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Editora publica peças de Joaquim Cardozo, parceiro de Oscar Niemeyer em Brasília e na Pampulha

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O engenheiro pernambucano Joaquim Cardozo (1897-1978) tem lugar de honra em sua profissão: foi designado por Oscar Niemeyer como responsável pelos cálculos de vários monumentos de Brasília e do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte. Só essa contribuição para o patrimônio histórico brasileiro já o credenciaria a ser reverenciado, mas ele fez muito mais. Poeta, contista, desenhista e editor, era também dramaturgo. Suas peças foram reunidas em livro pela primeira vez em Teatro de Joaquim Cardozo – Obra completa, publicado agora pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

O leitor tem à disposição O coronel de macambira (1963), De uma noite de festa (1971), Os anjos e os demônios de Deus (1973), O capataz de Salema, Antônio Conselheiro e Marechal, boi de carro, todas elas de 1975.

Em Obra completa..., dois artigos analisam o legado de Cardozo nas artes cênicas, assinados por Manoel Ricardo de Lima, escritor e professor de literatura brasileira da UniRio, e João Denys, que leciona no Departamento de Teatro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

João Denys afirma que o fato de Cardozo ter morrido solteiro e sem filhos dificultou a difusão de sua obra, muito admirada por Carlos Drummond de Andrade, entre outros nomes de destaque da cultura brasileira.

“Ele não tinha ego, só queria produzir. Sua obra teatral é a continuação de sua poesia. A poética dele transcende, pois é ligada à matemática mais moderna e coloca o regional em dimensão universal”, explica o professor da UFPE. “Joaquim escrevia em poesia, em versos livres. Em sua produção, a expressão folclórica é uma partícula cósmica, não o universo.”

Denys observa que Os anjos e os demônios de Deus é uma peça ousada, “pois coloca os dois em pé de igualdade, sem ser maniqueísta”.

Conta que estudiosos da obra do pernambucano ficam “até fanáticos” por ele. Mas adverte: “Recife foi muito cruel com Joaquim Cardozo. Se não fossem alguns poetas e amigos, ele já teria sido totalmente esquecido.”

RAÍZES Desde muito jovem, Joaquim Cardozo se dedicou à literatura. Aos 16 anos, foi um dos editores do jornal pernambucano O Arrabalde: Órgão Lítero-elegante, no qual publicou seu primeiro conto, Astronomia Alegre. Fez caricaturas e charges para o Diário de Pernambuco bem antes de ingressar na faculdade de engenharia. Formou-se em 1930, foi professor universitário e se viu perseguido pela ditadura Vargas devido a suas posições firmes. Sem emprego, foi obrigado a se mudar para o Rio de Janeiro.

Aos 50 anos, publicou o primeiro volume de poesia, Poemas.
É também autor de Pequena antologia pernambucana (1948), Signo estrelado (1960), O interior da matéria (1976) e Um livro aceso e nove canções sombrias (1981, edição póstuma).

GAMELEIRA O engenheiro e poeta Joaquim Cardozo iniciou sua parceria com o arquiteto Oscar Niemeyer em 1941, convidado a trabalhar no projeto da Pampulha, em BH. A partir de 1956, foi responsável por cálculos estruturais das principais edificações de Brasília.

Em 1971, Cardozo enfrentou um drama: o desabamento do Pavilhão da Gameleira, em Belo Horizonte, projetado por Niemeyer com base em cálculos de sua equipe. Morreram 69 operários e 50 ficaram feridos.

Acusado de erro de cálculo, o engenheiro foi absolvido pela Justiça. Depois da tragédia mineira, enfrentou profunda depressão, que o acompanhou até a morte, em Olinda.

 

Recife foi muito cruel com Joaquim Cardozo. Se não fossem alguns poetas e amigos,  ele já teria sido totalmente esquecido

João Denys, professor de teatro da UFPE

 

 

TEATRO DE JOAQUIM CARDOZO
>> Obras completas
>> Companhia Editora de Pernambuco
>> 552 páginas
>> R$ 12,90 (e-book)
>> Informações: www.cepe.com.br

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