Em 2017, editoras e autores dedicados à questão racial se destacaram

Luta por mais visibilidade literária rendeu bons frutos, Lázaro Ramos vendeu 70 mil exemplares de Na minha pele

Estadão Conteúdo

 

 

Flip/divulgação - Foto: Flip/divulgação

Com Na minha pele (Companhia das Letras), Lázaro Ramos ajudou a colocar o racismo em pauta este ano. O livro, em que o ator conta sua história enquanto reflete sobre o preconceito racial, foi o mais vendido na última Festa Literária Internacional de Paraty – uma Flip que se abriu mais a autores negros, homenageou Lima Barreto e se emocionou com o depoimento espontâneo da professora Diva Guimarães, neta de escravos.


“Não sei qual será meu próximo livro ou se escreverei sobre esse assunto novamente, mas queria muito falar para o público que leu Na minha pele para não me tornar obsoleto em discussões que considero tão urgentes”, diz o ator. Desde o lançamento, em junho, ele vendeu 70 mil exemplares.


O caminho de Lázaro vem sendo trilhado, há décadas, por pesquisadores, militantes e autores que buscam espaço nas editoras, livrarias e debates para apresentar sua produção – de denúncia e combate ou apenas literária. 2017 foi ano de colher frutos.
A editora Malê, que lançou seu primeiro livro em 2016, viu duas obras de seu catálogo premiadas pela Associação Paulista de Críticos de Arte no começo deste mês: Calu: Uma menina cheia de história, de Cássia Valle e Luciana Palmeira com ilustrações de Maria Chantal, na categoria infantil/juvenil, e Dia bonito para chover, de Lívia Natália, em poesia.


“O mercado literário ainda não reflete a nossa diversidade de escritores, priorizando difundir livros escritos por homens brancos das regiões Sul e Sudeste. Na Malê, invertemos esse padrão. Priorizamos investir em publicações de escritoras negras e, em seguida, de escritores negros”, conta o editor Vagner Amaro, criador do Prêmio Malê de Literatura, para revelar novos autores.
De acordo com ele, a dificuldade ainda é a resistência das grandes redes de livrarias e de distribuidores em tornar os títulos disponíveis. “Há grande procura e sempre recebemos mensagens de leitores pedindo que nossos livros estejam nas livrarias”, conta.

DORORIDADE A grande novidade do ano que se encerra hoje e que continuará em debate em 2018 é uma palavra que a língua portuguesa e o movimento feminista acabam de ganhar: dororidade.


O conceito é explicado no livro Dororidade (Nós), de Vilma Piedade. “Dororidade contém a sororidade, mas sororidade não contém necessariamente a dororidade.

Existe uma coisa que une as mulheres, a dor cruel provocada pelo machismo e pela perda. Mas tem uma dor na mulher preta que é diferente: a dor provocada pelo racismo”, diz a autora.


A ideia é incluir a pauta da jovem negra nas questões defendidas pelo feminismo. No livro, a ativista questiona: “Nesse jogo cruel do racismo, quem perde mais? Quem está perdendo seus filhos e filhas? Todos pretos. Todas pretas. A resposta está estampada nos dados oficiais sobre o aumento do genocídio da juventude preta”. 

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