Um quadro foi apreendido pela polícia e retirado de uma exposição no Mato Grosso do Sul sob a acusação de fazer apologia à violência sexual contra crianças.
A obra em questão, intitulada Pedofilia, estava exposta no Museu de Arte Contemporânea (Marco) de Campo Grande, como parte da mostra Cadafalso, toda assinada pela artista mineira Alessandra Cunha com tom de crítica à violência contra a mulher.
Apesar de estar disponível para visita desde junho, foi só nesta quinta-feira, 14, que deputados estaduais do estado acionaram a polícia contra o quadro. O caso ocorre na mesma semana do episódio de censura contra a exposição Queermuseum, no Santander Cultural de Porto Alegre.
Os políticos deixaram a câmara dos deputados no período da tarde e se dirigiram à Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca) para registrar boletim de ocorrência contra o quadro e pedir que a pintora fosse incluída na lista de pedófilos.
Leia Mais
Bolsonaro diz que 'tem que fuzilar os autores' da QueermuseuKalil dá a entender que decisão sobre 'Queermuseu' em BH será deleCancelada após protesto no Sul, mostra 'Queermuseu' pode vir para BH'Queermuseu': Curador não sabia que mostra seria canceladaArtistas pedem pela reabertura da mostra 'Queermuseu', no Santader Cultural Exposição de arte é cancelada após pressão de grupos conservadoresLivro que Crivella censurou se esgota na Bienal do RioEntão, o delegado Fábio Sampaio foi com equipe ao museu para verificar a exposição e acabou apreendendo a obra. A coordenadora do Marco, Lúcia Monte Serrat, acredita que a apreensão foi irregular já que o delegado não portava nenhum mandato ou ordem judicial.
''O quadro era chamado Pedofilia como forma de crítica, já que toda a exposição é pautada na crítica à violência contra a mulher, e na verdade eles fizeram uma leitura como se fosse uma apologia'', elucidou a coordenadora, formada em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes do Paraná e professora aposentada de arte pela UFMT.
Ela prestará depoimento na tarde desta sexta-feira, 15, e esperava reverter a situação. ''Entendo que as pessoas têm dificuldade em encarar certos assuntos, mas foi um trabalho que passou por uma curadoria, passou pelo edital e estamos aqui para esclarecer. Nosso museu tem um cunho educativo e queremos passar isso. Temos o maior respeito pela artista e pelo público e estamos aqui para dialogar com isso'', completa Lúcia.