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Nova biografia e filme sobre Karl Marx trazem visões mais humanas a respeito do filósofo alemão

Friedrich Engels, interpretado por Stefan Konarske, e Karl Marx, vivido pelo ator August Diehl, em 'O jovem Karl Marx', longa dirigido por Raoul Peck, em cartaz em BH. - Foto: California Filmes/Divulgação
No ano em que se comemoram os 200 anos de nascimento de Karl Marx (1818-1883), é certo que o nome do pensador alemão será recorrente em 2018. Duas novas obras inauguram o período: O jovem Karl Marx, filme do cineasta haitiano Raoul Peck, que estreou na quinta-feira (12) em Belo Horizonte, e a biografia Karl Marx: grandeza e ilusão, de Gareth Stedman Jones, recém-lançada no Brasil.

Professor de história das ideias na Queen Mary University of London, Stedman Jones busca retratar o alemão nascido em uma família judia burguesa, que se dedicou seriamente à filosofia e atuou politicamente para transformar a arcaica sociedade europeia do século 19. Desta forma, o autor escolheu fazer uma biografia com ênfase no sujeito Karl, de carne e osso, e deixou em segundo plano a miríade de visões chamadas de marxismo em nome deste mesmo sujeito. Mais do que isso, a obra é uma tentativa de distinguir o homem do mito, que, ainda hoje, é capaz de provocar reações apaixonadas para condená-lo ou para idolatrá-lo.

Curiosamente, há momentos em que o autor descreve algumas das ideias do filósofo com adjetivos enaltecedores, mas há também passagens em que parece depreciá-lo literalmente. Na entrevista que concedeu ao Pensar, o biógrafo admitiu a oscilação e disse: “Quis me afastar de qualquer tipo de hagiografia ou algum tipo de interpretação canônica sobre o que ele representa. Então, como historiador, tentei me transportar para o século 19 e responder às perguntas colocadas para aquelas pessoas naquela época”.

A resposta de Stedman Jones, claro, confirma sua visão crítica acerca do marxismo e das interpretações posteriores da obra de Karl – ele se refere ao biografado sempre pelo primeiro nome, como se para marcar a diferença do referido mito. Para o pesquisador, os escritos de Lênin têm pouca relação com as ideias de Marx. E, o que é um dos pontos centrais de sua argumentação, após a morte de Marx, o parceiro Friedrich Engels (1820-1895), responsável pela edição final de boa parte de O capital, deu a ela um caráter mais palatável e mais adequado às estratégias políticas do momento.
O autor sustenta que “Marx e Engels tinham convicções intelectuais fundamentalmente diferentes”.

Alguns especialistas em Marx chegaram a afirmar que o livro de Stedman Jones não traz nenhuma novidade ou revelação maior a respeito do personagem. No entanto, a crítica é unânime em destacar a grandeza do autor ao detalhar o contexto da época para buscar compreender o caldeirão histórico e cultural que fizeram que Karl se tornasse Marx.

A biografia é especialmente rica aos explicar as discussões filosóficas do século 19 – apontando correntes, autores e suas divergências – e as transformações da sociedade de então. A crise dos regimes autocráticos, o florescimento de movimentos sociais e a Revolução Industrial, que transformava radicalmente o regime de produção foram centrais para a constituição de uma visão de mundo própria do pensador inquieto e contraditório.

Embora assuma seu viés crítico ao marxismo, o escritor procura se distanciar das discussões teóricas sobre o tema e não esconde. No entanto, sai em defesa do Marx tardio e maduro, consciente de que as transformações ocorreram com o tempo e paulatinamente e não por meio de uma ruptura. Mesmo se afastando das polêmicas ideológicas, Stedman Jones deixa clara a importância filosófica e os avanços de interpretação a respeito do capitalismo e de outras questões feitas por Karl. Ou por Marx. 

