Araxá - A relação entre a língua, a leitura e a utopia é o tema da sexta edição do Festival Literário de Araxá (Fliaraxá) que está acontecendo até domingo (19) na cidade do Alto Paranaíba mineiro. No terceiro dia do evento, os convidados não deixaram de debater sobre esses assuntos, como no encontro que aconteceu na noite desta sexta (17) entre o jornalista, escritor e diretor de redação do Estado de Minas, Carlos Marcelo, o curador do Festival Internacional de Literatura de Óbidos (FOLIO), em Portugal, José Pinho, e os escritores Sérgio Abranches e Lucrécia Zappi.
Carlos Marcelo - que lançou recentemente sua primeira obra de ficção, Presos no paraíso, lamentou que o Brasil está cada vez mais se distanciando das palavras e que, uma das utopias sonhadas seria a de, mais do que se tornar um país de escritores, um país de leitores. “Às vezes, tenho a impressão de que a vida de um escritor é quase distópica”, frisou. Por falar na temática, o jornalista e autor da biografia Renato Russo - O filho da revolução (2009) e de O fole roncou! Uma história do forró - declarou que escrever um livro sobre Fernando de Noronha, cenário de sua nova publicação, também não deixa de ser uma utopia.
“Eu comecei a escrever o livro sem nunca ter ido lá. Só conheci Noronha depois. Sempre ouvi algumas histórias de lá e me interessava pelo lado prosaico desse arquipélago brasileiro.
A história é um romance policial, gênero que vem ganhando bastante espaço nos últimos anos no Brasil e que, de acordo com Carlos Marcelo, requer muita imaginação. “A competição com a realidade , especialmente a policial, é desleal. A ficção perde de 7x1 justamente pela banalidade e crueldade dos crimes que temos acompanhado. Nada pode ser mais cruel do que um bebê levar um tiro dentro do útero da mãe. Enquanto a literatura tentar concorrer com a realidade, ela vai se dar mal. O caminho não é por aí”, ressaltou.
Outro destaque do dia foi uma palestra de um dos maiores nomes da música brasileira, João Donato, que falou sobre o seu processo de criação e ainda tocou alguns de seus sucessos como Bananeira, A paz e A rã. “Estou em um evento de literatura, mas digo que o processo de criação de uma canção é muito parecido com o de um livro. Não tem hora para as ideias surgirem. Já fiz música quando ouvi o assobio da uma canoa atravessando o rio, quando o celular tocou na plateia”, frisou.
Donato ainda revelou que sua primeira obra nasceu quando ele tinha 7 anos de idade e ainda morava em Rio Branco, no Acre, onde nasceu. “Eu me apaixonei por uma menina que tinha 8 anos, Nini. Fiz a letra e a música. Há uns cinco anos, eu a revi em Brasília e foi muito interessante”, recordou. Durante a apresentação da música A paz, o músico de 83 anos brincou com a intérprete de Linguagem de Sinais - que estão presentes em todas as mesas do Fliaraxá - e começou a imitá-la. “Vou contratá-la para todos os meus shows”, avisou entre risos.
O Fliaraxá segue até domingo. Ainda vão passar pelo festival nomes como o do jornalista e escritor Zuenir Ventura, do ator Pedro Cardoso, que está lançando seu primeiro romance, da atriz e escritora Bruna Lombardi - que irá participar neste sábado (18) de um debate ao lado do homenageado desta edição, o autor moçambicano Mia Couto, e do ministro da cultura, Sérgio Sá Leitão.
Confira a programação completa no www.fliaraxa.com.br
*A repórter viajou a convite da Fliaraxá.