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O grupo de dança contemporânea Cultura do Guetto apresenta Exit

A liberdade, um dos anseios mais comuns ao ser humano, é o ponto de partida para as reflexões propostas no espetáculo Exit, do grupo de dança contemporânea Cultura do Guetto. Fruto de dois anos de pesquisa, o resultado desse trabalho poderá ser visto hoje e amanhã, às 20h, no Teatro Bradesco. A montagem aborda a liberdade ou a ilusão de que aos indivíduos são livres de fato diante de uma sociedade que impõe padrões e comportamentos.


Gladstone Navarro, coreógrafo e diretor artístico do Cultura do Guetto, explica que a entrega do grupo ao processo de criação, sem regras ou temas definidos, foi fundamental para a concepção do trabalho. “Nossa intenção era treinar o corpo e criar algo novo. A gente criou coisas sem pensar em um produto final, em entregar um resultado. Quando temos um fio condutor no nosso trabalho, não temos a liberdade total. Dessa liberdade surgiu a concepção do espetáculo: muitas vezes estamos presos a uma ideia e achamos que estamos livres”, revela Navarro.

Sistema Exit se debruça sobre a liberdade – artística e pessoal – nesses tempos em que a censura às artes voltou a ser discutida. Em seus trabalhos, o grupo Cultura do Guetto caminha na contracorrente do que Navarro entende como “liberdade assistida”.

“A ideia do espetáculo exige algo interpretativo, não são apenas traços coreográficos limpos e retos. Preciso me colocar dentro da proposta para passar aquilo que eu quero falar para a sociedade. Em Exit, além da minha interpretação, há também a interpretação de todos os dançarinos em cada passo que compõe a coreografia”, defende o coreógrafo.

Navarro acredita que não percebemos que nossas escolhas são condicionadas a diversos fatores impostos pela sociedade ou pelo Estado, que ele chama genericamente de “sistema”. Dessa reflexão surgiram questionamentos em relação à rotina e inquietações sobre a necessidade de romper o movimento automatizado e os condicionamentos. “A gente aprende desde pequeno: temos que estudar e trabalhar até aposentar para, ao fim da vida, ter um descanso digno. Nós que somos artistas percebemos isso com mais clareza, pois desde cedo somos confrontados com o argumento ‘isso não vai dar futuro’ e, muitas vezes, nem sequer somos reconhecidos como profissionais”, afirma.

O cenário tem valor significativo para a proposta do espetáculo. Várias portas, que abrem e fecham em movimento contínuo, dialogam diretamente com o título Exit (saída, em inglês).
Com isso, servem de metáfora para a importância dos caminhos que escolhemos ao longo da vida e o quanto tais escolhas são condicionadas ou impostas por determinadas circunstâncias.

Padrões Os bailarinos executam no palco movimentos repetitivos, em alusão às rotinas viciadas e aos comportamentos padronizados da sociedade contemporânea. “Exit vem para provocar uma reflexão. Não temos certezas, não trabalhamos com a afirmação, mas com a provocação”, completa o artista.

O Cultura do Guetto foi fundado em 2006, no Bairro Pompeia, na Região Leste da capital, e, desde então, forma dançarinos e coleciona prêmios em diversos festivais de dança. Sempre esteve ligado à cultura de rua e incorpora elementos do hip-hop na dança e na visualidade de seus trabalhos. No caso de Exit, grafites de Skap e Labodeco, integrantes da Rupestre Crew, compõem o cenário. A trilha sonora é assinada por Danilo Bourog, com letra original do MC Well.


O espetáculo integra a programação do Verão Arte Contemporânea (VAC), que chega ao fim neste domingo. Segundo Navarro, o projeto contribuiu para derrubar barreiras culturais em Belo Horizonte, permitindo que determinados artistas ocupem espaços da cidade que antes lhes eram negados.

EXIT

Espetáculo de dança do grupo Cultura do Guetto. Quinta-feira (1º) e sexta (2), no Teatro Bradesco (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes.

(31) 3516-1360). Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

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