Marx estava envolvido em um círculo filosófico bastante ativo e prolífico em sua época e incorporou elementos de diferentes autores para criar seu próprio pensamento. Como vê a evolução filosófica de Marx?
Creio que Hegel continua sendo a mais importante influência em Marx.
Em particular porque ele tomou uma postura ativa em relação à intervenção do homem na história, em vez de pensar simplesmente que o homem era uma criatura influenciada pela natureza. E creio que isso se manteve refletido em sua visão, tanto do capitalismo – e a energia humana por trás disso – como de sua atitude em relação ao movimento da classe trabalhadora. Mas ele foi claramente inspirado pela ideia de inversão da religião de Feuerbach, o que creio que Marx aplicou à ideia de fetichismo, à ideia de que o capitalismo tem uma existência à parte da existência humana. Isso é uma de suas contribuições, a crítica da religião, que pode também ser um elemento de mistificação nas próprias relações sociais do capitalismo.

Marx também estudou os gregos – Epicúrio – e Rousseau...
O que ele apreendeu com Rousseau foi o ceticismo em relação ao sistema representativo de governo, mais do que o conceito de “vontade geral”. E, portanto, a noção de que as instituições democráticas carregam algum tipo de corrupção de si próprias e da democracia.

É possível diferenciar o Marx filósofo do ativista social?
Devemos pensar que Marx, mais do que um ativista, fez a vida como jornalista. E, como jornalista, ele tinha que estar atento ao que era politicamente possível, particularmente, em cada momento específico. Se olharmos seus textos antigos, como os escritos para o Reinische Zeitung, ele demonstra seu senso de realidade como jornalista mais do que como filósofo.

Seu livro aponta que Marx tinha uma visão a respeito do Estado que se transformou com o tempo. Como são essas diversas concepções sobre o Estado?
Marx começou a pensar a partir de uma idealização da política grega.
Essa visão a respeito do poder implica que a divisão entre o Estado e a sociedade civil era resultado da destruição da política. E essa divisão entre a política e a sociedade civil foi uma das razões pelas quais o Estado deveria ser condenado. Isso parecia bom, mas o tornou incapaz de perceber as fortes diferenças entre um Estado e outro. Como ele disse em Crítica ao programa de Gotha (1891), tudo está fundado nas condições de produção em massa, o que não explica as diferenças entre o Estado inglês e o da França, por exemplo. Ou o Estado russo do existente nos Estados Unidos. Mas uma das minhas posições é a de que ele acreditava que, mesmo depois de morto, as pessoas poderiam reconstruir suas ideias, exceto sua noção de Estado. Então, acho que ele nunca resolveu o problema do Estado.

Mas ele pensou no Estado como uma necessidade, um caminho para que, depois, ele fosse abolido...
Sim, mas acho que é porque ele tinha uma visão muito arraigada a respeito da sociabilidade primitiva ou aborígene dos homens. E isso era uma perspectiva bastante próxima da de Adam Smith, a de que a primeira forma de sociedade, quando você caça e pesca e mesmo vive comunitariamente, você não precisa de um Estado. Não havia escassez, portanto, não havia necessidade do Estado. Mas, a partir do momento em que a população aumenta, passa a existir a divisão do trabalho e uma necessidade de estabelecer quem faz o quê e quanto cada um recebe por isso.
Então, o Estado se faz necessário. Mas a esperança dele, no século 19, é de que a industrialização e os grandes saltos de produção que essa industrialização gerou seriam capazes de superar a condição de escassez e de que, se isso se concretizasse, não haveria necessidade do Estado.

Como Marx construiu sua visão histórica e entendeu a possibilidade de transformação da realidade e de o homem ser um agente histórico de fato?
O ponto de partida de Marx foi extremamente teleológico. Então, na Revolução de 1848, ele tinha a expectativa de que uma revolução conduziria a outra, que seria a revolução do proletariado e assim por diante. Mas creio que ele levou algum tempo para entender que esse tipo de teleologia era simplista demais. Ele acreditava que o desenvolvimento do capitalismo iria, teologicamente, instituir uma instabilidade revolucionária. Esse foi o caminho pelo qual ele tentou teorizar o que chamou de teoria do valor (ou forma valor) nos anos 1850. No entanto, a crença de que a revolução ocorreria novamente, em 1857-58, com a nova crise do capitalismo, foi uma desilusão, porque não aconteceu. Depois, quando ele chega a O capital, nos anos 1860, ele está muito mais cauteloso sobre a realização concreta desse movimento. Acho, inclusive, que ele duvidava disso. Para ele, o capitalismo poderia eventualmente se autocorromper, mas ele deixou de pensar nisso em termos de curto prazo.
Portanto, passou a sustentar a ideia de missão ou protesto de maneira muito mais consciente do que antes.

