A morte de João Guimarães Rosa, em novembro de 1967, foi o ponto final da trajetória pessoal do escritor mineiro. Porém, começava ali o imaginário criado em torno de sua obra. Cinquenta anos depois, o sertão roseano continua a ganhar palavras, cores, vozes, acordes e gestos de outros artistas. Para celebrar esse legado, o Palácio das Artes receberá exposições, shows e debates, entrelaçando outras expressões artísticas à literatura do autor de Grande sertão: veredas.
A Ocupação Rosa encantado vai até domingo, 03 de dezembro . A abertura está marcada para esta segunda-feira (27), às 19h, com a exposição Nonada. Travessia,. Em cartaz na Galeria Mari’Stella Tristão, a mostra reúne trabalhos de Domingos Mazzilli e Letícia Panisset. As instalações remetem ao universo do sertão, com artefatos típicos da narrativa construída nos livros, trazendo também uma proposta de reflexão sobre o consumo da carne bovina.
Na terça-feira (28), será a vez da primeira atração musical da Ocupação.
“Meu primeiro contato com Guimarães Rosa foi Grande sertão: veredas, em 1978. Era funcionário público do DER (Departamento de Estradas de Rodagem) e li o livro escondido, enquanto trabalhava. Dessa leitura fiz a minha primeira música, Coração brasileiro, que é o meu ponto de partida profissional”, conta Celso Adolfo. O relato do compositor é só mais uma prova da atemporalidade do escritor mineiro.
SURPRESA A ligação de Celso com Guimarães foi reforçada em 2012, quando o compositor foi a Itaguara, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, participar da inauguração do Museu Sagarana.
Celso Adolfo planeja gravar o CD Cirandas de Sagarana. E promete uma novidade: “Quero doar toda a tiragem do disco para o Museu Sagarana. Não haverá comercialização desse trabalho.”
Do ponto de vista literário, a Ocupação programou um encontro de especialistas para quarta-feira (29). Eneida Maria de Souza, Georg Otte, Wander Melo Miranda e Heloisa Starling, professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), vão debater a importância da obra roseana em diferentes vertentes do conhecimento.
ESTÓRIAS Na sexta-feira (1º/12), a escrita sairá dos livros para ganhar som.
“Guimarães Rosa tem a característica de ser, ao mesmo tempo, regional e universal. Ele parte do universo localizado ali no Norte de Minas, Bahia e Goiás para tratar de temas do ser humano de qualquer parte do mundo, pois fala de conflitos existenciais maiores. Por isso suas histórias prendem muito”, explica Elisa.
A criadora do Miguilins vai narrar trechos de Grande sertão: veredas e de outros livros do escritor, no Café do Palácio, a partir das 19h. “Ele tinha um jeito muito próprio de escrever, traçava a oralidade, preocupava-se com o som da palavra, o ritmo. Dita em voz alta, sua obra é mais fácil de ser apreciada e assimilada. Muita gente se anima a ler (Guimarães Rosa) quando ouve a gente, porque não é uma leitura tão fácil. Temos a experiência concreta de que, falada em voz alta, a obra dele toca mais forte”, explica.
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No Grande sertão de Bia, o público interage com o cenário, enquanto Caio Blat (Riobaldo) contracena com Luíza Lemmertz (Diadorim). Hermógenes é interpretado Leon Góes. No Grande Teatro, a diretora conversará com o público sobre o processo de criação da peça, cuja trilha sonora ficou a cargo de Egberto Gismonti. O compositor e multi-instrumentista vai encerrar a Ocupação Rosa, no domingo (3/12), acompanhado de Nivaldo Ornelas (saxofone), Rafael Martini (acordeom) e Felipe José (violoncelo).
Gismonti e Bia Lessa fazem dobradinha: enquanto ele toca piano, ela vai ler o texto que escreveu sobre Grande sertão: veredas. “O motivo da diversidade de recortes e manifestações da Ocupação é a continuidade de Rosa expandido, que apresentamos em 2016, nos 60 anos do Grande sertão. Resolvemos continuar agora dado o sucesso da participação dos roseanos, que não são poucos na cidade. Com esta semana cheia, eles poderão fazer plantão aqui no Palácio das Artes”, afirma Augusto Nunes-Filho, presidente da Fundação Clóvis Salgado.
OCUPAÇÃO ROSA ENCANTADO
Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. Toda a programação tem entrada franca. Informações: (31) 3236-7400
Programação
SEGUNDA-FEIRA
» Exposição Nonada.
Obras de Domingos Mazzilli e Letícia Panisset. Galeria Mari’Stella Tristão. Abertura às 19h. De terça-feira a sábado, das 9h30 às 21h; domingo (último dia), das 16h às 21h
TERÇA-FEIRA
» Show Em noites do sertão
Com Titane. Sala Juvenal Dias, às 20h
QUARTA-FEIRA
» Mesa literária
Com Eneida Maria de Souza, Georg Otte, Wander Melo Miranda e Heloisa Starling. Teatro João Ceschiatti, às 19h
QUINTA-FEIRA
» Cirandas de Sagarana
Show de Celso Adolfo. Sala Juvenal Dias, às 20h
SEXTA-FEIRA
» Café literário
Com Elisa Almeida, contadora de histórias. Café do Palácio das Artes, às 19h
SÁBADO
» Bate-papo sobre a peça Grande sertão: veredas
Com Bia Lessa. Grande Teatro do Palácio das Artes, às 18h
» O crivo
Espetáculo de dança Com Ateliê do Gesto (GO). Grande Teatro do Palácio das Artes, às 21h
DOMINGO
» Show
Com Egberto Gismonti, Nivaldo Ornelas, Rafael Martini e Felipe José. Participação de Bia Lessa. Grande Teatro do Palácio das Artes, às 20h.