Formada em administração de empresas, Tatyana Rubim fez, ainda nos primeiros anos de sua carreira, uma opção que muitos de seus pares considerariam de alto risco: empreender no teatro. A fama do setor, afinal, não é das melhores quando o assunto é lucro.
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O début mesmo ocorreu em 1997, na produção da ópera cinematográfica La serva padrona, de Carla Camurati. Pouco tempo depois, ela assumiria o Centro de Cultura Nansen Araújo, espaço mantido pelo Sesiminas. Em 2000, nasceu a Rubim Produções, empresa fundada com Afonso Borges, criador do projeto Sempre um Papo. O estilo acolhedor e organizado de produzir acabou levando a piauiense para além das montanhas mineiras. Desde setembro do ano passado, ela ocupa a diretoria-executiva do Instituto Odeon, que se tornou responsável pela gestão do Theatro Municipal de São Paulo, substituindo a administração do maestro John Neschling, encerrada sob acusação de desvio de recursos.
“Vim, entre outros motivos, porque acho que, especialmente quando a cultura passa por um momento tão delicado no nosso país, tão imerso em crises, precisamos de gente na resistência. Há hoje um discurso em voga que me agride muito, o de que é ‘melhor ter maca e hospital que arte’. Mas, é claro, a gente precisa das duas coisas.
O Teatro em Movimento existe há 17 anos. Como foi o processo de implantação dessa iniciativa e que avaliação você faz de seus resultados?
Eu me lembro que alguns produtores, quando eu ia fazer curadoria de projetos e tentava convencê-los a trazer suas peças para a cidade me diziam que Belo Horizonte era uma praça “marrenta”. Que era difícil fazer o público daí comparecer. Mas eu nunca concordei com isso. Acho que a plateia mineira é uma plateia especial, no sentido de ser muito inteligente, gostar de coisas boas e que responde à altura do repertório. Com o tempo, acabei convencendo as pessoas disso (risos). Foi um caminho árduo.
Há quem diga que o público está desaparecendo dos teatros. Você também tem essa percepção?
Sobretudo em função da crise econômica, parece que as pessoas estão optando pelo entretenimento em casa. O programa fica mais barato. Ver uma Netflix e tomar um vinho em casa é mais em conta do que sair. Então estamos lidando com uma questão econômica, claro. Mas também enxergo que há um fator motivacional nisso tudo.
Sua estratégia para fisgar o público para o teatro mudou nesses 17 anos?
Diria que o esforço hoje é três vezes maior para ter o mesmo público. Quem tem projetos na área cultural tem que ficar com o radar muito ligado para não perder conexão, contato e, principalmente, para descobrir onde está a plateia, que não está mais no teatro. A estratégia de mobilização mudou, claro. Se estou interessada em atingir uma certa categoria profissional, por exemplo, procuro fazer um corpo a corpo com influenciadores dessa categoria. Antigamente, confesso que a gente não fazia isso. Estamos quebrando a cabeça, atualmente, para descobrir o que é que as pessoas estão a fim de consumir no teatro. E não está fácil.
O público mineiro tem alguma particularidade?
O que mais me chama atenção é sempre a peculiaridade da plateia mineira. Esse é um feedback que tenho sempre da maioria das produções, sempre que elas viajam a Minas. É um público que ‘não se vende facinho’. O aplauso do mineiro é sincero. E quando ele é efusivo, ele é de verdade, é emocionante. Mesmo no interior.
Quais são seus principais desafios à frente do Theatro Municipal de São Paulo?
É uma gestão muito recente ainda, mas é um desafio apaixonante. Afinal de contas, é um espaço de muita relevância. E o que mais me motivou a vir para cá foi justamente a crise que a gente vive hoje na cultura. As pessoas, lamentavelmente, veem o trabalho no setor de forma muito equivocada. Há uma ideia de que não trabalhamos com dignidade. Com isso, então, eu me senti intimada a atuar nessa resistência, a mostrar que é o contrário, fazendo do Theatro Municipal o melhor que eu puder.
Como vê a indicação de Juca Ferreira para a Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte?
Não estou acompanhando muito a gestão do Juca, e ela também é muito recente para a gente avaliar. Estou aguardando. Quanto à indicação do nome dele, não achei nem boa nem ruim. O legado de ataque à Lei Rouanet que ele fez não me deixou muito contente à época, porque, num momento de crise, em que a gente não tinha outro recurso para alavancar a cultura, isso foi muito desgastante. Mas também é inegável o conhecimento do Juca na área cultural. Então eu só me mantenho esperando. Cenas do próximo capítulo..