Ao lado de André Severo, ela assina a curadoria da mostra 100 anos de Athos Bulcão, que celebra o centenário do artista nascido no Rio de Janeiro que se tornou o “artista de Brasília”. A exposição, promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil, será aberta hoje ao público de Belo Horizonte. Lançada em janeiro no CCBB da Capital Federal, chega agora à filial mineira – no segundo semestre vai para os centros culturais do Rio e de São Paulo.
Qualquer leigo pode entender a fala da curadora. É só olhar para o Edifício Niemeyer, na Praça da Liberdade, ao lado do CCBB, e ver que os azulejos – hoje um tanto deteriorados pela passagem do tempo – que acompanham as curvas da edificação não formam um desenho fechado em si.
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Para a curadora, a produção de Bulcão, “embora pareça diversa, é muito interconectada. Toda a experimentação dele vai aflorar na arte e na arquitetura, que é a parte da obra mais importante, no sentido de trazer um impacto na sociedade”.
100 ANOS DE ATHOS BULCÃO
Exposição no CCBB, Praça da Liberdade, 450, Funcionários.
Os caminhos de Bulcão
• A cor da fantasia
Trabalhos figurativos são a parte menos conhecida da obra do artista. Neste núcleo, destacam-se vestes litúrgicas desenhadas para os padres da Catedral de Brasília (que nunca as usaram), como também pequenos quadros que retratam a vida de Nossa Senhora. Pintados sobre mármore, os quadros aparecem em reproduções – apenas uma peça é original. Em contraponto, o núcleo ainda apresenta imagens de carnaval, realizadas já no fim da vida, quando o artista sofria de mal de Parkinson. “A paleta (de cores) não muda. As formas são semelhantes tanto no sagrado quanto no profano”, chama a atenção o curador André Severo.
• Devaneios em preto e branco
Reúne outra parte bastante conhecida da obra de Bulcão, as fotomontagens, que integram o acervo da Fundação Athos Bulcão – a outra coleção completa que existe é do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
• É tudo falso
Assim como outros artistas de sua época, Athos Bulcão questionava a ideia da originalidade, como também da falsificação. Neste núcleo estão presentes esculturas de bichos em pequena escala, que depois ganhariam dimensões grandes na Rede Sarah de hospitais de reabilitação – foi, inclusive, no Sarah de Brasília, que traz algumas dessas obras, que o artista morreu, em 2008.
• A geometria e a poesia
As cores que o artista trabalhou são o destaque deste núcleo através de três conjuntos de obras. Máscaras, reunidas pela primeira vez a partir de coleções particulares e públicas; telas que mostram diferentes texturas criadas a partir de círculos, pontos e cruzes; e estudos de painéis de azulejos, desenhos e gravuras.
• A forma reinventada e seus modos de usar
Também um lado pouco conhecido da obra de Athos Bulcão. Revela, ainda no início da carreira, no Rio de Janeiro, sua atuação nas artes cênicas – foi cenógrafo e figurinista do Teatro Tablado, assinando espetáculos como Tia Vânia, de Anton Tchekhov. Há ainda trabalhos em capas de revistas e livros – um dos destaques é a quarta edição de O encontro marcado, de Fernando Sabino –, bem como a produção de lenços. Em 1949, ele fez um estudo para lenços, que nunca tinha saído do papel – a exposição produziu três dos seis projetos criados por ele.
• Construções/Montagens: A invenção de uma forma de integração da arte à arquitetura
Maior núcleo da mostra, reúne parte dos trabalhos mais conhecidos do artista e como eles interagiram com as cidades onde foram realizados. É de Brasília, evidentemente, a maior parte dos projetos. Mas ainda se vê a marca que ele deixou em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Natal, Recife, além de Buenos Aires (Argentina), Praia (Cabo Verde), Lagos (Nigéria) e Milão (Itália), entre outras cidades.
• Rastros de Athos Bulcão
Ocupa duas salas do CCBB. Nas paredes, convivem trabalhos em azulejo tanto de Athos Bulcão quanto de artistas que o têm como referência. “São azulejistas novos, como Pedro Verçosa e Felipe Cavalcanti e outros, de 50, 60 anos, que conviveram com eles nos encontros que promovia em sua casa, chamado Chá do Athos, como o Wagner Barja (atual diretor do Museu Nacional da República)”, conta Marina Panitz.
UM PAINEL APAGADO
Entre os 300 trabalhos expostos no CCBB está a serigrafia Pampulha II (1992). Uma versão da obra integrou o projeto arquitetônico do Shopping Del Rey desde sua inauguração, em 1991. O painel esteve em uma das entradas do centro de compras. Quinze anos mais tarde, foi encoberto. Procurada pelo EM, a atual administração do shopping, que assumiu a gestão em 2006, afirmou, através de sua assessoria, que o painel foi encoberto “após apresentar sinais de desgastes naturais do tempo, que comprometeram a forma estética criada pelo artista. A tomada de decisão sobre o processo de revitalização do espaço foi analisada por uma equipe de especialistas. Antes de optar pela substituição da serigrafia, os responsáveis verificaram a lista de obras tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)”.