. Tenho algumas referências e preferências mineiras, como o próprio Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade, um dos meus mestres. Mas há outros e tenho medo de não saber dizê-los todos: Adélia Prado, Fernando Sabino, Murilo Rubião, Paulo Mendes Campos”, destaca.
Mia é o único africano integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL). Sócio-correspondente eleito em 1998, ele ocupa a cadeira nº 5, cujo patrono é o português dom Francisco de Sousa.
Biólogo por formação, o moçambicano, de 62 anos, é conhecido como lapidador da palavra.
“Vou avançando com títulos diversos ao longo da escrita. Servem-me de baliza num processo criativo que é muito caótico. Chega um momento em que eu sei o que vai ser o fim. E esse fim é que dita o princípio, que é o título”, conclui.
África briga por espaço
Mia Couto recebeu uma série de condecorações literárias. Entre elas estão o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa, e o Neustadt Prize, concedido pela Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos. Em 2018, com O bebedor de horizontes, ele disputa o Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa, que recebeu 1.364 inscrições.Este ano, registrou-se o aumento de africanos disputando o Oceanos. São 37 – 22 de Moçambique (incluindo Mia), 11 de Cabo Verde e quatro de Angola. Ano passado, editoras da África inscreveram seis livros – o angolano Pepetela chegou à semifinal.
“Parece-me evidente que prêmios de dimensão internacional aumentam o interesse pelo que se faz na África. Espero que novos nomes surjam.
O BEBEDOR DE HORIZONTES
. De Mia Couto
. Companhia das Letras
. 328 páginas
. R$ 49,90 e R$ 34,90 (e-book)
MIA COUTO
Nesta quinta-feira (12), às 19h30. Casa Fiat de Cultura. Praça da Liberdade, 10, Funcionários, (31) 3289-8900. Entrada franca, com distribuição de senhas a partir das 18h30. Capacidade: 200 lugares.