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Concertos no CCBB celebram 130 anos do maestro Villa-Lobos

Hoje tem 'palestra musicada' com o violonista Turibio Santos, que aborda a valorização da música brasileira, seguida de apresentação do Quarteto Radamés Gnattali

Márcia Maria Cruz

- Foto: Arquivo Pessoal/Turibio Santos

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) deixou vasta obra com composições para orquestra, quarteto, sinfonias e serestas, além de ter sido um dos maiores incentivadores da musicalização, inovando na didática que transformou o ensino da música nas escolas brasileiras. A genialidade inquestionável de um dos mais importantes compositores eruditos das Américas será celebrada em dois concertos, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-BH), hoje e no dia 12. Os recitais integram as comemorações de 130 anos de nascimento de Villa-Lobos. Outros dois foram realizados em junho.


Para abrir a noite de hoje, o violonista Turibio Santos falará sobre a obra de Villa-Lobos, recriando o ambiente violonístico do compositor. Na sequência, o Quarteto Radamés Gnattali apresenta Quarteto para cordas nº 12 (1950) e Quarteto para cordas nº 15 (1954). No dia 12, retornam ao CCBB para mostrar Quartetos para cordas 16 (1955) e 17 (1957). Com repertório dedicado à música brasileira, Radamés Gnattali é considerado um dos principais quartetos de cordas da América Latina. Hoje, executam o Quarteto n° 12; composto pelas peças Allegro, Andante malinconico, Allegretto leggiero e Allegro ben ritmato; e o Quarteto n° 15, com Allegro non troppo, Moderato, Scherzo (Vivace) e Allegro.


Juntamente aos concertos, têm sido realizadas palestras sobre a vida e o legado do compositor.

“A obra de Villa-Lobos para quartetos tem um simbolismo forte. O maestro compõe para as quatro vozes dos instrumentos melódicos. Não tem a euforia das orquestras”, destaca o violonista, um dos maiores pesquisadores e intérpretes da obra de Villa-Lobos.
Nos quatro concertos realizados no CCBB, o quarteto transita pela obra de Villa-Lobos, que foi dividida a partir dos períodos criativos do compositor: ciclo nacionalista, ciclo exploração, ciclo música urbana e ciclo maturidade. Para quem conhece a obra, o momento é para desfrutar e, para quem ainda não é iniciado, o evento é uma oportunidade para conhecer as composições que, além de executadas, serão apresentadas pelos músicos.


Aos 15 anos, Turibio teve um encontro inspirador com Villa-Lobos, durante conferência sobre composições para violão, em evento na Urca, no Rio de Janeiro. Turibio se recorda que, apesar de pequeno, o público contava com a mulher de Villa-Lobos, a violinista Arminda Neves d’Almeida (1901-1985), e o biógrafo Adhemar de Nóbrega (1917-1979). Na época, o jovem ficou encantado com o compositor, que falou por mais de três horas sobre suas composições. A proximidade de Turibio com o maestro e, mais tarde, com Arminda, resultou na gravação do primeiro disco do violonista. “Villa-Lobos morreu em 1959. Um ano depois, Arminda estava empenhada em criar o museu. Ela foi minha madrinha musical e, aos 19 anos, gravei meu primeiro disco.”


Na palestra-concerto em BH, Turibio deve retomar o tempo que esteve à frente do Museu Villa-Lobos, localizado em Botafogo, no Rio de Janeiro. “Falo das várias facetas da obra. O fato de ele ser um gênio é inconteste, mas retomo a percepção aguda que ele tinha acerca do ensino da música e a valorização do tesouro brasileiro, a música folclórica, as manifestações de todo o Brasil por onde ele circulou.” Turibio destaca a dedicação de Villa-Lobos na invenção de currículos musicais. “Ele era autodidata e criava por ele mesmo currículos tanto para instrumentos como aulas vocais.”


A grandeza musical de Villa-Lobos pode ser atestada na obra com mais de mil composições e também pela importância que ele conseguiu imprimir no ensino da música.

Na opinião de Turibio, a influência pode ser verificada entre os anos de 1930 e 1945. “Toda uma geração que está com idade entre 70 e 75 anos, na qual me incluo, passou por essa musicalização. Caetano, Gil, Roberto (Carlos), Nelson Freire são frutos desse momento intenso da música no Brasil, que ocorreu graças a Villa-Lobos”, diz o violonista, hoje com 74 anos. “Depois dele não tivemos uma liderança musical tão forte”, lamenta. Para concluir, ele ressalta que os concertos permitem a imersão na vida e obra do compositor, que foi um dos criadores a identidade sonora do Brasil.

 

VILLA-LOBOS
PARA CORDAS

Palestra “Villa-Lobos e o violão”, com Turibio Santos, às 19h30; e concerto, com Quarteto Radamés Gnattali, às 20h30. Hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450, Funcionários,
(31) 3431-9400). Entrada franca, mediante retirada de ingressos
1 hora antes da apresentação, na bilheteria do CCBB-BH.

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