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Catálogo raisonné reúne 3,4 mil obras do pintor e desenhista cearense Leonilson

Livro, que levou 24 anos para ser concluído, contou com comissão de especialistas,

Agência Estado


- Foto: Edouard Fraipont/Divulgação
No Brasil, poucos autores foram contemplados com catálogo raisonné que resume o seu itinerário artístico. Entre os mais conhecidos, estão três pintores modernistas – Tarsila, Volpi e Portinari – e o contemporâneo Iberê Camargo (1914-1994). O pintor e desenhista cearense Leonilson (1957-1993) acaba de ganhar o seu.

Trata-se da quinta publicação do gênero dedicada a um artista brasileiro. O catálogo raisonné de Leonilson foi patrocinado pela Fundação Edson Queiroz, que promoveu uma exposição com 128 obras do cearense na galeria da Unifor (Universidade de Fortaleza), encerrada no domingo.

Dividido em três volumes, com 1,1 mil páginas e organizado pelo Projeto Leonilson, o livro reúne 3,4 mil obras – toda a produção dele.

O catálogo, informa a irmã de Leonilson, Ana Lenice Dias, a Nicinha, demorou 24 anos para ficar pronto. Uma das fundadoras do Projeto Leonilson, criado logo depois da morte do artista para preservar sua obra, Nicinha contou com o apoio jurídico do advogado Pedro Mastrobuono, do Instituto Volpi, para organizar a publicação nos moldes daquela dedicada à obra de Volpi.

“Identificamos trabalhos que foram vendidos ou doados por Leonilson. Eles foram rigorosamente submetidos a uma comissão formada por críticos, historiadores e pessoas que conviveram com ele para garantir a autenticidade das obras”, informa Ana Lenice.

COBIÇA Organizar um catálogo raisonné é uma tarefa complexa. Sempre surge na última hora um trabalho do artista que ninguém conhece. “Além disso, a valorização de Leonilson no mercado, tanto nacional como internacional, desperta a cobiça”, observa a irmã de Leonilson, confirmando o aumento de obras falsificadas dele no mercado.

Atualmente, só o Projeto Leonilson pode emitir expertise sobre a obra do cearense, cujos preços evoluíram nos últimos tempos – de R$ 80 mil por um desenho a R$ 1 milhão por tela, em média.

Considerando que Leonilson fez sua primeira individual em 1981, foram 12 anos de trabalho ininterrupto, o que dá, em média, 300 obras por ano – uma por dia.

BORDADOS Leonilson criou desenhos, pinturas e bordados, além de cenários e figurinos – como o da peça A farra da Terra, do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone.

Próximo dos artistas da Geração 80, o cearense muitas vezes foi alinhado com nomes que participaram da histórica exposição do Parque Lage, no Rio de Janeiro, em 1984.
Mas ele correu por fora. Seu parentesco artístico é com Arthur Bispo do Rosário, especialmente por causa dos bordados e das referências autobiográficas, além de Lygia Clark, Louise Bourgeois e Eva Hesse.

Ao comentar a proximidade do autor cearense com a Geração 80, o vice-reitor de extensão e comunidade universitária da Unifor, Randal Martins Pompeu, observa que “o diálogo que a obra de Leonilson tem com os jovens é extraordinário”.

A exposição realizada em Fortaleza exibiu o primeiro e o último trabalhos do artista cearense. Foi uma das mais vistas da galeria universitária. Mais de 58 mil pessoas registraram presença no evento, realizado de 15 de março a 9 de julho. Ricardo Resende assinou a curadoria.

A mostra itinerante deve passar por São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Em setembro, revela Nicinha, o catálogo bilíngue será lançado no Americas Society de Nova York com uma exposição dos trabalhos de Leonilson na metrópole norte-americana. (Antônio Gonçalves Filho/
Estadão Conteúdo)

LEONILSON
• Edição: Projeto Leonilson
• Catálogo raisonné
• Três volumes
• 3,4 mil obras
• 1,1 mil páginas
• R$ 1,2 mil
• Informações: projetoleonilson@projetoleonilson.com.br.