Museu de Congonhas expõe 20 pinturas e gravuras de Burle Marx

Espaço ainda apresenta plano de resgate do paisagismo do Jardim dos Passos, no Santuário de Bom Jesus de Matozinhos

Márcia Maria Cruz

- Foto: Eliane Gomes/Divulgação

Roberto Burle Marx (1909-1994) mudou o paisagismo no Brasil. Cativado pela exuberância da vegetação do país e amante das pinturas, fez dos jardins suas telas. Filho da brasileira Cecília Burle e do judeu alemão Wilhelm Marx, Burle Marx viveu na Alemanha entre 1928 e 1929 e lá se encantou pelas plantas brasileiras observadas na estufa no Jardim Botânico de Dahlem, em Berlim. Fascinado pela vegetação tropical, tornou-se mais que pesquisador das espécies endêmicas de nosso país. Encontrou no paisagismo a possibilidade de colocar em diálogo a pintura e flora brasileira não apenas pela representação pictórica.

A exposição Burle Marx: entre as cúpulas brancas dos passos revela o lugar do artista modernista que, apesar do que sua obra representa para a arquitetura e o paisagismo, seu legado nem sempre recebe o cuidado que merece. Realização conjunta do Centro Cultural Sítio Roberto Burle Marx, pertencente ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em parceria com o Museu de Congonhas, a mostra traz leitura curatorial inédita da obra do artista.

 

São 20 quadros e diversas gravuras. “Burle Marx pensava jardim como se fosse tela, como se estivesse pintando.

A curadoria mostra como ele desconstrói a forma. Em suas pinturas, ele começa com o figurativo e, ao longo da trajetória, desconstrói as pinturas até chegar ao abstrato”, afirma o presidente da Fundação Municipal de Cultura, Lazer e Turismo de Congonhas (Fumcult), Sérgio Rodrigo Reis. Na abertura, na quinta-feira (30), às 20h, o Sítio Roberto Burle Marx apresentará o diagnóstico das reformas que deverão ser realizadas no jardim.

Burle Marx projetou os jardins do Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas, onde ficam os Doze profetas, patrimônio cultural da humanidade. O arquiteto-paisagista também assina o projeto do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, do jardim do Grande Hotel de Araxá e de várias casas particulares em Cataguases. “Temos dívida grande com o artista que transformou Minas Gerais, deixando cartais portais maravilhosos, que a gente não cuida. O jardim é patrimônio vivo, precisa de cuidado. A partir dessa movimentação, quem sabe outros cartões-postais se inspirem e possam resgatar esse riquíssimo patrimônio”, diz Sérgio.

Ao realizar a exposição, o Museu de Congonhas chama a atenção para os jardins que emolduram os Doze profetas. A inspiração para a mostra são os versos do poema Ocaso, de Oswald de Andrade: “No anfiteatro de montanhas/os profetas do Aleijadinho/ monumentalizam a paisagem/ as cúpulas brancas dos passos (...)”.

Sérgio destaca como Burle Marx mudou a concepção do paisagismo, valorizando a vegetação brasileira, ao contrário do que era feito até então, em que o paisagismo era uma cópia de modelos europeus. “Ele olhava para o entorno e fazia com a cor local, com as plantas espetaculares que só temos no Brasil. Antes, os jardins do santuário aqui em Congonhas tinham cercas vivas, como os jardins europeus. Nada a ver com a nossa realidade.”

Sérgio observa que Marx cria uma espacialidade própria para destacar os profetas. “O projeto limpa o lugar, liberando a paisagem, emoldurando as laterais para que se possa chegar mais perto dos profetas, mais perto do santuário.” O jardim é composto de ipês-amarelos, palmeiras, cipós-de-são-joão e gramas batatais – vegetação que mistura mata atlântica com a caatinga. “Quando olhamos os jardins do alto, vemos o traçado de linhas curvas, bem semelhantes ao que vemos também no Conjunto Arquitetônico da Pampulha”, diz.

No Brasil, entre os 13 locais e conjuntos considerados patrimônio cultural mundial pela Unesco, o Museu de Congonhas é o primeiro a receber o título de sítio histórico no país.
“A ideia é que o museu potencialize a conversa com as tradições, a cultura, os patrimônios material e imaterial. Tudo conversa com o entorno. O museu está inserido dentro do conjunto do Santuário de Bom Jesus de Matozinho de Congonhas.”

BURLE MARX: ENTRE AS CÚPULAS BRANCAS DOS PASSOS
Exposição de pinturas, gravuras e esculturas do Centro Cultural Sítio Burle Marx (RJ). Abertura quinta-feira (30), às 20h, no Museu de Congonhas (Alameda Cidade de Matosinhos de Portugal, 77, Basílica, (31) 3732-2526). De terça a domingo, das 9h às 17h. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Quarta, das 13h às 21h, com entrada franca. Até março de 2018

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