Cunhado pelo teórico Mark Dery no ensaio Black to the future, publicado em 1994, o termo se refere à produção da arte negra na música, literatura, cinema e artes plásticas. “Afrofuturismo é tecnologia, ancestralidade e ficção. Propõe um diálogo com o futuro, mas a partir do tempo presente. Partimos da arte africana e depois para a arte afrodiaspórica”, explica a multiartista Zaika dos Santos, um dos expoentes do afrofuturismo em Minas.
Zaika esclarece que há uma diferença significativa desse movimento em relação ao futurismo. No caso do afrofuturismo, trata-se do o diálogo com a tradição e a ancestralidade. Já o futurismo é um movimento artístico e literário que lançou suas bases em manifesto publicado em 1909.
Cursando artes plásticas na Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), Zaika desenvolve a pesquisa Nok é nagô, que permite investigação acadêmica sobre o conceito e experimentação em diferentes linguagens. Ela trabalha com performance, fotografia e pintura.
Na mostra Perplexa, por exemplo, realizou a performance Nagô, convidando oito trançadeiras para fazer as maiores tranças, que ela própria usou. Dessa forma, propõe uma discussão cara à mulher negra: a estética do cabelo como afirmação política de lugar de pertencimento. “Em Nagô, discuto estética, política, ancestralidade, cultura e estrutural social”, afirma.
ADINKRAS Outro projeto dela envolve trabalhos fotográficos com mulheres integrantes da Ocupação Tina Martins. Uma de suas performances evoca os adinkras, símbolos do povo akan.
Mendonça se dedica ao universo afrofuturista desde 2015, quando criou um trabalho em parceria com Zaika no projeto Afrofuturik.
O escritor Fábio Kabral parte do afrofuturismo na sua criação literária. “Não gosto de rótulos, porém hoje entendo que sou afrofuturista antes mesmo de entender que esse termo existia”, afirma. O jovem se dedica à construção de um universo literário afrofuturista de amplitude. “Parto da minha vivência e de estudos como homem preto nerd, que a vida inteira consome gibis, literatura fantástica, videogames e jogos de RPG, um homem preto iniciado no Candomblé que estuda afrocentricidade”, diz.
Acompanhe a produção do escritor Fábio Kabral no blog pessoal
Fábio tem dois livros publicados, Ritos de passagem (Editora Giostri) e O Caçador Cibernético da Rua 13 (Malê Edições). O terceiro livro, que é segundo desse universo afrofuturista, está previsto para maio.