'Estou revendo as contas', diz novo presidente de Inhotim após saída de Bernardo Paz

O economista Ricardo Gazel descarta demissões, mas diz que instituto vai adequar despesas. Ex-presidente foi condenado por lavagem de dinheiro

Mariana Peixoto

O economista Ricardo Gazel diz que Inhotim ficou 'mais enxuto'. - Foto: Inhotim/Divulgação

No mesmo 27 de novembro, dia em que Bernardo Paz renunciou à presidência de Inhotim, o economista Ricardo Gazel foi referendado à frente do conselho de administração do instituto.

Antigo diretor-executivo da instituição – cargo que ocupou entre setembro de 2012 e novembro de 2013 –, Gazel, de 58 anos, nascido em Pavão, Norte de Minas, tem a missão de manter Inhotim em meio à maior crise institucional desde sua abertura, em 2006.

Paz foi condenado a nove anos e três meses de prisão por lavagem de dinheiro. A decisão, que havia saído em setembro, foi divulgada em novembro pelo Ministério Público Federal em Minas Gerais. A defesa do empresário recorreu da sentença.

 

Em 2008, Inhotim foi reconhecido como organização da sociedade civil de interesse público (Oscip). Com isso, formou-se o conselho, agora presidido por Gazel. O economista, que assumiu a função esta semana, afirma que o cargo, não remunerado, não é em tempo integral. O conselho se reúne uma vez por mês.

 

Nesta entrevista, Gazel, consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e de outras instituições financeiras, falou sobre as questões mais prementes de Inhotim. Entre elas, a oferta de Paz, que, para saldar dívida com o governo de Minas, ofereceu obras de arte de Inhotim.

O senhor voltou esta semana a Inhotim, depois de quatro anos. A situação hoje é muito diferente?
Sim, claro.

A economia brasileira mudou, estamos passando por dois anos de recessão violenta. Então, Inhotim teve que fazer adaptações. Diria que hoje ele está mais enxuto. A operação do parque está mais enxuta. Não é que deixou de fazer coisas, a qualidade para os visitantes continua a mesma. Mas hoje temos um uso maior da tecnologia. O parque, por exemplo, está todo mapeado por GPS, o que faz com que não haja necessidade de haver tantas pessoas para alguns tipos de trabalho.

Qual é a opinião do senhor sobre a proposta de Bernardo Paz de oferecer parte do acervo de Inhotim para o estado, como forma de quitar dívidas com o governo mineiro?
Os terrenos e as edificações já pertencem à Oscip. As obras de arte são do Bernardo e das empresas dele. Não participo desta negociação entre ele e o governo. O que há é uma lei (Plano de Regularização de Créditos Tributários, legislação estadual aprovada em julho) determinando que quem tem dívidas com o fisco pode pagar com ativos. O Bernardo daria uma quantidade de obras para pagar sua dívida fiscal. Acho que seria uma medida interessante tanto para a Oscip quanto para o estado, já que reduz a dependência de Inhotim a terceiros (no caso, Bernardo Paz). Isso avança ainda mais para Inhotim ser autossuficiente.

Galeria que abriga a obra de Claudia Andujar foi construída com o apoio de pessoas físicas. - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press
Com a situação atual, há previsão de novas aquisições de obras de arte?
Inhotim, até hoje, não comprou obras de arte.

Quem adquiriu foi o Bernardo, que as passou por comodato. Tivemos, recentemente, uma experiência com a galeria da Claudia Andujar (inaugurada em novembro de 2015), em que houve a participação de pessoas físicas, que contribuíram para a construção do espaço. O Bernardo, na verdade, tem obras que ainda não foram expostas, pois só uma parte do acervo está em exposição. Então, estão previstas novas exposições nas galerias temporárias com obras do acervo.

Há previsão, a curto prazo, de demissões em Inhotim? Haverá alguma mudança mais significativa na visitação?
Estou acabando de chegar, então estou revendo as contas. Obviamente, as propostas vêm da diretoria (Antônio Grassi é o atual diretor-executivo). Ao conselho cabe analisar e opinar. Qualquer instituição, seja ela cultural ou de outra natureza, tem que se adaptar aos tempos. Neste momento, temos que ver qual será a receita em 2018 para adequar as despesas. Não há previsão de demissões.

É complicado desvincular a imagem de Bernardo Paz da de Inhotim. Com a saída dele do conselho e a entrada do senhor, acredita que isso poderá mudar?

Houve muitas interpretações indevidas sobre essa ligação.

Tenho falado que uma das razões pelas quais voltei é por saber da divisão de Bernardo e suas empresas e a Oscip, para justamente evitar as interpretações indevidas.


NEGOCIAÇÃO Bernardo Paz doou ao Instituto Inhotim todas as edificações e terrenos que formam a área de visitação do centro de arte contemporânea, em Brumadinho. O empresário continua dono das obras de arte. Cedido em comodato ao instituto, o acervo conta com 1,5 mil obras – metade está exposta em Brumadinho. O empresário negocia com o governo mineiro a dívida relativa a suas atividades no setor de mineração. Ao longo de 25 anos, ela atingiu o valor de R$ 500 milhões. Renegociada por meio do Plano de Regularização de Créditos Tributários, o Regularize, a dívida de Paz com o estado caiu para R$ 150 milhões. O programa oferece descontos para que o devedor pague em dinheiro, imóveis ou obras de arte. A proposta está em estudo. Caso seja aceita, o governo de Minas passa a ser proprietário de parte das obras de Inhotim. De acordo com Antônio Grassi, diretor-executivo de Inhotim, R$ 35 milhões foram destinados à manutenção do instituto em 2017 – 90% desses recursos foram obtidos por patrocínio direto, Lei Rouanet e bilheteria.

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