Um dos argumentos de seu livro, que causaram certa controvérsia, é que Engels teria tornado os textos de Marx, sobretudo em O capital, mais palatáveis do que os princípios originais do autor. Pode detalhar melhor essa questão?
Acredito que Marx e Engels tinham convicções intelectuais fundamentalmente diferentes. Por exemplo, Marx nunca mencionou o termo “concepção materialista histórica” ou “concepção científica da história”. Ele nunca pensou que o capitalismo chegaria automaticamente ao fim, como Engels fez em Anti-Dühring (1878). Há razões políticas pelas quais a visão de Engels do marxismo foi aceita nos anos 1890 e se deu porque qualquer tentativa dos sociais-democratas ou outros de exercer política seria esmagada. E a ideia de que o capitalismo chegaria à autodestruição por si mesmo era uma ideia bastante competitiva naquele momento político. No meu ponto de vista, essa é a invenção do marxismo. Suponho que o próprio Marx não acreditava que qualquer crise econômica poderia levar a uma transformação revolucionária. Penso que, no fim da vida, ele acreditava que a guerra era algo muito mais potente do que as recessões econômicas para criar as condições revolucionárias.

Como vê o legado de Marx em relação à Revolução Russa de 1917 e os escritos de Lênin, o que se convencionou como marxismo-leninismo?
A relação entre Lênin e Marx é realmente uma tradição inventada. Não há uma relação, pois Lênin, claro, fez um uso muito seletivo de Marx. Uma questão que ele ignorou, por exemplo, foi a crença de Marx a respeito da sociedade russa e de que ela poderia escapar do capitalismo. É claro que o Marx dos anos 1840 tinha ideais socialistas que podem ser comparadas com as atividades de Lênin, mas o Marx social-democrata do fim da vida, para mim, tem muito mais importância do que a visão dele em 1948 que, obviamente, acabou em um completo fracasso.

Hoje, 200 anos depois do nascimento de Marx e da derrocada do projeto socialista soviético, como é possível avaliar a análise que ele fez a respeito do capitalismo? Quais são as contribuições de Marx que permanecem?
Essa análise do capitalismo é realmente uma de suas conquistas mais potentes. O que ele percebe e descreve – com brilhantismo maior do que qualquer outro pensador – é a energia, a instabilidade e a volatilidade do capitalismo. Ele soube detalhar o fato de que o capitalismo nunca fica em repouso e é inerentemente instável, mas criou, historicamente, seus próprios mecanismos para sobreviver. Para mim, isso é uma das descobertas duradouras de Marx. E isso não se aplica apenas em relação ao trabalho, mas à atividade humana em geral em termos econômicos. Por que o capitalismo é tão forte e capaz de transformar o mundo? Ele foi a primeira pessoa a descrever esse fato com enorme convicção no Manifesto comunista (1848). Essa é uma de suas conquistas que ficam ao longo do tempo. A segunda é que sua crítica à religião fornece pistas à sua crítica ao capitalismo: a ideia de ideologia, que cria uma visão distorcida da realidade e que pode ser, objetivamente, chamada de ilusão. Essas questões não são limitadas à religião, mas dizem respeito às crenças acerca da vida econômica etc. Uma de suas maiores realizações foi apontar que o capitalismo é uma criação humana e que pode ser transformado pela ação humana e não ser considerado apenas como um fato natural – como muitos neoliberais acreditam. E a terceira questão que acho importante é, se você pega O capital, é de se pensar na possibilidade de transição do capitalismo para alguma outra coisa, levando em conta que é um processo mais do que um evento. Acho que o século 20 foi dominado pelas ideias de 1917 (Revolução Russa) ou 1949 (Revolução Chinesa). Precisamos pensar em outras formas de realizar essa transição, vendo-a como um processo, o que aponta para uma ideia mais social-democrata. E isso também pode ser visto como uma conquista de Marx, de criar uma linguagem social-democrata, que ainda é usada por sindicatos, partidos políticos de esquerda e cooperativas etc.
 
