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Curador da Bienal de São Paulo propõe novos formatos para a 33ª edição


Com mudanças à vista, a 33ª edição da Bienal de Arte de São Paulo começa a ganhar forma. A nova curadoria, a cargo do espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, divulgou 12 projetos individuais que estarão em cartaz no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera, entre 7 de setembro e 9 de dezembro.

Além de trabalhos comissionados de oito artistas – a mineira Tamar Guimarães entre eles –, uma série icônica de Siron Franco e “revisitas” a três artistas falecidos, a seleção terá sete mostras coletivas concebidas por artistas-curadores do Brasil e do exterior. A proposta é pluralizar olhares artísticos, sem se prender a um recorte temático específico.

“Não sei se falaria em transformação, mas em evolução”, define Pérez-Barreiro, PhD em teoria e história da arte pela Universidade de Essex, no Reino Unido. Especialista em arte latina e organizador da 6ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (2007), ele explica que a proposta é organizar o evento de uma forma diferente das versões anteriores.

“Pensando na Bienal como um todo, achei que faltava o momento de maior concentração, saindo da lógica de megaexposição coletiva e permitindo momentos de reflexão mais individualizados, mais para uma obra, para um artista. É um olhar diferente, alternando momentos mais coletivos e outros mais individuais”, argumenta.

Intitulada Afinidades afetivas, em referência ao romance Afinidades eletivas (1809), de Goethe, a próxima edição propõe uma relação mais livre com as obras expostas. “O espaço físico é uma das prioridades, assim como otimizar a experiência de visitar a Bienal. Teremos locais com diferentes características, uns mais abertos, outros mais fechados. Queremos preservar o espaço negativo do prédio.
O conceito é fazer o necessário para ter a melhor experiência com os trabalhos, mas também responder à necessidade humana, que não tem capacidade de absorver tanta informação de uma vez. Por isso, teremos momentos de menor densidade e áreas de descanso. As pessoas poderão se sentar, descansar e processar o que viram e o que ainda vão ver”, explica o curador. O espaço total será menor do que o utilizado nas últimas edições.

As mostras coletivas terão curadoria de sete artistas: o uruguaio Alejandro Cesarco, o espanhol Antonio Ballester Moreno, a argentina Claudia Fontes, a sueca Mamma Andersson, a norte-americana Wura-Natasha Ogunji e os brasileiros Sofia Borges e Waltercio Caldas.

MINEIRA Oito artistas terão séries comissionadas expostas: o argentino Alejandro Corujeira e os brasileiros Bruno Moreschi, Denise Milan, Luiza Crosman, Maria Laet, Nelson Felix,Vânia Mignone e Tamar Guimarães – esta última, mineira de Viçosa.

“Conheci Tamar pouco tempo atrás. Vi um trabalho dela em Madri, no Reina Sofia, uma ficção gravada dentro do museu com próprios funcionários. Era uma crítica muito sutil e poética sobre como essa instituição funciona e como as ideias são concebidas e processadas por quem trabalha ali. Tamar é muito crítica sobre a sociedade.
Mora na Dinamarca, mas sabe muito sobre o Brasil. Queria alguém com esse olhar”, diz o curador. A mineira exibirá um novo projeto para a Bienal. O público também poderá ver a icônica série Césio/Rua 57, de Siron Franco, com pinturas sobre o acidente radioativo ocorrido em Goiânia, em 1987.

A programação também terá homenagens a três artistas falecidos: o guatemalteco Aníbal López (1964-2014), o paraguaio Feliciano Centurión (1962-1996) e a brasileira Lucia Nogueira (1950-1998). “É uma contribuição muito específica da Bienal. Não podemos falar só do presente, precisamos olhar para trás e também para a frente. Queria olhar para o momento contemporâneo da década de 1990. Os três artistas morreram muito jovens e não tiveram visibilidade no Brasil”, justifica o curador, destacando que a Bienal de São Paulo “tem um compromisso enorme com a América Latina e representa muito para os países vizinhos que não têm estrutura para realizar um evento desse porte”.

Gabriel Pérez-Barreiro afirma que a crise econômica não interfere na Bienal.
“Estamos trabalhando no orçamento previsto, não sofri impactos”, garante. Os recursos somam R$ 26 milhões, R$ 3 milhões menos que em 2016.

TENSÃO Por outro lado, outras tensões – como ataques de setores conservadores a expressões artísticas – preocupam o curador, mas sem desanimá-lo. “Estamos em um momento delicado no mundo inteiro. Associo-o ao surgimento das redes sociais, o fenômeno da bolha, de uma realidade em que a sua informação fica completamente isolada das outras pessoas”, observa. “Estamos perdendo sistematicamente o sentido do comum e os ataques são muito em função disso. Pessoas se juntam na rede e criam a visão de que o outro é um inimigo. A arte trabalha justamente esse lugar de escuta, de liberdade de expressão. Sem isso não tem arte.”

O curador faz um alerta: “Temos que juntar as instituições para proteger a capacidade de colocar pessoas em contato. Não é momento de se fechar, mas de se abrir. Temos a responsabilidade de dialogar e defender esse espaço comum.
Está sendo difícil, talvez fique pior, mas não podemos perder isso de vista.”.