“(A fotografia) é o único meio de expressão do instante”, disse certa vez o fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004). O conceito do “instante decisivo” de Bresson – quando elementos visuais se unem em harmonia, expressando a essência da situação que o fotógrafo presencia – forjou boa parte da produção fotográfica do século 20.
É de muitos “instantes decisivos”, boa parte deles pouquíssimo conhecidos, que foi concebida a exposição Conflitos – Fotografia e violência política no Brasil, 1889-1964. Projeto do Instituto Moreira Salles, a mostra, com pouco mais de 300 imagens, foi vista até fevereiro no espaço carioca da instituição cultural. Em abril, chega ao IMS de São Paulo.
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Exposição apresenta retrospectiva dos irmãos Nello Nuno e Eliana RangelBelo Horizonte tem neste sábado a 3ª edição do Circuito 10 ContemporâneoInhotim faz promoção de ingresso: 'Pague um, leve dois'Quadro de Picasso é vendido em leilão por R$ 222 milhõesFelipe Arco lança seu terceiro livro, 'A menina do vestido azul'A iniciativa reúne um panorama da fotografia de revoltas populares, ações das Forças Armadas e outros conflitos armados no país desde a Proclamação da República até o golpe militar de 1964. As realizadoras trabalharam com acervos de 30 coleções, públicas e particulares, além de imagens do acervo do próprio IMS (como da Guerra de Canudos, em 1897, e das revoluções de 1924, 1930 e 1932).
Há imagens de fotógrafos conhecidos, como Juan Gutierrez, que fez registros de Canudos (e inclusive morreu no conflito, como descreveu Euclides da Cunha em Os sertões) e Marc Ferrez, mais conhecido fotógrafo do país no século 19, mas também de vários anônimos amadores e profissionais.
“Às vezes, as pessoas têm uma ideia de que a fotografia é a ilustração de um texto.
“O percurso vai do retrato de um grupo posando antes da degola de um prisioneiro inimigo na Revolução Federalista, em1894, à violência a que foi submetido o político comunista Gregório Bezerra em 1964... As mudanças nas formas de representar conflitos entre 1889 e 1964 implicaram o uso de diversos materiais e suportes”, escreve Heloisa Espada no texto introdutório do livro.
Cada uma das consultoras ficou responsável por um período da mostra. A primeira parte vai até 1916, abrangendo a Revolução Federalista, Canudos e a Guerra do Contestado. A segunda vai de 1923 a 1935, reunindo a Coluna Prestes, a Revolução de 30 e a Guerra de 1932. Já a última tem início com o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954, e término com o golpe militar.
Levante Responsável pela última parte do livro, Heloisa Starling escreveu o texto As ruas da República. “Pensamos nesta ideia das ruas porque é o momento em que se muda a ação política com a ocupação do espaço público para manifestações. E mesmo quando se fala em população do campo, há momentos em que ela ocupa a cidade para se revoltar.”
Há episódios históricos recuperados através de fotos que vieram à tona com o trabalho.
“São fotos de histórias que o Brasil não conhece”, comenta Heloisa Starling, referindo-se ainda à Revolta de Trombas e Formoso (protagonizada por camponeses, nos anos 1950, no Norte de Goiás) e a tentativas de golpe por parte da Aeronáutica, fatos “poucos estudados pela história”, diz ela, acrescentando que existem conversas para trazer a exposição a Belo Horizonte. Como não há mais IMS na cidade, ela poderia ir para outra instituição, não completa, mas com pelo menos uma boa amostragem das fotografias.
CONFLITOS – FOTOGRAFIAS E VIOLÊNCIA POLÍTICA NO BRASIL 1889-1964
De Angela Alonso, Angela de Castro Gomes e Heloisa Starling
427 páginas
R$ 129,50
Câmpus Pampulha
Lançamento do livro e debate com Angela Alonso, Angela de Castro Gomes e Heloisa Starling. Mediação de Heloísa Espada. Quinta-feira (8), às 18h, no auditório nobre do CAD 1, no câmpus Pampulha da UFMG – Rua Professor Baeta Viana. Entrada franca.