Confira as atrações do FIF, evento de fotografia que vai até setembro

Festival convida o público a repensar sua relação com a cultura imagética que o cerca. Exposições estão em cartaz em galerias e no Parque Municipal

Márcia Maria Cruz

Exposição estimula a interação com o público - Foto: Gustavo Baxter/divulgação

Em sua terceira edição, o Festival Internacional de Fotografia (FIF) discute a política da imagem, apresentando proposta ousada – e necessária – a este momento que o Brasil atravessa. Os trabalhos selecionados lançam uma pergunta para quem transita por espaços públicos de Belo Horizonte: como construir a política?

 

A imagem pode ser o estopim para a reflexão, acreditam os organizadores do FIF. Algumas fotografias impressionam pelo tamanho, superando dois metros de altura. “Nas edições anteriores, a maior parte das obras era exibida indoor. Tivemos uma experiência muito boa no primeiro FIF, no Parque Municipal. Então, resolvemos reduzir o número de obras, aumentar a escala e colocá-las em espaços públicos”, revela Bruno Vilela, idealizador e curador do festival. São 80 fotografias e 12 vídeos. Até 4 de setembro, as exposições ficarão em cartaz no Memorial Minas Gerais Vale, no Museu Mineiro e no Parque Municipal Américo Renné Giannetti.

Um dos destaques é a série exposta no parque, criada pelo Grupo Mapa, que desenvolve pesquisa sobre o jogo como experiência de interação entre as pessoas. Para começar, questiona-se a própria ideia de jogo.

Durante a Copa de 2014, teve início o processo para analisar como os formatos dos campos de futebol influenciam a maneira de jogar. “O campo se divide em duas partes, por isso a partida é disputada por dois times equivalentes”, diz o artista Froiid, integrante do Mapa.

Ao repensar as formas dos campos do chamado peteleco (o futebol de pregos), os artistas propuseram a desconstrução do tradicional retângulo, substituído por formatos em L, C ou hexagonal. “Podem ser quatro jogadores contra um e até um jogador com ele mesmo. Nas peladas tem muito disso”, afirma Froiid.

Bruno Vilela diz que a ideia é debater questões sociais mais amplas, como o estabelecimento de regras. “Campos de futebol têm os limites dados, mas quando se propõe que eles sejam repensados, também está se propondo novas regras. São vários formatos: alguns campos têm três gols, outro não têm nenhum”, explica.

MARATONA Os eixos do festival vão além das exposições, oferecendo debates, oficinas e até maratona fotográfica. A Grande exposição internacional reúne 28 artistas de 18 nacionalidades. Para o eixo Experiências da imagem foram convidados o projeto Imagens do Povo, realizado pelo Observatório das Favelas no Rio de Janeiro, bem como o idealizador do Museu da Fotografia do Ceará, Sílvio Frota.

A agência mineira Nitro Imagens e o artista plástico Pablo Lobato orientarão ações formativas em parceria com 16 fotógrafos. Chamado Maratona fotográfica, esse projeto pretende estimular o participante a produzir um ensaio ou uma pesquisa autoral.

Bruno Vilela explica que a discussão proposta pelo FIF está aberta não apenas a fotógrafos, mas a projetos e iniciativas que usem a imagem para realizar intervenções. É o caso do trabalho que discute a questão do desmatamento a partir de imagens de satélite. A referência veio de um dos textos da revista Piseagrama, cujos colaboradores farão palestra na sexta-feira (28), no Memorial Minas Gerais Vale. A partir de imagens de satélite, o pesquisador mapeou a idade das florestas, identificando clareiras onde podem ter vivido povos indígenas.

Outro trabalho traz o arquivo de fotos de notas fiscais relativas à negociação de peles de animais, publicado por André Antunes na Piseagrama. “É um negócio absurdo.
As imagens documentam essa situação, mostram a política ambiental que nos atinge”, pontua Bruno.

 

Outro debate interessante, proposto por Kate Fichard em Screcrow, discute o uso de agrotóxicos e defensivos químicos na produção de alimentos. Chama-se a atenção para o problema a partir da constatação de que os espantalhos desapareceram das lavouras. “No lugar deles entraram os pesticidas e os agrotóxicos. Espantalhos foram construídos com rejeitos de galões. É uma forma de pensar como estamos produzindo a nossa comida”, reforça Bruno.

Da parceria com Faísca Mercado Editorial nasceu a mostra de publicações em cartaz no FIF, com trabalhos de 45 artistas gráficos.

 

Debates no Memorial

 

A programação de palestras terá início hoje, no Memorial Minas Gerais Vale, e será encerrada no sábado (29). A historiadora Heloísa Starling, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), vai falar sobre o Projeto República e a relação da imagem com a política.

Sexta-feira (28), Antônio Bispo dos Santos, o Nego Bispo, discutirá a relação entre a imagem, os quilombolas e a atuação fronteiriça dessa comunidade com outros espaços da sociedade brasileira. Ele vem de Saco do Curtume, comunidade quilombola do Piauí. “Não vou levar imagem física ou digitalizada. Falarei a imagem. Nosso povo fala e pensa a partir da imagem, não a fotografada”, explica.

“Participar do FIF é estar num encontro fronteiriço, estar numa encruzilhada, algo importante nesse momento”, diz o piauiense.

“Falamos de imagem paisagística. Quando falamos de organização da sociedade, falamos a partir do rio, do movimento das águas. O rio flui e conflui. É daí que falamos da trajetória das comunidades”, reforça.

Esse pensamento, denominado por Bispo de contracolonialismo, é uma provocação à abordagem acadêmica bastante em voga, o decolonialismo. Segundo ele, só pode tentar descolonizar o conhecimento quem o colonizou. Dessa forma, uma visada realmente originária só pode se dar a partir do pensamento dos povos originários.

“No contracolonialismo, nos propomos a reeditar a trajetória histórica de um povo por meio das matrizes originárias. E só quem pode fazer isso é o próprio povo”, enfatiza Nego Bispo.

Outro convidado do FIF é Azu Nwagbogu, diretor da African Artists Foundation (AAF), organização sem fins lucrativos sediada em Lagos, na Nigéria. Nwagbogu coordena o LagosPhoto, festival internacional anual de arte e fotografia. 


• 3º FIF

» Palestras
Hoje
• 18h: A experiência da imagem. Com Silvio Frota (Museu de Fotografia do Ceará)
• 19h30: Projeto República: O papel das imagens na construção de políticas. Com Heloísa Starling (UFMG)
. Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade, Funcionários)

» Exposições
Até 4 de setembro
Museu Mineiro (Avenida João Pinheiro, 342, Centro). De terça a sexta-feira, das 10h às 19h; quinta-feira, das 12h às 21h; sábado e domingo, das 12h às 19h
Memorial Minas Gerais Vale. De terça-feira a sábado, das 10h às 18h; quinta-feira, das 12h às 21h; domingo, das 12h às 15h30
Parque Municipal Renné Américo Giannetti (Av. Afonso Pena, 1.377, Centro). De terça-feira a domingo, das 6h às 18h.
• Programação completa: www.fif.art.br

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