Drummond é lembrado com homenagens em BH

115 anos de nascimento do poeta itabirano ganharam celebração inédita em BH. Programação vai até hoje

Márcia Maria Cruz


Versos de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) ecoaram pelas alamedas da Praça da Liberdade na tarde de terça-feira (31).
Muita gente foi até lá prestar homenagem ao poeta itabirano em comemoração aos seus 115 anos de nascimento.
É o caso da estudante Dara Borges, de 19, que integra o projeto Palavra Viva. “É uma oportunidade para conhecermos um pouco mais sobre Drummond. Comemorar é uma maneira de descobrir mais a respeito de quem admiramos”, disse. A jovem leu o poema Cidade prevista, do livro A rosa do povo (1945). “Fala de um mundo sem fronteiras, onde pessoas diferentes convivem de forma de harmoniosa. É um sopro de esperança nestes tempos”, completou.

A ocupação #Drummond115, iniciativa conjunta do Governo de Minas, Codemig e projeto Sempre um Papo, também levou artistas à praça. Seis bailarinos do grupo Primeiro Ato apresentaram performance inspirada no espetáculo Sem lugar (2002).
“O poeta se dizia uma pessoa sem lugar. Fizemos a montagem no centenário de Drummond”, recordou-se a coreógrafa e diretora do grupo, Suely Machado. Leitora contumaz de Drummond, ela levou para a praça obras raras do itabirano: As impurezas do branco; As palavras que ninguém diz; A cor de cada um, História para o rei.

Os bailarinos andavam pela praça equilibrando os livros sobre a cabeça. Quando os livros caíam, eles os recolhiam do solo e escolhiam um poema para declamar. A performance contou com a apresentação da bailarina Marcela Rosa, cujo vestido imitava as ondulações do calçadão de Copacabana, e Pablo Ramon, cujo figurino fazia referência a uma vaca malhada. “As roupas dos bailarinos chamam a atenção para os dois lugares de Drummond. Ele dizia que, na roça, lembrava-se do elevador e, no elevador, lembrava-se da roça. Drummond saiu de Itabira e foi para o Rio de Janeiro, mas lá tinha saudades da cidade natal”, diz Suely.

ESPÍRITO CRIATIVO Amante da literatura, Mariana Melo, de 27, criou o perfil @palavrafugaz no Instagram para falar de poesia. Ela era uma das pessoas que atenderam ao chamado para ler Drummond na praça. Levou a antologia lançada em 2015 pela Companhia das Letras Carlos Drummond de Andrade. Nova reunião de 23 livros de poesia. “É o poeta de quem mais gosto. Todos os anos comemoro o aniversário dele.
Celebro o espírito criativo que tivemos a sorte de ter nascido em Minas”, afirma. O que mais a seduz na poesia drummondiana são os contrastes. “Ele começa com o otimismo e nos leva ao pessimismo, ou o contrário. Ele não dá respostas e nos faz movimentar. Drummond abre o caminho”, avalia.

O produtor e escritor Afonso Borges, do Sempre um Papo, afirmou que a ideia era que as pessoas pudessem ir para a praça ler um dos maiores poetas brasileiros. “Um evento absolutamente pacífico, em que as pessoas fazem uma leitura silenciosa, cada um no seu canto.” Ele afirmou que, num momento em que há tentativas de censura às artes, é importante incentivar a leitura como uma forma de combater o obscurantismo. “Em meio ao cenário de beligerância, o que nos faltam são respostas civilizatórias. A leitura é revolucionária”, disse.

Artista interage com leitor de Drummond na Praça da Liberdade - Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS

Também ontem pela manhã, o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), entregou os prêmios do concurso Versões de Drummond, em que alunos da rede estadual de ensino gravaram vídeos de poesia baseadas em crônicas de autoria do itabirano.

Os vencedores foram Andreia Aparecido de Oliveira, da Escola Estadual José Brandão, de Caeté; Deisy Marcelle Laurena Martins Silva, da Escola Estadual Nossa Senhora da Lapa, de Virgem da Lapa; Gabriela Ramos de Souza Carvalho, da Escola Estadual Urquiza Diniz Chagas, do distrito de Palmital dos Carvalhos, em Senhora dos Remédios; José Luis Silva Ávila, da Escola Estadual Licas de Lima, de Nepomuceno, e Raissa Aparecida de Oliveira, da Escola Estadual Padre José Espíndola, de Pimenta.

“Essa é uma cerimônia singela, mas muito importante. Todos que estão aqui de alguma forma conhecem e apreciam a poesia de Carlos Drummond de Andrade e, certamente, não existe outro poeta que tenha simbolizado melhor a alma mineira do que Drummond. Tem um verso dele tão singelo que eu vou repeti-lo: ‘A vida flui como água, como água se renova.
Se a vida me foge, afago-a em casa esperança nova’. Assim, deixo a esperança de que os versos de Drummond continuem nos iluminando por mais 115 anos”, afirmou o governador..