Jornalista mineira Sabrina Abreu lança o livro 'O último kibutz'

Obra foi inspirada em suas viagens a Israel. Ela recusou a solicitação da editora para que incluísse a questão palestina na trama

Pedro Galvão

Autora vem à BH para lançar o livro. - Foto: Sabrina Abreu/Divulgação

Nascida em Belo Horizonte, Sabrina Abreu se interessou por Israel há alguns anos. Embora não seja de família judaica, ela herdou do pai a paixão pelo país criado em 1948, no Oriente Médio. Depois de estudar bastante sobre a cultura e a geopolítica israelenses, a jornalista foi até lá, há 10 anos, prestar trabalho voluntário em um kibutz. Os meses passados na companhia de pessoas mais velhas envolvidas com a fundação de Israel e com jovens em busca de novas experiências de vida inspiraram o primeiro romance dela, que será lançado nesta terça-feira, 1º, em BH.


''Não é um livro político, mas sobre juventude. Um romance de passagem'', diz Sabrina a respeito de O último kibutz (Editora Simonsen). ''Em Israel, as pessoas têm histórias muito interessantes, pois o país é muito jovem, formado por gente de todos os lugares. Como sou jornalista, tenho muito interesse por histórias e aproveitei algumas, com as devidas adaptações'', explica.


''Quando estava na faculdade, estourou a Segunda Intifada (em 2000). Falava-se muito disso por aqui, mas eu notava a grande desinformação das pessoas.

O que a mídia publicava não era suficiente, na minha percepção. Então, comecei a estudar mais. Meu trabalho de conclusão de curso foi sobre Israel e prossegui com o tema na pós-graduação'', conta.
A personagem principal do romance é a jovem brasileira Sofia, voluntária em um kibutz, assim como a autora. Ela conhece o velho Simon, que participou da fundação de Israel. O centro da trama é a contraposição de gerações, de objetivos de vida e das experiências da dupla.


''A geração da Sofia, que é a minha, só quer ser feliz, assim como a maioria dos voluntários que estão no kibutz. Por sua vez, os pioneiros, fundadores de Israel, não tinham esse objetivo, eles queriam construir um país, um pensamento mais coletivo. Uma frase do livro sintetiza tudo: encontrar a felicidade é um objetivo mais difícil do que fundar um país'', observa Sabrina.


PÊSSEGOS ''No começo, aquilo era um monte de pedras. Sessenta anos depois, o cenário desolado deu lugar a plantações de maçãs, pêssegos, kiwis e, para orgulho geral, até de cerejas. Diante dos pomares, mesmo os mais céticos gostavam de recitar uma profecia bíblica segundo a qual o deserto iria florescer. Ali nunca fora um deserto como os que existem no Sul do país, mas, de fato, da terra pedregosa nasceram plantações, e elas foram a primeira visão de Sofia no dia em que se mudou para lá''. Assim Sabrina descreve as primeiras impressões da protagonista sobre Israel.


Depoimentos de personagens de diferentes nacionalidades, inclusive dos próprios israelenses, complementam a história. Em outro trecho, uma funcionária do programa de voluntariado do kibutz discursa para Sofia: ''O país já nasceu em meio a uma guerra. O dia em que comemoramos a independência é chamado pelos nossos vizinhos de Nakba, Dia da Catástrofe.

Só que foram os vizinhos que não quiseram os dois estados que a ONU propôs em 1947. Queriam jogar Israel ao mar, riscar do mapa ou qualquer outra coisa dessas que se diz até hoje pelos minaretes. Eles não desistem.''


Sabrina Abreu afirma que seu romance não se propõe a explorar o contexto político-geográfico local. ''Lá dentro do kibutz, as pessoas não têm interesse no conflito com a Palestina. A questão mais forte é entre os judeus religiosos e judeus seculares (não religiosos). É isso que o livro aborda prioritariamente'', argumenta a jornalista, definindo sua publicação como apolítica. ''Não é contra nem a favor de Israel'', diz.


Essa decisão de não abordar a questão palestina foi motivo de polêmica. Responsável por outro livro da mineira, a Editora nVerso solicitou que o tema fizesse parte do romance. Sabrina não aceitou a condição e entregou os originais a outra empresa.


''Ofereci o romance a quem havia publicado meu último livro (A voz do Alemão, 2013). Eles tinham interesse, mas desde que eu mudasse o texto em relação à questão palestina.

Por isso o levei para a Editora Simonsen'', conclui.

 

O ÚLTIMO KIBUTZ

Editora Simonsen
118 páginas
R$ 40
Lançamento terça-feira, 1º, às 19h.
Grande Hotel Ronaldo Fraga, Rua Ceará, 1.205, Funcionários

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