Danielle Winits e André Gonçalves voltam a BH com peça sobre Marilyn Monroe

Em 'Depois do Amor', última peça dirigida por Marília Pêra, casal remonta bastidores de filme interrompido por ocasião da morte da loira fatal. Espetáculo traz André Gonçalves no papel de uma mulher

Cecília Emiliana
- Foto: Guga Melgar/Divulgação
Vítima de um câncer de pulmão, Marília Pêra saiu de cena aos 72 anos sem entregar os pontos. Morreu entregue ao ofício, dirigindo a peça Depois do Amor. Não viveu para ver a estreia, que se deu em Manaus horas depois de seu falecimento, em 5 de dezembro de 2015. Mas trabalhou até a véspera. Cinco dias antes de partir, ainda instruía o elenco da poltrona da sala de sua casa em Ipanema, na zona sul do Rio, local dos ensaios.

Em nova turnê pelo Brasil, o espetáculo retorna aos palcos de Belo Horizonte esta noite (17), no Cine Theatro Brasil Vallourec, onde esteve em cartaz pela primeira em 7 de dezembro daquele mesmo ano. Assinado por Fernando Duarte, o texto propõe um encontro do espectador com Marylin Monroe (1926-1962), atriz que, ao contrário de Marília Pêra, se apressou em abreviar a carreira. Aos 36 anos, no auge do sucesso, a estrela de Hollywood - vivida por Danielle Winits - morreu por overdose de tranquilizantes, num provável suicídio. O enredo gira em torno dos bastidores do filme Something’s got to give, protagonizado por Marilyn e interrompido por ocasião de sua morte em 1962.
Em cenas compartilhadas com a estilista assistente Margot Taylor - personagem interpretada por André Gonçalves - a montagem se propõe a desnudar a alma da loira fatal. De quebra, um pouco dos mistérios da alma feminina.

Na primeira temporada da peça, Margot era interpretada pela atriz Maria Eduarda de Carvalho. Substituí-la significou para André Gonçalves um desafio e tanto. Margot, amiga que Marilyn traiu ao se casar com o namorado dela - o jogador de baseball Joe DiMaggio - é o primeiro papel feminino do ator. Recatada e muito delicada, a jovem é certamente a antítese do artista, conhecido por seu temperamento explosivo. “Já fiz cross-dresser num programa do Multishow. Mulher é a primeira vez. Me inspirei em mulheres famosas da época, como (a ex-primeira dama americana) Jackeline Kennedy, a (atriz) Grace Kelly e a (estilista) Coco Chanel”, conta Gonçalves.

Já à Danielle, que está no elenco desde a primeira versão do espetáculo, cabe o constante esforço de desconstrução do mito da sex symbol. A ideia, segundo a protagonista, é aproximar o espectador de Norma Jean (nome de batismo de Monroe), pessoa comum por trás do glamour dos estúdios cinematográficos. “Em 2015, no primeiro dia de ensaio, a Marília me disse: ‘Temos que desconstruir o mito. Nossa Marilyn está em casa. Vamos pensar na mulher por trás do mito.’ E foi a partir daí que comecei a montar a personagem.
Ela poderia ser um mero show de sex appeal, mas fui por outro caminho. O que mais me interessou no projeto foi justamente poder trazer à tona essa figura humanizada, que tem suas vulnerabilidades como qualquer ser humano”, diz Winits.

- Foto: Guga Melgar/DivulgaçãoTema de incontáveis biografias, Marilyn Monroe é frequentemente descrita como alguém difícil, cuja personalidade repelia a todos à sua volta. “Dois meses antes de falecer, restaram poucos amigos, ninguém mais tinha paciência com ela. Dos famosos, apenas (o cantor) Frank Sinatra e (o ator) Marlon Brando insistiam em ter notícias. Por trás daquela maquiagem toda, existia uma pessoa muito frágil, vulnerável e  dependente do que a pessoas diziam ou pensavam a seu respeito. O curioso é que ela não era temperamental. Não era de criar confusão, dar ataques. Tinha uma incrível doçura que encantava a todos. Ela tinha, sim, problemas com horários, deixava todos esperando por ela horas e horas. E isso, claro, causava muito estresse e prejuízo financeiro para as produções.
Mas não existem relatos dela brigando com os colegas, por exemplo.”, descreve Danielle. Fã da loira, ela diz colecionar livros, diários, fotografias e filmes sobre a atriz desde muito jovem.

A história da americana talvez explique muitos de seus comportamentos desagradáveis. Sua infância foi muito triste, permeada por orfanatos. Adulta, casou-se três vezes - alguns relacionamentos foram abusivos - e teve três abortos. Marilyn sofria de ainda depressão profunda e fazia uso de medicamentos sem orientação médica, o que fez com que se tornasse dependente de barbitúricos. “Mesmo com todos esses problemas, o que ficou pra mim dela foi admiração e respeito. Marylin foi uma sobrevivente. Como ela mesmo diz no texto: ‘Na vida precisamos de referências’. Ela não tinha. É isso”, conclui André Gonçalves. 

Depois do Amor
Com Danielle Winits e André Gonçalves. Direção e dramaturgia de Fernando Duarte. Quinta e sexta, 17 e 18 de agosto, ás 21h, no Grande Theatro Unimed-BH do Cine Theatro Brasil Vallourec. Ingressos: R$ 50 (meia entrada conforme Lei Nº 12.933/2013). Vendas: https://cinetheatrobrasil.com.br/ ou na bilheteria do teatro. Informações: 3201-5211


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