Escritores da nova geração usam recursos atuais para se aproximar do público

Sem se fixar num estilo literário ou num público-alvo, eles abordam falam sobres redes sociais e temas do momento

Isabella Andrade
- Foto: Kléber Sales/CB/D.A.PRESS

Especial para o EM

 

Entre o renome das grandes editoras, as possibilidades da internet, a tradição do impresso e a despretensão de jovens autores, a produção literária no Brasil se sustenta. Sejam eles escritores premiados ou estreantes que buscam um caminho firme na carreira, um objetivo é compartilhado: os projetos literários são criados pela parceria entre a realização própria e a empatia despertada no leitor.


Luisa Geisler optou por dedicar-se inteiramente a um trabalho de qualidade, iniciando sua carreira na literatura aos 19 anos, quando ganhou um prêmio Sesc com o livro Contos de mentira. No ano seguinte, a autora emplacou seu primeiro romance, Quiçá, que também saiu como premiado no Sesc. Para ela, o mais importante é a empatia: ''A empatia talvez seja do que mais precisamos para um diálogo, e gosto de ter isso no que escrevo. O leitor, confesso, é quem quiser ler. Tenho referências da alta literatura e outras mais cultura pop e cada um pode ler como quiser'', destaca a gaúcha.

Publicada pela Record, uma das grandes editoras do mercado atual, Luisa opta por escrever uma literatura que não seja panfletária. Para ela e para o também premiado autor Ricardo Lísias, mais do que se perguntar como fazer as relações públicas do seu trabalho, um autor tem que escrever algo que seja bom e cause interesse. Lísias estreou na literatura em 1999, com o romance Cobertor de estrelas e se viu envolto em polêmicas com suas últimas publicações.

A confusão entre realidade e ficção é marca de sua escrita e costuma despertar grande envolvimento com o público leitor, constantemente desafiado por ele.

PROPOSTA As manifestações que explodiram no país e a qualidade da literatura contemporânea brasileira são alguns dos temas que permeiam suas publicações, sucesso de crítica e de público. ''Na hora de escrever, penso exclusivamente no meu projeto de criação. Acho que, no meu caso, certo público compreendeu minha proposta e a está acompanhando'', destaca o autor de Diário da cadeia, assinado sob o pseudônimo Eduardo Cunha.

Lísias busca, nesse momento, fazer uma literatura que recuse o conceito de representação e trabalhe com outro, o de intervenção. Assim, é uma exigência do seu projeto que ele pense na sociedade, já que os textos pretendem intervir nela. ''Sem dúvida é possível. Há um grupo de políticos por aí bastante incomodado com um trabalho que fiz, tanto que fez de tudo para neutralizá-lo'', destaca. Para ele, é preciso esquecer a produção que pense no mercado, escrevendo com dedicação de acordo com os interesses de cada projeto literário. ''Acho que o escritor deve se preocupar exclusivamente com desenvolver o seu projeto. Já é coisa demais!''


Eduardo Lacerda é criador e editor da Patuá, uma das editoras menores que se firma com qualidade na produção contemporânea e se coloca como opção para novos autores. O editor destaca que a divulgação da escrita, a comercialização do livro e a distribuição são também importantes para a obra e para o encontro do escritor com os leitores. A participação, mesmo que sutil, nas redes sociais, blogs e eventos literários ajuda na divulgação do livro e permite que mais leitores conheçam o que é produzido.

ESCOLHAS Para ele, o trabalho do editor é também um recorte de suas escolhas pessoais. ''Em quase uma década editando literatura, vejo que os diálogos que estabelecemos são sempre além daquele que propomos, pois, por mais que exista uma proposta editorial, dialogamos com o imprevisível, com a recepção de poesia, de literatura, de cultura, e essa recepção é dinâmica, ela se altera com o tempo'', afirma.

Lacerda destaca que a forma como os leitores recebem a publicação de um livro de poemas e a forma como o leem pode mudar em pouco tempo. Então, por mais que existam planos preestabelecidos, a reação do leitor é sempre imprevisível.

''É quase sempre a construção de uma nova literatura, cada leitor reconstrói a literatura, isso é fascinante''.

Para o editor, o encontro com novos leitores, que ainda não têm o hábito da leitura, está entre as experiências mais fascinantes. São esses leitores que trazem experiências novas e inusitadas, motivando seu processo de trabalho e criando a percepção de que é, sim, possível atrair e criar constantemente novos leitores.

ESTREIA João Doederlein, de 21 anos, publicou recentemente sua primeira obra pela Companhia das letras, O livro dos ressignificados, que dialoga com o público jovem. O autor é parte de uma nova geração de escritores que busca se firmar através de novas plataformas e se insere na produção literária a partir de outros caminhos e alcança grande número de leitores com sua forte presença na internet. Doederlein quer expressar uma escrita aberta e simples, que consiga conversar com um grande público.

Seus textos são regados de experiências pessoais e podem ser lidos por crianças, adolescentes e adultos. ''Acho que meu conteúdo é democrático e eu fico feliz com isso. Por postar em plataformas digitais, acabei atingindo muitos jovens, e isso me deu a oportunidade de lançar um livro físico que consegue conversar com um público mais tradicional'', conta. Para o escritor, as redes sociais conversam com o leitor em sua rotina diária, como um lembrete constante de sua produção literária.

O que se destaca entre ele e outros autores de sucesso na produção contemporânea é a originalidade do trabalho e a ausência de preconceitos com gêneros literários. Escrever sempre, de maneira constante e cotidiana, é a prática essencial, além da própria leitura e busca por referências. O mercado é amplo e, para encontrar um lugar entre as obras que circulam com eficiência, é preciso encontrar um projeto literário próprio, original, com qualidade e boas histórias, atraindo diretamente o leitor.

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