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Aos 70 anos, escritor Raimundo Carrero promete novo livro sobre a ditadura

Raimundo Carrero chegou aos 70 anos reconhecido em vida, cercado de amigos e com obras aguardadas por leitores fiéis. O escritor pernambucano, que aniversariou em 20 de dezembro, promete publicar um livro de contos e a novela intitulada Morrer pelo Brasil, ambientada na ditadura militar.


Carrero lança mão da passagem do tempo para fazer um balanço de sua trajetória. Mesmo depois de passar por dois AVCs, em 2010 e neste ano, o escritor não deixou que sua força criadora fosse abalada. Ao contrário, tem usado as experiências de convalescência em sua obra.


“Sou levado a fazer, naturalmente, uma reflexão. Sou um escritor que se considera a caminho. Ainda preciso aprofundar muito meu trabalho. Uma obra literária é algo muito sério e importante. É preciso trabalhar com rigor todos os dias”, afirma.
A rotina de Carrero é dividida entre as atividades do centro cultural que mantém no Recife, a escrita e a reflexão.
Terminou, recentemente, uma apostila para alunos de sua oficina de criação literária sobre o narrador onisciente. Atualmente, relê dois ícones da literatura: Anna Karenina e Guerra e paz, de Leon Tolstoi. “Pra mim, é dos grandes escritores do século 19”, sentencia.


A verve agregadora de Carrero, cujo centro cultural passou a centralizar oficina literária e encontros sobre sua obra, vai ganhar atenção em 2018.


“Teremos uma programação extensa com seminário sobre o romance brasileiro e depois daremos prosseguimento a adaptações de peças a partir de minha obra. A perspectiva é de exibição do meu romance Tangolomango, musical sobre o carnaval pernambucano”, anuncia.


Também está previsto o lançamento de um single com a música Tia Guilhermina, composta por Rogério Andrade e cantada por Nena Queiroga. “O álbum já está gravado e prensado com mil cópias”, avisa o escritor.

ARMORIAL A procura pela oficina ilustra o quanto a obra de Carrero se tornou importante. Desde seu primeiro livro, A história de Bernarda Soledade, a tigre do sertão (1975), ele demonstra apreço ao Movimento Armorial e por Ariano Suassuna.
Até ser reconhecido nacionalmente, o escritor driblou armadilhas associadas ao regionalismo fácil. Carrero optou por temas ligados ao abismo interior do ser humano, como sexo e loucura, a partir de personagens reconhecíveis, compostos de forma profunda e verossímil.

Por muitos anos, intercalou o ofício da escrita com a rotina no jornal Diario de Pernambuco, onde trabalhou de 1969 a 1991.


O escritor Sidney Rocha, amigo de Carrero e autor de O destino das metáforas, vencedor do Prêmio Jabuti, diz que a obra do amigo é marcada por uma longa travessia.


“Ela atravessa aquele sertão ontológico, simbólico, no começo de sua trajetória, sob influência do sol armorial, de Ariano, filia-se a preocupações coletivas, políticas, um pouco à influência de Hermilo (Borba Filho), avança nos domínios da linguagem ou das estruturas radicais como em Ao redor do escorpião… uma tarântula, talvez mais à Osman Lins. E, sem dever a nenhum dos três, instala-se nisso que se costuma chamar de contemporaneidade, mas sem deixar de fazer vibrar o mesmo micróbio de sua literatura desde o começo: o animal feito da beleza e da crueldade que vive em todos os seus livros”.


Cearense radicado no Recife e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, Ronaldo Correia de Brito celebra a relação fraterna que mantém com Carrero. “O fato de ele existir na minha vida como escritor me estimulou a escrever. Sempre o consulto, o ouço, me aconselho. Ele construiu uma obra sólida, significativa, que lhe garante um lugar na literatura brasileira”, afirma.

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