Uma ode à alegria e ao sucesso. Assim pode ser definido o concerto que celebra os 10 anos da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, com duas apresentações neste fim de semana. O programa repete o primeiro encontro com o público, em fevereiro de 2008, com a cultuada Nona sinfonia, de Beethoven, além do Hino Nacional e da Suíte Vila Rica. O regente titular, Fabio Mechetti, comemora as conquistas da companhia, mesmo nestes tempos complicados para o setor cultural.
“Os resultados que mostramos ao longo desses 10 anos comprovam e justificam o investimento na criação da Filarmônica. Nós nos comprometemos a realizar um trabalho de excelência de formação de plateia e de orquestra, reconhecida como uma das melhores do Brasil. Isso tudo dá muito orgulho para os músicos, os funcionários e todos que estão aqui desde o princípio”, afirma Mechetti. O maestro paulista já esteve à frente da Filarmônica da Malásia (foi o primeiro brasileiro a liderar uma orquestra na Ásia) e atua na Sinfônica de Jacksonville, nos EUA.
Desde 2008, a Filarmônica fez 731 concertos em BH, no interior de Minas e em outras capitais, além de estados brasileiros e no exterior. Apresentou-se para 950 mil espectadores.
“Isso mostra receptividade, temos uma política de preços que não dá desculpas financeiras para as pessoas não se interessarem. Nosso concerto é mais barato do que um jogo de futebol”, defende Fabio Mechetti, ressaltando que essa relação é construída a longo prazo.
ORÇAMENTO “Questão cultural não pode ser avaliada por um dia ou outro de sucesso, mas pela trajetória respaldada pela sociedade”, afirma o maestro. Anualmente, o governo estadual repassa R$ 18,3 milhões à Filarmônica (o mesmo valor de 2016 e 2017). O orçamento para 2018, de R$ 30 milhões, será complementado pela iniciativa privada e por recursos oriundos de bilheteria.
“A Filarmônica não foi criada com a ideia de ser mais uma orquestra, mas um produto de qualidade que justificasse o investimento e com resultado comprovado. Algo que se pudesse avaliar constantemente.
Em 2015, a Filarmônica ganhou um investimento público a mais: a Sala Minas Gerais, no Barro Preto, em BH, com acústica projetada especialmente para concertos e com capacidade para 1,5 mil pessoas. A obra custou R$180 milhões.
“A população não se importa quando vê gastos e resultados. O problema é quando há gastos e não há resultados. A cultura nunca teve vida fácil, o percentual de investimento é mais baixo e, na hora dos cortes, o setor é sempre o bode expiatório. Concordo que em momentos de crise é importante avaliar tudo o que está sendo gasto, mas há o reconhecimento do bom retorno da Filarmônica, da visibilidade dada à música de Minas Gerais, inclusive no exterior. Tudo isso é investimento benfeito”, pondera o regente. De acordo com ele, a Sala Minas Gerais é o melhor espaço para concertos do Brasil.
BEETHOVEN A Nona sinfonia, de Beethoven, que encampa a Ode à alegria, se encaixa no clima de comemoração dos 10 anos da Filarmônica.
Beethoven começou a escrever a peça em 1818, 12 anos após a invasão de Berlim por Napoleão e algum tempo depois do fracasso do imperador francês em Waterloo. Mechetti explica que a Nona sinfonia faz alusão à tirania. “Beethoven o admirava antes, como libertador, mas depois se decepcionou com Napoleão, viu que se tratava de um ditador. Há um trecho, uma marcha militar, com o tempo deslocado. Em vez de ser no um, é no dois, é ‘marcha manca’, uma crítica.”
Como só foi concluída e apresentada em 1824, quando o compositor havia perdido quase toda a audição, muito se especula sobre o quanto a obra original se aprimorou durante execuções ao longo dos séculos. “Atualmente, há uma chance maior de as obras serem melhor executadas. Nossos instrumentos são melhores, nossos músicos mais bem treinados.
A obra-prima de Beethoven traz boas lembranças para o maestro. “Quando a gente acabou nosso primeiro concerto, em 2008, fomos muito aplaudidos. Uma pessoa da plateia falou pra mim que nunca tinha visto a Nona tão bem executada. Respondi que seria o pior concerto que ela veria da nossa orquestra, justamente porque foi o primeiro. Seria muito difícil ter um produto acabado já naquela época. Hoje, o time está jogando junto há mais tempo. E temos a Sala Minas Gerais, agregado importantíssimo nessa história de sucesso. Com certeza, hoje está melhor do que naquela época”, garante Mechetti.
Completam o repertório o Hino Nacional, de Francisco Manuel da Silva, e a Suíte Vila Rica, de Camargo Guarnieri. “O Hino faz parte do programa por ser uma festa da orquestra. Já a Suíte Vila Rica é uma homenagem a Minas Gerais, peça escrita sobre a antiga Ouro Preto com várias canções e danças folclóricas incorporadas ali.
Foram convidados para os concertos os cantores Gabriella Pace (soprano), Denise de Freitas (mezzo-soprano), Matheus Pompeu (tenor) e Licio Bruno (baixo-barítono). O calendário de apresentações pode ser acessado no site www.filarmonica.art.br
ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS
Concerto de 10 anos. Sábado (17), às 20h30, e domingo (18), às 19h. Sala Minas Gerais. Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto. Ingressos esgotados..