Os 12 projetos escolhidos para 33ª Bienal de São Paulo foram apresentados nesta terça-feira (20) pela fundação que cuida do evento. Com curadoria do espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, a nova edição, que ocorre entre 7 de setembro e 9 de dezembro, traz uma alternativa ao uso de temáticas curatoriais.
"A Bienal de São Paulo tem uma longa história, modificada ao longo dos anos. Queremos um modelo mais dinâmico que venha a substituir um tema", afirma Pérez-Barreiro ao Estado. Apesar de não ter um tema, a escolha dos projetos foi guiada por um título: Afinidades afetivas - inspirado pelo romance Afinidades eletivas (1809), de Johann Wolfgang von Goethe, e pela tese Da natureza afetiva da forma na obra de arte (1949), de Mário Pedrosa. Dessa forma, a mostra, segundo o comunicado oficial, é concebida a partir de "vínculos, afinidades artísticas e culturais entre os artistas envolvidos". "Sempre achei o conceito desta obra de Goethe muito bonito, pelo seu paralelo com o modo como as moléculas se escolhem", explica o curador.
Para o espanhol, o grande desafio foi pensar numa reflexão para o modelo de bienais. "Se fala muito numa crise nas bienais, está se gerando um cansaço", pondera. "Um motivo possível é por se parecer um modelo operacional, então quis questionar esse automatismo." Para quebrar o padrão temático, Pérez-Barreiro visitou artistas, ateliês e fez a escolha baseado em afinidades.
A seleção final inclui 12 projetos individuais.
Com a série de pinturas Césio/Rua 57, do goiano Siron Franco, Pérez-Barreiro busca ainda um resgate histórico - da série artística em si e da tragédia radioativa em Goiás. "Quando comecei a entrar em contato com a arte brasileira, questionava pessoas abaixo de 40 anos e muitas não conheciam o trabalho de Franco ou o acidente", explica o curador. "Além de apresentar criações dos últimos dois anos, a Bienal tem a responsabilidade de contextualizar e contar essas histórias", diz, relacionando o acidente com outra tragédia mais recente, a de Mariana, em Minas Gerais.
Para completar a seleção final, a curadoria da Bienal de São Paulo resolveu homenagear três artistas já falecidos, com a obra pouco conhecida no Brasil. A goiana Lucia Nogueira, que trabalhou em Londres, onde morreu em 1998, é uma delas. Para a 33ª Bienal, o foco está em suas esculturas e instalações. Aníbal López, morto em 2014 aos 60 anos, um dos primeiros artistas a introduzir a performance na Gautemala, também é lembrado.
Feliciano Centurión, paraguaio radicado na Argentina, e morto em 1996 aos 34 anos, vítima da AIDS, completa a lista. Expoente da chamada geração "Rojas", Centurión trabalhava principalmente com tecidos e bordados, com o universo queer muito presente em suas obras. "Morreram muito cedo e têm uma produção madura e consolidada, mas poucas possibilidades", explica Gabriel Pérez-Barreiro. "É um esforço histórico que a Bienal pode fazer. A morte precoce traz o risco de serem esquecidos." Outro fato comum entre os três é o trabalho nos anos 1980 e 90, após a redemocratização de países latinos. "Essa geração foi muito importante, foi a saída da ditadura", afirma o curador. "Usavam a subjetividade como fator político, com mais visibilidade ao corpo, sexualidade e escolhas pessoais."