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Livro 'Mães do cárcere' fala sobre desafio de detentas que tiveram filhos

Publicação será lançada nesta quinta (11), pelo fotógrafo Leo Drumond e a jornalista Natália Martino

Pedro Antunes/Estadão Conteúdo Márcia Maria Cruz

Muitas mulheres precisam lidar com o aprendizado de ser mãe quando estão privadas de liberdade.

Se para quem conta com todas as condições materiais, a maternidade não é uma tarefa fácil, para quem perdeu o direito de ir e vir reserva ainda mais desafios. Foi para elas que o fotógrafo Leo Drumond e a jornalista Natália Martino lançaram o olhar durante o ano de 2014.

Leo Drumond e Natália Martino passaram meses com as detentas - Foto: Leo Drumond/Divulgação 

Num trabalho de imersão, elas compartilharam do cotidiano de 72 detentas que cumpriam pena no Centro de Referência da Gestante Privada de Liberdade, localizado em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Queríamos fazer uma reportagem. Mas aquele lugar mexeu muito conosco. Resolvemos fazer um trabalho mais denso e mais profundo”, conta Leo, responsável pelas imagens do livro Mães do cárcere, que será lançado amanhã, na Benfeitoria, no Bairro Floresta, na Região Leste da capital.

A Lei de Execução Penal prevê que as presidiárias têm direito de ficar com os filhos até os seis meses de vida do bebê. Dessa forma, para que não sejam privadas do convívio materno, as crianças ficam durante parte do cumprimento da pena.

O trabalho de Leo e Natália mostra, de maneira sensível, o dia a dia dessas mulheres que precisam lidar com os dilemas da maternidade. “Cada uma cuida do seu filho, mas também tem a ideia de cuidadora para que elas possam ir, por exemplo, nas oficinas oferecidas pela unidade. Essa situação gera amizades e atritos”, relata Leo.

Para se aproximar do universo dessas mulheres, a dupla chegou com cuidado. Ofereceu a elas o que quase todas as mães sonham: registrar em fotografia os primeiros passos, as brincadeiras, enfim, o aprendizado dos filhos. Com isso, conquistou a confiança das detentas para que pudessem contar suas histórias, revelar anseios e sonhos. “Muitas queriam enviar as fotos das crianças para os parentes”, diz Leo. O livro mostra o afeto que permeia a interação dessas mulheres com os filhos, mesmo diante das grades ou da necessidade de uso de tornozeleiras eletrônicas. “Ao lado do relato sobre essas mulheres, a Natália também produziu outro texto abordando o aspecto do sistema prisional que tem relação com a história de vida da personagem.”



Invisível

Com idade média de 30 anos, muitas delas pagam pena pelo crime de tráfico de drogas. “Grande parte delas foi presa quando estavam com os parceiros”, conta Leo. Em muitos casos, elas guardavam as drogas a pedido de maridos ou namorados quando foram abordadas pela polícia. “Como a nossa presença era constante, elas se acostumaram conosco, o que nos permitiu a leitura de um fotógrafo invisível.” Leo registra o ciclo de permanência da criança com a genitora: a gravidez, a amamentação e o aniversário de um ano. “Depois dessa idade, a criança não pode mais ficar com a mãe. A festinha de um ano também é a de despedida”, informa Leo.
Como o centro tem um caráter experimental, elas ficavam com o filho por um ano, um tempo a mais do que prevê a Lei de Execução.

A impressão do livro foi viabilizada graças a campanha de financiamento coletivo. Quem apoiou o livro durante campanha com R$ 50 poderá retirar um exemplar durante o evento ou posteriormente em endereço que será enviado por e-mail. Para quem não participou o livro está à venda por R$ 75.


Mães do cárcere

. Natália Martino e Leo Drumond
. 208 páginas
. Nitro Editorial
. R$ 75

Lançamento amanhã, às 19h, na Benfeitoria (Rua Sapucaí, 153, Floresta). Entrada franca.

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