UM JOVEM E BRILHANTE IDEALIST “Montesquieu cita dois tipos de corrupção. Um, quando as pessoas não observam as leis. O outro, quando a lei as corrompe.” A afirmação, dita em off por um narrador na primeira sequência de O jovem Karl Marx, é exacerbada por imagens dramáticas. Deixa evidente que o filme de Raoul Peck, em cartaz em três cinemas de Belo Horizonte, usa o texto como epígrafe para que o espectador tenha em mente a injustiça praticada pelos homens a seus semelhantes.

Diretor e ativista de origem haitiana, Peck (de Eu não sou seu negro) viveu e estudou na Alemanha, onde se aprofundou na obra de Marx por anos e por outros tantos alentou a ideia de realizar um filme sobre o personagem. Sua proposta foi se concentrar nos anos de formação, antes de qualquer mitificação ou da formulação completa do que viria a ser o marxismo. Com o recorte nos anos que antecederam a publicação de O manifesto comunista, Karl é retratado como um jovem idealista, inquieto e com um desejo missionário de superar as injustiças sociais, as contradições políticas e econômicas do nascente capitalismo industrial da Europa do século 19.

 
A narrativa tem início a partir do exílio de Karl e sua mulher, Jenny, em Paris. Na época, já era um brilhante doutor em filosofia, que ganhava a vida trabalhando como jornalista. O longa retrata de maneira bastante correta a simplicidade do cotidiano, a constante penúria financeira do casal, que, no entanto, não os afasta do idealismo e do esforço em articular ideias e ações revolucionárias com o crescente movimento dos trabalhadores em diversos países europeus.

Um dos aspectos mais interessantes da abordagem de Peck é incluir vários dos debates filosóficos da intelectualidade progressista europeia. As ideias de Marx entraram em rota de colisão com outros pensadores – Bruno Bauer, Pierre-Joseph Proudhon, Wilhelm Weitling, Joseph Moll – e,  muitas vezes, as discussões eram acaloradas. O tratamento, no entanto, é bastante didático, sem cair numa abordagem acadêmica e maçante. Os diálogos e a produção bem cuidada, aliados a boas interpretações, conseguem manter a atenção do espectador.

Uma das boas passagens é o encontro com seu futuro parceiro – e mecenas – Friedrich Engels, filho de um industrial, que no entanto tem afinidades intelectuais e compartilha o idealismo de Marx. Após um momento de tensão e estranhamento, os dois imediatamente formam uma amizade que seria prolífica para o resto de suas vidas. A figura de Engels serve também como contraponto à intimidade vivida pelo casal Marx, para mostrar as mazelas da classe trabalhadora na Inglaterra, com péssimas condições de trabalho, mão de obra infantil, enfim, as relações de exploração tão abordadas por Marx em seus trabalhos posteriores.

O filme de Raoul Peck também dá destaque às mulheres. Isso surge no apoio e incentivo incondicionais de Jenny ao marido para que ele siga lutando por seus ideais. Na coragem de uma trabalhadora que enfrenta o patrão, denunciando a perversidade na relação de trabalho, ou na visão libertária e desprovida de preconceitos da personagem Mary Burns, mulher de Engels, que sugere calmamente que o marido poderia ter filhos com sua irmã mais nova.

A linguagem adotada pelo diretor é de um filme bem comportado e absolutamente tradicional, na composição do roteiro, nos cortes e andamento das sequências, na caracterização dos personagens. Não uma ousadia cinematográfica, o que, certamente, foi uma opção para que o filme tenha maior visibilidade. A proposta de Peck, certamente, foi não alimentar o mito Marx, humanizá-lo e, ao mesmo tempo, fazê-lo como alguém viveu e se dedicou à crença na possibilidade de transformar os rumos da história a partir da própria ação. 
 
O CAPITAL HUMANO A vida de Karl Marx (1818-1883) segue, no conceito leigo geral, como alvo de preconceitos, estigmas e desinformação, tais como: ele defendia direitos dos trabalhadores, mas, na esteira da Revolução Industrial, não era um deles, e sim um intelectual burguês; para piorar, culpado como ideólogo pelas atrocidades do stalinismo e outros regimes comunistas no século 20. São incontáveis as biografias do homem, concordem com ele ou não, que mudou radicalmente o pensamento político, social e econômico da Europa, tendo como sua obra máxima O capital. Foi filósofo, economista, escritor, jornalista, revolucionário alemão e um dos fundadores do chamado socialismo científico, uma teoria para superar as desigualdades sociais pela força do trabalhador proletariado.
 
