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Mostra em cartaz em BH exibe filmes que abordam o universo LGBTQ

Produções brasileiras e estrangeiras desmistificam estereótipos como o da 'bicha má'

Márcia Maria Cruz
- Foto: Cine Humberto Mauro/divulgação
A sigla LGBTQ tenta abarcar a diversidade dos corpos de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e queers. Vítimas de preconceito, eles e elas encarnam a luta política por igualdade de direitos numa sociedade em que a heterossexualidade é a norma.

Com curadoria de Bruno Hilário e colaboração de Mariah Soares e Vitor Miranda, a mostra Corpo político chama a atenção para a representação desses sujeitos no audiovisual. “Os filmes pressupõem um diálogo com o grande público para colaborar na formação de novas posturas, visões e ressignificações do corpo humano”, destaca Bruno.

Serão apresentados filmes produzidos da década de 1970 até 2010. Hoje tem sessão e a programação segue até 29 de junho, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes.

A curadoria buscou na cinematografia nacional, europeia e estadunidense obras em que os LGBTQs são reconhecidos como cidadãos em sua complexidade. Bruno destaca que na história do cinema há representações dessa comunidade que não dão conta da diversidade necessária para que essas pessoas sejam respeitadas na diferença. Em muitas produções, os personagens aparecem de maneira cômica.

“Ainda hoje, temos em novelas e programas humorísticos essa representação de personagens ligadas à comédia. As obras levam as pessoas a rir da expressão física, corporal, vocal e também do desejo dessas pessoas”, adverte. Quando personagens não estão representados de maneira jocosa, eram mostrados tristonhos ou portadores de alguma patologia mental.

“No cinema clássico hegemônico, quem experimentava o sexo homoafetivo morria no final.
A conduta do cinema estadunidense, por exemplo, era não nomear a homoafetividade”, explica Bruno. Por muito tempo, a representação era de personagens maus, tristes, melancólicos. “A bicha má é uma construção que permeia o imaginário do século 20”, afirma o curador.

ANOS 70
Bruno Hilário destaca que diversas gerações de LGBTQs não tiveram contato com personagens com os quais pudessem se identificar até que na década de 1970 cineastas começaram a mudar esse cenário.

“Alguns diretores trazem para a cena o corpo que desafia os limites da cisheteronormatividadade”, diz. De acordo com ele, os filmes passaram a refletir o debate queer, que evidencia a existência de diversas identidades de gênero e identidades sexuais.

MARCO

O clássico francês Johan (1976), de Philippe Vallois, inspirou a mostra. O cineasta francês foi um dos primeiros a apresentar uma representação mais inclusiva dos LGBTQs. “O filme de Philippe é um divisor de águas. Foi exibido no Festival de Cannes, mas depois censurado. Na época, entenderam que o desejo homoafetivo era um ato de perversão”, diz Bruno Hilário.

O cineasta, que se coloca nessa narrativa como personagem, mostra práticas homossexuais por meio do universo de Johan. “Esse filme nunca foi exibido em Belo Horizonte”, informa o curador. A produção mostra o exercício da sexualidade de forma marginalizada.

A mostra também exibirá produções de Barbara Hammer, primeira cineasta lésbica a fazer um filme cuja estética descoloniza os corpos das mulheres. “A afetividade lésbica tem certa aceitação. De certa forma, é abordada nos filmes como um fetiche da heterossexualidade. Barbara questiona esse fetiche em torno do corpo da mulher”, afirma.

Igualmente divisor de águas, The transexual menace (1996), de Rosa von Praunheim, lança um olhar sobre a transexualidade, focando a luta contra a discriminação e para que o Estado reconheça esses indivíduos.

Corpo político exibirá também o clássico Priscilla – A rainha do deserto (1994), dirigido pelo australiano Stephan Elliott, e as produções Pink flamingos (1972), de John Waters, e The Rocky Horror Picture Show (1975), de Jim Sharman, dramas e comédias protagonizados por personagens travestis.



BATALHA
Durante a mostra Corpo político, será realizada no dia 14, às 21h30, a competição de dublagem Batalha de Lip Sync, com exibição simultânea dos filmes Pink flamingos e Wigstock.
A estrutura se inspirou no programa norte-americano RuPaul’s drag race. A apresentação ficará a cargo da drag Roque Horror, do coletivo Montarya. As competidoras serão avaliadas pelo júri, formado por Ed Marte, Gabriela Dominguez (Coletivo Montarya), Guilherme Morais (Miss Dengue), Vinícius Abdala e Xisto Lopes (College Queens).

HOJE
15h30: Para Wong Foo, obrigada por tudo! Julie Newmar, de Beeban Kidron
17h30: Rocky Horror Picture Show, de Jim Sharman
19h30: Transamérica, de Duncan Tucker. A sessão será comentada por Henri Kaufmanner, mestre em psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

MOSTRA CORPO POLÍTICO
Em cartaz até 29 de junho, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Programação completa: www.fcs.mg.gov.br. Entrada franca..