Festival Literário de Belo Horizonte foca em mulheres, negros e autores da periferia

Conceição Evaristo, Maria Valéria Rezende e Eliane Potiguara são alguns dos nomes do FLI que será realizado entre os dias 14 e 17 de setembro no Centro de Referência da Juventude

Márcia Maria Cruz
Maria Valéria Rezende, Conceição Evaristo e Eliane Potiguara - Foto: Montagem/EM
A segunda edição do Festival Literário Internacional de Belo Horizonte (FLI) e a terceira edição da Primavera Literária trazem a diversidade para a festa literária da capital. Com o tema Vozes de todos os cantos, o festival foi apresentado, na manhã de terça em coletiva no Centro de Referência da Juventude, com o anúncio de nomes como as premiadas Conceição Evaristo, Maria Valéria Rezende e a escritora e ativista indígena Eliane Potiguara.

Os curadores, Francisco de Morais Mendes e Adriana Garcia, disseram que as mulheres deverão representar 70% dos convidados – a programação está praticamente fechada, mas eles ainda aguardam respostas de escritores e escritoras. Com mesas de debates, saraus, contação de história, biblioteca para bebês, oficinas, o FLI será realizado entre os dias 14 e 17 de setembro no Centro de Referência da Juventude (CRJ).
 
O movimento curatorial focado na produção de mulheres, autores e autoras negras caracterizou a 15ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), realizada no final do mês na cidade fluminense. “O mesmo espírito que norteou a Flip norteia a FLI. Não se trata de cópia, mas de resposta à demanda da sociedade por mais espaço para esses grupos minorizados”, afirma Francisco.

A segunda edição do FLI homenageará a escritora e jornalista Laís Corrêa de Araújo (1929-2006). Laís se destacou na vanguarda literária brasileira na década de 1960,  figurando entre nomes como Haroldo de Campos (1929-2003) e João Cabral de Mello Neto (1920-1999). No entanto, conforme a curadoria destacou, apesar da importância de sua obra, ela é pouco conhecida. “Homenagear Laís é uma escolha ética, porque é uma maneira de fazer justiça à importância dela; estética pela escrita contemporânea e política, que é uma forma de visibilidade aos trabalhos de mulheres”, afirmou Adriana, que, durante a apresentação da FLI, leu poemas de Laís.


A curadora destacou
a importância estética da obra de Laís, que trabalhou com muito rigor as palavras, e também o fato de ter sido pioneira, com poemas que podem ser lidos como feministas.
Laís foi tradutora das obras de Roland Barthes, fundadora do Suplemento Literário de Minas Gerais e autora dos livros O signo e outros poemas (1955), Cantochão (1967), Maria e companhia (1983), Decurso de prazo (1988) e Pé de página (1995).

Juca Ferreira pontuou que é preciso fortalecer políticas que fomentem o gosto pela leitura entre os brasileiros. 'Apreciação da literatura é aquém da importância dessa arte. Isso vem da escolarização que é deficitária, hábito da leitura que também é deficitário – o brasileiro lê 1,7 livro por ano. É muito baixo mesmo comparando com países mais pobres que o Brasil', afirmou. O festival, como pontuou, dá continuidade àpolítica de leitura empreendida no município.
 
A coordenadora de Bibliotecas e Promoção da Leitura da Fundação Municipal da Cultura, Fabíola Farias, ressaltou que o festival representa a celebração do que já é realizado nas 21 bibliotecas públicas da cidade. Pela primeira vez todas as atividades serão realizadas no Centro de Referência da Juventude. Juliana Flores, da Liga Brasileira de Editoras (Libre), adiantou que 40 editoras independentes participarão do evento. “É a maior associação de editoras independentes do mundo. Trabalhamos com a bibliodiversidade, que é a ideia de diversidade dentro da literatura”, afirma. Dentre as editoras, devem participar a Mazza e a Pallas, editora especializada em literatura afrodiaspórica..