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Uma recente biografia que chegou ao mercado brasileiro é Karl Marx – Uma vida do século 19, de Jonathan Sperber, finalista do Prêmio Pulitzer. Historiador e professor da Universidade de Missouri (EUA), Sperber desconstrói os falsos conceitos. Já diz o que sua obra é logo no título – Uma vida do século 19, ao situar Marx no fim daquele século em meio à luta de classes decorrente da inovação industrial e do fim da servidão, às revoltas contra os grandes impérios europeus decadentes, ao clamor republicano, entre outras transformações, sem responsabilizá-lo pelas tragédias do século seguinte, como outros autores e críticos fizeram. Afinal, é difícil crer que Marx, materialista, mas humanista, apoiaria a carnificina posterior praticada em nome do seu ideário.

Mas o grande valor da obra de Sperber está no Marx humano, demasiado humano, para citar seu também conterrâneo e contemporâneo revolucionário Friedrich Nietzsche (1844-1900). Além do profundo compromisso com seus ideais, Marx teve uma vida dura e sofrida, muito além da desinformação de quem o detratou como pai de família numerosa que não gostava de trabalhar e dependia de herança da esposa para viver. Pelo contrário, baseado em vastos relatos e documentos do próprio Marx, Sperber desnuda o verdadeiro homem, um operário das letras que sobreviveu como jornalista com publicações em inumeráveis jornais. Que foi expulso da França, perseguido na Alemanha e se tornou apátrida por causa do pensamento revolucionário até sua morte, em Londres. A fonte principal estava nas obras clássicas da Antiguidade lidas diretamente do grego e do latim e em sua cabeceira: Hegel, Balzac, Cervantes, Goethe, Dante, Puchkin e Shakespeare.

Esse vasto conhecimento e os textos políticos, entretanto, não sustentavam sua família. Toda a sua vida foi uma luta para pagar despesas básicas como aluguel e alimentação, ou seja, ironicamente, para enfrentar as mazelas sociais do capitalismo. O socorro financeiro vinha quase sempre do parceiro e amigo Friedrich Engels (1820-1895) e outras vezes de herança de família.

Muitas também foram as tragédias pessoais. A maior delas a morte do seu filho de 8 anos, em 1855. “Já enfrentei toda a sorte de infortúnio, mas agora conheço, pela primeira vez, a face do verdadeiro sofrimento. Sinto-me alquebrado. Desde o dia do funeral, tenho sido acometido por uma dor de cabeça tão intensa que me impede de pensar, ouvir ou enxergar”, disse ele para expressar sua dor. Marx também viu outros dois filhos morreram e com apenas 1 ano, em consequência de doenças e da situação miserável da família. Junto a tudo isso, a saúde frágil, dores de cabeça e de estômago e uma febre persistente em boa parte da vida. Por trás do mito, o homem sofrido. Esse é o principal atrativo da biografia de Sperber. (Paulo Nogueira)
 
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KARL MARX: GRANDEZA E ILUSÃO
De Gareth Stedman Jones
Companhia das Letras
784 páginas
R$ 79,90 (livro) e R$ 39,90 (e-book)
 
 
KARL MARX – UMA VIDA DO SÉCULO 19
De Jonathan Sperber 
Amarilys
616 páginas
R$ 82

NO PRELO
A Boitempo Editorial planeja publicar mais de 10 títulos relacionados ao bicentenário de nascimento de Marx, além de promover debates e palestras sobre o pensador e sua obra. Entre os lançamentos, duas novas biografias: o primeiro volume de Karl Marx e o nascimento da sociedade moderna, escrita pelo cientista político alemão Michael Heinrich, e Karl Marx: uma biografia, de José Paulo Netto. Das obras do autor alemão, sairá sua tese de doutorado Diferença entre a filosofia da natureza de Demócrito e a de Epicuro. Grande estudioso da obra de Marx, o britãnico David Harvey terá seu Marx, capital e a loucura da razão econômica publicado por aqui. Outro importante pensador progressista, o historiador italiano Domenico Losurdo, discute as formas conflitantes que o marxismo tomou ao se difundir pelo mundo em O marxismo ocidental. A editora ainda lança dois volumes sobre Marx para crianças.
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