Marcia Tiburi fala da política na era do espetáculo no projeto Sempre um papo

Filósofa aborda o fenômeno da 'berlusconização' em seu novo livro, Ridículo político, que será lançado nesta semana em BH

Ana Clara Brant
- Foto: Simone Marinho/divulgação
Em seu mais recente livro, que já está na segunda edição, a filósofa e escritora Marcia Tiburi observa que a ironia está cada vez mais em baixa e o ridículo, em alta. Não é à toa que o título da obra é Ridículo político – Uma investigação sobre o risível, a manipulação da imagem e o esteticamente correto (Editora Record), e seu tema uma reflexão sobre a manipulação da imagem em tempos de esvaziamento da política. “A ironia é uma figura de linguagem que transita entre nós. É a nossa forma de conversar, sobretudo, num diálogo inteligente. Ainda mais com essa história de redes sociais, parece que tudo que é irônico é proibido; só vale o humor escrachado”, afirma.

Marcia estará nesta quinta (17/8) em Belo Horizonte, para debater e lançar a publicação dentro do projeto Sempre um Papo, às 19h30, no auditório da Cemig. Já há algum tempo, a escritora vinha se interessando pela percepção que a maioria da população manifesta ter em relação à qualidade política dos nossos representantes. Seja no que diz respeito à ética, à estética, à postura e à capacidade cognitiva. Surgiu, assim, a necessidade de escrever algo sobre isso.
“Quis explorar e tentar responder como é possível que os políticos mais vergonhosos, que causam as situações mais aberrantes, tornem-se os mais votados. Desde um presidente de uma nação como os Estados Unidos até um deputado brasileiro fundamentalista e homofóbico. Vivemos uma ‘berlusconização’ da política, em que os candidatos que parecem bufões se tornam os campeões de votos”, diz.

MUTAÇÃO Esse é o chamado ridículo político que, segundo Marcia, não é simplesmente falar de políticos ridículos, mas sim um novo cenário. “Há uma mutação na política. O que antes causava vergonha, hoje não mais. Isso ficou bem visível na votação do impeachment da (presidente) Dilma (Rousseff) no ano passado, que, aliás, cito como exemplo no livro. Aquelas manifestações dos congressistas estarreceram gente de esquerda, de direita e de centro, porque eram de um baixíssimo nível intelectual, simbólico e ético. E mesmo quem não está ligado em política sentiu uma vergonha alheia.”

Outro caso lembrado pela filósofa é o do deputado Wladimir Costa (SD-PA), que anunciou haver tatuado o nome do presidente Michel Temer no ombro e foi flagrado pedindo nudes pelo celular durante uma votação na Câmara. Para Marcia Tiburi, é muito provável que ele seja um dos parlamentares mais votados nas próximas eleições. Não porque o eleitor concorde, mas porque achou graça. “Até porque, ele se tornou muito mais conhecido. Infelizmente, a política foi transformada em publicidade. Ninguém vai comprar mais ou menos um iogurte porque ele seja bom, mas porque ele aparece mais na mídia.
Estamos na era do espetáculo”, analisa.

Entretanto, mesmo com tanta bizarrice, a autora acredita que há luz no fim do túnel, porém é necessário se interessar de verdade por política, pois só assim o indivíduo exerce plenamente sua condição de cidadão. “As pessoas têm preguiça de política, até porque política dá trabalho. O interesse não pode ser apenas opinativo: tem que ser engajado. Tem que ler, estudar, fazer parte de grupos de discussão, pesquisar, justamente para ter posicionamentos e argumentos. Política é um dever”, opina.

Ridículo político – Uma investigação sobre o risível, a manipulação da imagem e o esteticamente correto
• Marcia Tiburi
• Editora Record (238 págs.)
• R$ 39,90

Sempre Um Papo com Marcia Tiburi
Quinta (17/8), às 19h30, no Auditório da Cemig (Rua Alvarenga Peixoto, 1.200, Santo Agostinho). Mais informações: (31) 3261-1501. Entrada gratuita..