O poeta Carlos Drummond de Andrade costumava dizer que o céu deveria ser uma Diamantina maior e que, “entre outras excelências, o povo da cidade é povo que canta, e isto significa riqueza de coração”. Além dos diamantes, o antigo Arraial do Tejuco guarda outras preciosidades e boa parte delas foram registradas pelo fotógrafo mineiro Francisco Augusto Alkmim, o Chichico Alkmim (1886-1978).
Um recorte importante das imagens registradas pelo artista foi reunido numa exposição que será aberta amanhã no Instituto Moreira Salles (IMS), no Rio de Janeiro. Com curadoria de Eucanaã Ferraz, poeta e consultor de literatura da instituição, a mostra Chichico Alkmim, fotógrafo apresenta mais de 200 imagens produzidas na primeira metade do século 20. O acervo do fotógrafo está sob a guarda do IMS desde 2015.
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Mostra recupera a arte sofisticada de Chichico Alkimim, um dos pioneiros da fotografia em MinasExposição divulga a obra de Chichico AlkmimMineira Cinthia Marcelle recebe menção especial na Bienal de VenezaO curador ressalta que, diferentemente do que faziam muitos fotógrafos com estúdios pelo interior do Brasil nesse período, Chichico nunca se limitou a retratar apenas a burguesia diamantinense. Teve como frequentadores de seu estúdio os trabalhadores ligados ao pequeno garimpo, ao comércio e à indústria e também registrou casamentos, batizados, funerais, festas populares e religiosas, paisagens e cenas de rua.
“Ele não foi o fotógrafo da elite de Dimantina, mas sim dos garimpeiros, operários, faiscadores, dos pobres, dos filhos de escravos. Criou-se até um certo equívoco em achar que foi o Assis Horta, também fotógrafo diamantinense, o primeiro a retratar essas pessoas. O Chichico foi o pioneiro”, aponta.
A mostra no IMS, que ficará em cartaz até outubro, propõe ao visitante uma viagem no tempo, cobrindo cronologicamente e sintetizando as fases do trabalho do fotógrafo, que são apresentadas em salas ambientadas. Para reunir obras de valor museológico, a antiga biblioteca da casa da família Moreira Salles voltará ao seu estado original, com estantes de madeira e sem paredes falsas. Lá, será possível consultar mais de uma centena de negativos de vidro iluminados, que formam uma espécie de vitral, como também objetos originais do laboratório de Chichico e uma máquina de fole semelhante à utilizada por ele.
“Outro aspecto interessante é que haverá toda uma ambientação especial.
O poeta e consultor de literatura destaca o papel de Diamantina no trabalho de Chichico Alkmim. Segundo ele, o fato de a cidade histórica ter uma aura especial certamente se refletiu nas imagens do retratista. “É uma cidade que tem uma leveza, uma doçura, uma singeleza em que a arquitetura é emoldurada pela natureza. Mas, ao mesmo tempo, tem essa questão da miséria, da exploração da mineração. É um lugar curioso. E tudo transparece nas fotografias dele em perfeita harmonia”, resume.
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Biografia
Francisco Augusto Alkmim (foto) nasceu em 1886, em Bocaiúva, em uma fazenda na área rural. Com a decadência dos negócios da família, mudou-se para Diamantina em busca de meios para sobreviver.
Abolição
Amanhã completam-se 129 anos da Lei Áurea, que aboliu a escravatura no Brasil. Para lembrar a data, o cinema do IMS fará uma exibição especial de Terra deu, terra come (Brasil, 2010), de Rodrigo Siqueira, que se passa no quilombo Quartel do Indaiá, em Diamantina, na região onde Chichico Alkmim passou sua infância e juventude. No filme, Pedro de Almeida, garimpeiro de 81 anos, comanda como mestre de cerimônias o velório, o cortejo fúnebre e o enterro de João Batista, que morreu com 120 anos, num ritual em que vêm à tona as raízes africanas de Minas Gerais..