Washington Olivetto não é só o maior e mais conhecido publicitário brasileiro. É também filho de vendedor – Virso, que ganhou a vida vendendo pincéis e só depois dos 40 decidiu ter um diploma de advogado. E é com o DNA de vendedor que Olivetto, aos 66 anos, lança Direto de Washington. Autobiografia nada convencional, vem bem empacotada. Foi construída a partir das histórias que cercam as diversas campanhas que criou. Casos de bastidores do mundo da publicidade escritos com riquezas de detalhes, uma prosa fluida – e uma ou outra indiscrição saborosa.
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Um caso leva a outro e a outro. No capítulo de abertura, por exemplo, Olivetto relata a fantástica festa que a Grendene promoveu em 1997 no porta-aviões Minas Gerais para alavancar os chinelos Rider, então vistos com maus olhos pelos cariocas. Essa história, que envolve uma conversa divertidíssima com um almirante, o leva a contar das campanhas que fez para a Xuxa e Gisele Bündchen para a mesma marca.
Os cigarros (“Hollywood, o sucesso”, e “Carlton, um raro prazer” são de Olivetto), os sapatos Vulcabras (quando colocou políticos como garotos-propaganda), o primeiro sutiã, os relatos vão se sucedendo. No meio dos sucessos, alguns fracassos, que, analisados ao sabor do tempo, têm também bastante graça.
O único assunto que ele não comenta é o sequestro que sofreu em 2001. De positivo, os 53 dias em cativeiro – já tratados por Fernando Morais no livro Na toca dos leões (2005), sobre a agência W/Brasil – só tiveram o abandono do cigarro, vício que o alimentava há muitos anos.
Você relata a história de quando foi até o pai de um amigo contando sobre a ideia de publicar um livro de poesia que viria com a lupa, que alteraria o sentido das frases. Dito isso, o pai de seu amigo lhe apresentou um livro de poesias de um contemporâneo do Maiakovski com uma lupa encartada, só que publicado em 1923. Não há nada muito original na publicidade?
O que a gente acha muitas vezes que é original é porque não sabe que já foi feito. Nosso deslumbramento é, no fundo, fruto de nossa ignorância. Aquele episódio foi divertido principalmente porque o pai do meu amigo tinha sido casado com a Pagu (Patrícia Galvão, escritora, poeta, militante política e musa do Modernismo) e por isso eu tinha um deslumbramento com ele. As pessoas têm que adquirir a consciência de que a publicidade, seja a que for, é um grande conteúdo. E o grande conteúdo é fruto de uma grande ideia.
Fazer publicidade se tornou mais difícil no mundo do politicamente correto?
Mais difícil está sob o ponto de vista desta “hidrofobia” que está se vivendo nas redes sociais. Nada contra, elas são maravilhosas, desde que se tenha bom senso e não se utilize da covardia do anonimato (para acusar pessoas e provocar polêmicas). Gente mais “usada” como eu não se assusta tanto com isso. No meio do politicamente correto e do incorreto existe o politicamente saudável.
Você nunca fez campanha política e no livro reafirmou isso. Mas não explicou a razão no livro. Não faz por não acreditar em políticos, por causa de caixa 2, de escândalos?
É uma sequência de fatores. Quando comecei, aos 18, 19 anos, não queria fazer porque estávamos no Brasil da ditadura militar.
Pergunta óbvia: entre tantas campanhas, qual a preferida?
Isso é muito difícil. A gente treina sempre para ser a próxima. Claro que, se você quiser dizer sobre a simbologia de uma campanha, é a do garoto Bombril, que existiu por 35 anos e entrou para o Guinness. Agora, como peça individual, a do primeiro sutiã (lançada em 1987).
TRECHO DO LIVRO
Olhei para o Maluf e disse: “Eu não aceito fazer a sua campanha, mas quero convidá-lo para fazer a minha.” Expliquei a ideia de um comercial para o 752 e disse que ele podia doar seu cachê para uma instituição de caridade que ele escolhesse. Espertíssimo, Maluf percebeu que aquela era uma oportunidade para ele ganhar mídia permitida – e de graça – na televisão. Resultado: topou na hora. Saí da casa dele e liguei imediatamente para o Pedro Grendene, que tinha acabado de comprar a Vulcabras. Pedro se empolgou com a ideia e três dias depois o comercial foi filmado. Passado algum tempo, feliz com o sucesso do comercial, Pedro, que é gaúcho, me sugeriu que fizéssemos outro, mas dessa vez com o Brizola, que era candidato à Presidência da República. Como sou treinado para raciocinar desse jeito, eu disse a Pedro: 'A ideia é ótima: fizemos o pé direito e agora vamos fazer o pé esquerdo.' Brizola também aceitou nosso convite na hora.”
DIRETO DE WASHINGTON
. De Washington Olivetto
. Estação Brasil
. 400 páginas
. R$ 49,90 (livro) e R$ 29,99 (e-book)