Carlos Henrique Ferreira tem 5 anos e ainda não sabe ler, mas não titubeia quando alguém lhe pergunta qual é seu livro preferido. “Este aqui das cobras e dos jacarés. Ah, e eu adoro lobo mau, tia. Não tenho medo dele.” O garoto é um dos frequentadores da Biblioteca Comunitária Livro Aberto, que funciona há 12 anos no Bairro Goiânia, Região Nordeste de Belo Horizonte. O espaço integra a rede de leitura Sou de Minas, Uai, coletivo de bibliotecas comunitárias que atua pela democratização do acesso ao livro, leitura e literatura.
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Amantes dos livros tomam iniciativa de disseminar conhecimento abrindo os próprios centros de leituraBH receberá feira de arte moderna em maio''Nossa produção intelectual é branca'', diz a atriz, poeta e ativista Elisa LucindaEduardo Bueno ironiza história do Brasil em programa no Youtube“Nossa rede conta com sete bibliotecas no estado, mas faz parte de um projeto nacional, o Programa Prazer em Ler do Instituto C&A. Biblioteca comunitária é aquela mantida pela sociedade civil, voltada para o enraizamento na comunidade e que tenta sempre aproximar o leitor das nossas atividades”, diz Rafael Mussolini, um dos coordenadores da Sou de Minas, Uai.
No mesmo edifício em que fica a Livro Aberto funciona a creche em que Carlos Henrique e mais 130 crianças de 1 a 5 anos são atendidas. A cada dia, uma turma se esbalda no espaço, que tem área específica para os pequenos e realiza atividades como contação e mediação de histórias, brincadeiras com fantoches e o “desafio” invente a sua história.
“Temos essa área maior para a literatura infantojuvenil justamente porque é o público em formação. Mas há cerca de 3 mil livros para todas as idades – biografias, poesia, cordel, literatura brasileira, africana, conto, biografia, folclore.
A coordenadora da creche é Pollyanna Natália (cujo nome é uma homenagem ao clássico infantojuvenil de Eleanor H. Porter), que também enfatiza o papel da Livro Aberto na comunidade do Bairro Goiânia e região. “A biblioteca é o nosso xodó. Conhecimento não é para ficar guardado.”
MUNICIPAIS A Biblioteca Pública Infantil e Juvenil (BPIJBH), criada em 1991, durante muitos anos teve como sede o antigo prédio da Fafich, na Rua Carangola, no Santo Antônio. Há dois anos, ela se mudou para o prédio que abriga o Centro de Referência da Juventude, na Praça da Estação.
A BPIJBH é uma das 21 bibliotecas mantidas pela Fundação Municipal de Cultura (FMC).
Fabíola Farias, coordenadora da rede de bibliotecas da FMC, informa que o acervo é praticamente idêntico em todas as unidades, mas algumas contam com coleções específicas, como é o caso da unidade do Cine Santa Tereza (audiovisual), do Centro de Referência da Moda (moda) e do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado (cultura popular). “As bibliotecas são uma oportunidade para que a população possa participar da cultura escrita. Tudo que é importante está escrito, seja um documento, um pensamento, uma narrativa. É papel da biblioteca permitir esse acesso à cultura escrita”, afirma.
Fabíola diz notar que há no Brasil a imagem, sobretudo entre as classes média e alta, que associa as bibliotecas a algo menor e “de pobre”. “É uma visão completamente errada. Aqui temos livros que você vai encontrar em qualquer livraria, dos clássicos aos lançamentos.
O bibliotecário Wander Ferreira, que é deficiente visual, salienta o papel inclusivo das bibliotecas. “Elas atendem todo tipo de leitor, seja com livros em braile ou audiolivros, de todas as idades e classes. A BPIJBH, por exemplo, por sua localização central, recebe muitos moradores de rua. É bem interessante e democrático.Todo muito tem acesso ao bem cultural”, avalia.
O morador de rua Bruno Fortunato, de 26 anos, frequenta a Biblioteca Infantil e Juvenil sempre que pode e se interessa sobretudo por histórias em quadrinhos. “É para passar o tempo. Gosto muito de super-herói. Quero saber mais coisas sobre a história do Brasil, sobre economia. O livro deixa a gente mais inteligente”, opina.
ITINERÂNCIA A Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais foi criada em 1954. O espaço foi construído a pedido do então governador Juscelino Kubitschek, que encomendou o projeto ao arquiteto Oscar Niemeyer. “A Biblioteca não só tem a função básica de empréstimos e consultas de livros e periódicos, como promove cerca de 300 ações por ano.
A biblioteca itinerante está presente de segunda a sexta em bairros da região metropolitana de BH. “O público que vem aqui é de 0 a 90 anos. Nosso acervo abrange 570 mil exemplares, incluindo livros, jornais, revistas, coleções de obras raras. Mas o que circula mesmo são cerca de 160 mil, incluindo a biblioteca infantojuvenil. As pessoas gostam de ler, se interessam. Mesmo com esses avanços tecnológicos, temos frequentadores assíduos”, assegura Alessandra.
Um desses frequentadores é o músico aposentado José Vicente Santos, de 66. Morador do São Gabriel, ele não se importa de pegar ônibus e metrô para ir até a biblioteca, que fica na Praça da Liberdade. “Nem sei quantas vezes fui lá. Virei piolho da biblioteca.
NA PRATELEIRA
Confira endereços de bibliotecas em BH
» Biblioteca Infantil e Juvenil de BH. Centro de Referência da Juventude, Praça da Estação s/nº, Centro,
(31) 3277-8658. Funciona de terça a sexta-feira, das
9h às 19h. Sábado,
das 9h às 14h.
» Biblioteca Centro de Referência Lagoa do Nado. Rua Ministro Hermenegildo de Barros, 904, Itapoã,
(31) 3277-7420. Funciona de terça a sexta-feira, das 9h às 17h. Sábado, das 10h às 17h. A partir de abril, vai abrir em dois domingos ao mês.
» Biblioteca Museu da Moda. Rua da Bahia, 1.149, Centro, (31) 3277-1181. Funciona de terça a sexta-feira, das 9h às 19h. Sábado, das 10h às 14h.
» Biblioteca MIS – Cine Santa Tereza. Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza,
(31) 3277-4614. Funciona
de terça a sexta-feira, das 10h às 19h.
» Biblioteca Comunitária Livro Aberto. Rua Tiziu, Beco Hum, 45, Goiânia,
(31) 3486-3049). Funciona de segunda a sexta-feira,
das 9h às 17h.
» Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais. Praça da Liberdade, 21, Funcionários, (31) 3269-1166. Funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h. Sábado,
das 8h às 12h.
A lista com as 25 bibliotecas mantidas pela Fundação Municipal de Cultura está disponível em www.bhfazcultura.pbh.gov.br Todas as bibliotecas recebem doações de livros.
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