Qual é a playlist de sua vida? Quais obras você incluiria na lista de canções que marcaram sua existência e poderiam ser consideradas a trilha sonora da sua história? Essas perguntas são o ponto de partida de Playlist – Crônicas sentimentais de canções inesquecíveis, primeiro livro do jornalista Olímpio Cruz Neto, recém-lançado e disponível na plataforma digital Amazon (R$ 19,90).
Playlist é, claro, o conjunto de algumas das canções preferidas de Olímpio, apresentadas em 27 textos. Mas vai além do mero exercício egocêntrico. “Apaixonado por música desde criança”, como ele mesmo se descreve, o escritor tem muita informação para dividir, e inclui nos textos, ao lado de suas memórias afetivas, curiosidades e detalhes das composições que tornam seu livro um achado para os apaixonados pelo cancioneiro inglês, americano e brasileiro, a praia por onde Olímpio transita.
Um exemplo para convencer o leitor: ao falar de Música urbana e Música urbana 2, as escolhidas para homenagear Renato Russo, Olímpio vai às origens do rock candango, citando o seminal disco Os primitivos do iê-iê-iê, do grupo Os Primitivos, lançado em 1967; lembra o primeiro show dos Paralamas do Sucesso em Brasília, em 1983, em um festival, que contou ainda com Dado Villa-Lobos como roadie e a estreia de Cássia Eller, então vocalista da banda Malas & Bagagens; e, de quebra, conta uma visita que fez ao jovem Renato Russo acompanhado de Bi Ribeiro e João Barone.
EMOÇÕES A cada texto, fica claro esse poder da música de evocar memórias e emoções. E a ideia do autor era deixar mesmo que as lembranças surgissem, para dividi-las, especialmente, com os filhos: o recém-nascido Antônio e a jovem Clara. “Eu queria compartilhar as lembranças e os prazeres dessas canções com meus filhos. Um jeito de contar um pouco a própria vida e de mostrar a eles um pouco de quem sou e como cresci. É quase uma terapia. Acho que todos temos uma espécie de trilha sonora da existência.
As lembranças fazem com que o escritor vá de Charles Chaplin, com sua belíssima Smile, de 1936, à banda independente brasiliense The Johnny Nit Circus e a canção Killing words, de 2012. O passeio inclui ainda David Bowie (Space odity), Os Novos Baianos (Mistério do planeta), Gilberto Gil (Tatá Engenho Novo) e tantos outros.
E o lançamento em formato digital permite que o leitor reviva a força de cada uma das canções homenageadas enquanto lê sobre elas. Basta clicar nos links disponíveis ao longo das crônicas para ser direcionado a um vídeo no YouTube e apreciá-las.
Em meio a tantas obras-primas, há como apontar uma favorita, pelo menos neste momento? “A do Lennon, Watching the wheels, mexe comigo até hoje. Acho que é a minha favorita”, arrisca o autor. O também jornalista Fernando Rosa, porém, ressalta que, mais do que eleger melhores ou piores canções, o que realmente importa em Playlist é sua homenagem a obras que têm a capacidade de emocionar geração após geração.
“Em tempos de hits fugazes, sem histórias, que não chegam a durar uma semana, um livro de crônicas que tem em ‘canções inesquecíveis’ sua âncora afetiva é também um libelo em defesa da música”, escreve Rosa, editor do site Senhor F, na apresentação do livro. Defesa que Olímpio faz com conhecimento e paixão.
Três perguntas para...
Olímpio Cruz Neto
jornalista e escritor
Como você chegou a esse conjunto de canções? Por que essas?
Os textos sobre essas canções foram publicados, entre 2008 e 2014, no blog que eu tinha. Eram crônicas em cima de fatos e episódios correntes, como a morte de Michael Jackson, o aniversário de John Lennon ou de George Harrison.
Na crônica sobre Música urbana e Música urbana 2, você conta uma visita ao quarto do jovem Renato Russo com dois terços dos Paralamas. Como é que você foi parar lá?
Estudava no Colégio Objetivo, em 1983. e um dos meus amigos era Pedro Ribeiro, irmão do Bi, dos Paralamas. Por conta disso, acabei conhecendo muitos dos talentosos caras à frente das principais bandas de Brasília naquele momento: Legião, Plebe, Capital e Escola de Escândalos. Vi muitos shows. Um deles foi a primeira apresentação dos Paralamas em Brasília.
No ano passado, você divulgou um capítulo de seu livro sobre o impeachment de Dilma. Como está esse projeto?
Tenho outros quatro livros no prelo, que espero publicar até o fim do ano. Um se chama Diário da resistência — Os 128 dias do impeachment de Dilma Rousseff. Fui secretário de imprensa dela entre 2014 e 2015 e, em 2016, fui trabalhar diretamente com ela como seu assessor de imprensa, justamente no período de afastamento.