Efrain Almeida e Regina Vater abrem exposições na capital

Sediadas na Galeria dotART, 'Desnatureza' e 'Estórias do Jabuti', artistas lançam olhar para a natureza

Márcia Maria Cruz

Obra de Efrain Almeida. - Foto: Eduardo Ortega/Divulgação

Duas exposições na Galeria dotART, com abertura nesta terça-feira (28), lançam olhar atento para a natureza. Efrain Almeida mostra em esculturas cenas naturais do cotidiano. Regina Vater apresenta série de desenhos inéditos, feitos em 1985, em Estórias do jabuti –, uma leitura, a partir da cosmologia indígena, da dimensão do tempo.

Na Galeria 1, Desnatureza, de Efrain Almeida, faz referência a galhos, beija-flores, ninhos e cisnes. São sete esculturas, sete aquarelas e uma cabeça-escultura. A cabeça, um autorretrato, fica pendurada num pingente ao estilo dos rosários. Para esse trabalho, o artista buscou referências na tribo peruana munduruk, conhecida pelo ritual de reduzir cabeças de inimigos capturados, a partir de mumificação, que eram exibidas como troféu de guerra. Cabeça-escultura é metáfora que remete à figura do criador. “O artista é exibido, tem muita vaidade.

É uma ironia mostrar a cabeça de um artista como troféu”, diz Efrain.

 

Ele também relança o livro homônimo pela Editora Cobogó, que apresenta sua trajetória artística. Com organização de Ricardo Sardenberg e texto de Moacir dos Anjos, a publicação percorre 20 anos da carreira de Efrain. Suas esculturas tratam de forma sutil e silenciosa questões relacionadas ao corpo, à sexualidade e à religião.


A maior parte dos trabalhos foi criada durante residência artística em Portugal. “No Porto, temos uma quantidade imensa de parques e reservas naturais, mesmo em contextos urbanos. Depende do tipo de olhar que lançamos para a cidade”, diz, ressaltando que as cenas não foram escolhidas pela beleza, pelo caráter bucólico ou romântico. “São imagens da natureza que ganham importância pelo contexto”, diz.

Uma das esculturas mostra o cisne adolescente na posição do primeiro voo. “Interesso-me pelo que as imagens podem gerar de questionamento. O primeiro voo pode remeter à mudança de fase, transformação, algo prestes a ocorrer”, diz Efrain. A proposta do artista é suscitar reflexões para além da imagem.

 

 

Na Galeria 2 e na Sala Pensando, Regina Vater apresenta 28 desenhos feitos em Nova York, onde morou entre 1984 e 1985. Nos grafites, ela procura a “conhecença” vital de seres visíveis e invisíveis, a partir da cosmologia indígena. Interessada na dimensão temporal, Regina recorre à representação do jabuti, que traz carga mitológica relacionada ao tempo. “Na arte, trabalhamos com as três dimensões espaciais. Queria trabalhar com a dimensão tempo e fui procurá-la nas cosmologias africana e indígena.”

Uma das leituras de Regina foi O tempo e eu, de Luís da Câmara Cascudo.

“O jabuti é a explicação do tempo. Ele é o Sol e os bichos oponentes são a Lua. Sol e Lua apostam um com outro”, diz. A artista destaca que a cosmologia indígena tem explicação profunda e, ao mesmo tempo, simples. “São fábulas que qualquer criança entende, mas que permitem diferentes leituras dos adultos”, observa. Trabalhos inspirados nas cosmologias indígenas deram a Regina o prêmio Guggenheim Fellowship, em 1981.

DESNATUREZA E ESTÓRIAS DO JABUTI
Trabalhos de Efrain Almeida e Regina Vater. Abertura nesta terça (28), às 18h, na Galeria dotART (Rua Bernardo Guimarães, 911, Funcionários, (31) 3261-3910), com lançamento do livro Efrain Almeida (Editora Cobogó). Em cartaz de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h; sábado, das 9h às 13h. Entrada franca.

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