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Allan Sieber expõe trabalhos marcados pelo punk no Restaurante do Ano


O movimento punk mudou a vida do artista plástico Allan Sieber, de 45 anos. Contestadoras, letras hardcore o fizeram questionar dogmas religiosos ainda na pré-adolescência, quando deixou de frequentar a Igreja Adventista do Sétimo Dia. O tom provocativo dos cartuns que lhe deram fama é marcado pelo punk, assim como sua recente empreitada na pintura.

Nesta quinta-feira (5), Sieber vem a BH abrir a exposição O papel do artista, que ficará em cartaz até 3 de maio, no Restaurante do Ano. “O punk me influenciou muito quando era moleque e perpassa meu trabalho de diversas formas, da forma de criar – do it yourself (faça você mesmo) – ao caráter contestador. Foi ouvindo punk rock e hardcore que comecei a construir o meu espírito crítico”, afirma Sieber. “Não existe charge a favor, ela sempre é agressiva, truculenta, tem sempre que bater em alguém”, avisa.

O estilo contundente, quase agressivo, não foi abandonado nas experimentações em pintura. Sieber diz que tudo o que faz tem uma gênese comum. “Cartum é uma coisa didática: você está explicando o seu ponto de vista, nós tratamos os leitores quase como crianças.
O modus operandi da pintura é diferente, pois as obras permitem várias leituras. Porém, por mais que não exponha um discurso, ele está ali, entranhado”, afirma.

PURITANISMO Sexo e relações amorosas são temas que Sieber gosta de abordar. Roteirista de TV, trabalhou no programa Amor & sexo (2012), além dos humorísticos Casseta & planeta (2009) e Tá no ar (2014), exibidos pela Globo. O gaúcho ataca o puritanismo “típico da década de 1960”, que, segundo ele, vem sendo retomado.

“O sexo casual voltou a ser visto como algo errado e as pessoas são obrigadas a ter relações sólidas, monocromáticas. Hoje em dia, para um casal chegar ao consenso de ir para a cama, é preciso passar por várias instâncias. É uma verdadeira assembleia”, ironiza.

Sieber questiona também problematizações disseminadas, sobretudo, nas redes sociais. Na opinião dele, a militância na internet banalizou palavras como “abuso” e pôs fim à possibilidade de flerte.
“O pseudofeminismo das redes sociais presta um desserviço absurdo. Transformar o ‘fiu-fiu’ do pedreiro em abuso sexual, por exemplo, é uma coisa histérica, insana. Não conduz a nenhum avanço significante, como a igualdade salarial entre os gêneros ou o fim do assédio sexual no ambiente de trabalho”, critica.

O cenário político também mobiliza o desenhista. Bem antes do desfile da escola de samba Paraíso do Tuiuti, no Sambódromo carioca, em fevereiro, Sieber havia associado o presidente Michel Temer à figura do vampiro em um de seus cartuns. “Ele é muito das trevas, meio soturno, e pertence a uma gangue muito antiga da política. São pessoas que realmente sugam o Estado e, em última instância, o sangue do povo”, critica.

RELIGIÃO Caçula de seis filhos, criado no Rio Grande do Sul e radicado no Rio de Janeiro, Sieber se tornou adventista aos 8 anos, por influência das irmãs. “Virei fanático, acreditava que tudo aquilo era a pura verdade. Só me livrei disso lá pelos 20.
Já não frequentava a igreja, mas ainda tinha o sentimento de culpa, a sensação de estar fazendo algo errado”, relembra.

O artista conta que trata das “sequelas” do passado religioso em seu próprio trabalho. Histórias de infância originaram pequenas autobiografias em quadrinhos publicadas na revista Piauí. “Abordar essa fase da minha vida é uma espécie de sessão de análise, em que boto pra fora todo o lixo que absorvi naquela época”, conta, declarando-se “profundamente ateu”.

Sieber planeja lançar um livro infantil este ano. “É para pais ateus explicarem aos filhos que Deus não existe – e está tudo bem. Isso não quer dizer que não exista moral e não é por isso que o caos vai imperar”, conclui.

O PAPEL DO ARTISTA
Exposição de Allan Sieber. Restaurante do Ano. Rua Levindo Lopes, 158, Savassi, (31) 3327-6766. Abertura nesta quinta-feira (5), a partir das 19h. Em cartaz até 3 de maio. O espaço funciona de segunda a quarta-feira, das 12h às 16h, e de quinta-feira a sábado, das 12h às 16h e das 18h à 1h30..