Chuck Klosterman lança livro que faz um convite a reflexão

Em 'E se estivermos errados?' o autor sugere que as certezas são apenas casuais, além de passíveis de mudança no futuro, próximo ou não

Breno Pessoa
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Quantas vezes não ouvimos alguém tentando validar o ponto de vista argumentando tratar-se de algo comprovado pela ciência ou de fato noticiado por jornais? Verdades não são inquestionáveis nem imutáveis, defende o crítico cultural Chuck Klosterman no recém-lançado E se estivermos errados? (HarperCollins). No livro, o autor sugere que as certezas são apenas casuais, além de passíveis de mudança no futuro, próximo ou não.


''É impossível entender o mundo de hoje até que hoje se torne amanhã'', assinala Klosterman sobre a maleabilidade das convicções que temos, em qualquer que seja o campo. O autor afirma que a maioria das pessoas se sente desencorajada a questionar tópicos que sejam consenso pelo simples fato de algumas ideias estarem tão entranhadas na consciência que parece inaceitável não serem verdade.


Um dos exemplos adotados por ele é a gravidade. Antes do século 18 e das noções estabelecidas por Isaac Newton, diz Klosterman, ''a melhor explicação de por que os objetos não saíam voando por aí tinha a ver com o que Aristóteles havia defendido há mais de 2 mil anos''. Assim como os conceitos aristotélicos foram considerados corretos por cerca de 20 séculos, possivelmente o atual entendimento sobre a gravidade deve mudar no futuro.


Não é apenas à ciência que a argumentação do autor se aplica. Ele comenta que Moby Dick, de Herman Melville, hoje considerada obra-prima da literatura, foi um fracasso de crítica e vendas à época do lançamento, em 1851. O livro acabou redescoberto depois da Primeira Guerra Mundial, por motivos ainda pouco claros. Uma das hipóteses é que a batalha contra a baleia pudesse ter servido como metáfora para a luta contra a Alemanha.

Ou que o clima de camaradagem entre os marinheiros remetesse ao senso de irmandade entre soldados, causando empatia entre leitores.


Teorias e percepções mudam, assim como a sociedade. Daí a irrelevância de considerar qualquer ideia ou obra definitiva, derradeira. Vale o conselho de Klosterman, passível de contestação, claro: ''A melhor hipótese é a que aceita, reflexivamente e desde o princípio, o potencial que tem de estar errada''.


E se estivermos errados? mostra bastante pertinência nestes tempos de proliferação de informações erradas em redes sociais e alta polarização nas mais variadas esferas, da política à cultura. Bem-argumentado, o ponto de vista do autor é embasado em estudos e entrevistas de pensadores das mais diversas áreas – entre eles, o escritor Junot Díaz (A fantástica vida breve de Oscar Wao), o astrofísico Neil deGrasse Tyson, o físico teórico Brian Greene, a crítica literária Kathryn Schulz e o músico Ryan Adams.


O livro não deixa de ser um lembrete sobre como as perspectivas sociais vêm sendo construídas quase que exclusivamente sob o viés do tempo presente. Ideias aceitas atualmente já foram descartadas no passado, preconceitos foram (e são) perpetuados pelo senso comum devido à dificuldade de questionar o que é encarado como verdade. ''É impossível analisar perguntas que nos recusamos a perguntar'', adverte Klosterman. Simples assim.

 

E SE ESTIVERMOS ERRADOS?
De Chuck Klosterman
Haper Collins
288 páginas
R$ 39,90

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