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Audiência pública discute situação do Centro de Formação Artística e Tecnológica da Fundação Clóvis Salgado

Instituição nega precariedade denunciada pelo movimento 'Menos palácio, mais artes'. Alunos, professores e artistas ligados à escola alegam falta de professores, entre outros problemas graves

Cecília Emiliana
Audiência pública sobre as condições de funcionamento do Cefart ocorreu na noite de quinta e durou aproximadamente quatro horas - Foto: MARCOS VIEIRA/EM/D.A.PRESS
“O Palácio das Artes é uma vitrine quebrada.” Com essa afirmação, feita por um aluno do curso de teatro da Fundação Clóvis Salgado (FCS), teve início a audiência pública realizada na noite da última quinta-feira, na Assembleia Legislativa, para discutir a situação precária em que atualmente funciona o Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). Além de teatro, o Cefart oferece formação em dança, música, teatro, ópera, artes visuais e tecnologias do espetáculo (iluminação, cenotecnia, figurinos e adereços).


Estudantes, professores e artistas ligados ao centro –  fundado há 30 anos – denunciam que a escola passa pelo momento mais delicado de sua história. Organizados sob o movimento Menos Palácio, Mais Arte, eles apontam a defasagem no quadro de docentes como circunstância mais grave enfrentada no momento. No curso de teatro, por exemplo, do total de 23 profissionais que já chegaram a lecionar no Cefart, restam seis, o que faz com que os alunos fiquem sem aulas em vários dias da semana e até concluam a formação sem ter tido acesso a determinados conteúdos do currículo.


A decisão do Supremo Tribunal Federal, que determinou a exoneração de 57 mil servidores estaduais efetivados sem concurso por meio da Lei 100/2007, é uma das causas da atual escassez. A dispersão teria se agravado com os pedidos de aposentadoria de cinco instrutores, em razão do baixo salário pago a quem ocupa o cargo – a remuneração atual é de R$ 15 por hora/aula.


Diante desse cenário, teria sido cogitada pela Fundação Clóvis Salgado, segundo o movimento Menos Palácio, Mais Arte a hipótese de não abrir edital para admissão de novas turmas para os cursos. A FCS nega. O movimento também se queixa de que o espaço destinado às atividades artísticas, situado nos fundos do Palácio das Artes, não atende as necessidades dos discentes. Rechaça ainda a gestão do atual presidente da FCS, Augusto Nunes-Filho, a quem atribui má vontade para resolver os problemas do Cefart, além de um perfil “autoritário” e pouco aberto ao diálogo.

Recentemente, ele teria demitido por telefone, sem maiores explicações, a gerente de extensão da Fundação, Lúcia Ferreira, que há 21 anos ocupava o cargo, bem como Cibele Navarro, que assumiu a diretoria do Cefart em 2016.

 

MESA Viabilizada pela deputada estadual Marília Campos (PT), a audiência pública teve mesa composta por representantes de variadas instituições mineiras ligadas à cultura e à administração pública. Entre eles, a vereadora Cida Falabella (PSOL), eleita sob a bandeira da defesa do setor cultural; Carlos Calazans, representando a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão; Kátia Carneiro, diretora de Planejamento, Gestão e Finanças da Fundação Clóvis Salgado; Walmir Ferreira, professor e um dos fundadores do Cefart; Chico Pelúcio, diretor de teatro, integrante do grupo Galpão e ex-presidente da FCS, Tomás Soares, representante do movimento Menos Palácio, Mais Arte; entre outros.


Iniciadas às 19h, as discussões se estenderam por quase quatro horas, entremeadas de atos de protesto do movimento Menos Palácio, Mais Arte. Muitos alunos, inclusive, alegaram que sua presença no evento só era possível pelo fato de que, por falta de professores, as aulas que deveriam frequentar naquele dia estavam suspensas.


Enviada para falar em nome do presidente da FCS, Augusto Nunes-Filho, a diretora de Planejamento e Gestão Kátia Carneiro rebateu as acusações do grupo. “A reposição do quadro de professores especificamente do teatro está prevista para ser realizada até julho, a fim de iniciarmos o segundo semestre com quadro completo. Com relação ao cancelamento do edital para admissão de novas turmas, desconheço essa formação. Causa-me espanto. A seleção de novos alunos para o Cefart ocorrerá normalmente. Eu gostaria de ressaltar ainda que, de 2015 para 2016, o orçamento da escola deu um salto. De R$ 50 mil para R$ 1 milhão por ano. Já temos R$ 3 milhões garantidos até 2019”, afirmou.


Questões relacionadas à administração do Cefart, como reajuste de salário dos docentes e as condições das instalações da escola, foram abordadas por Carlos Calazans e Vilmar Pereira de Souza, atual diretor do Cefart. “É preciso mudar a lei para fazer certos ajustes, como aumento de salários e construção de novos planos de carreira. Levaremos a questão para o gabinete do governador e a ideia não é esgotar essa discussão aqui. Vamos estar presentes em novas audiências públicas”, disse Calazans.


Os encaminhamentos da audiência, expondo os tópicos discutidos, deverão ser levados ao governo do estado.

O documento inclui um pedido dos estudantes para que o governador Fernando Pimentel receba o Menos Palácio, Mais Arte para uma conversa.

"Os recursos da Fundação vêm minguando e isso tem impactado na qualidade. Então nós precisamos que nossa sociedade encare isso: nós temos alunos de uma escola pública, que precisam dos recursos que todo centro formador deve ter mais as especificidades das artes”

>> Margareth Alves,integrante do Movimento Menos Palácio, Mais artes

Nunca foi tão grave a situação do Cefart. É um verdadeiro escândalo público. Mas como a escola está nos fundos do Palácio, então ninguém tem tomado muita consciência”

>> Pedro Henrique Pedrosa, aluno do curso de teatro

A seleção de novos alunos para o Cefart ocorrerá normalmente. Eu gostaria de ressaltar ainda que, de 2015 para 2016, o orçamento da escola deu um salto. De R$ 50 mil para R$ 1 milhão por ano. Já temos R$ 3 milhões garantidos até 2019”

>> Kátia Carneiro, diretora de Planejamento e Gestão da FCS

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