“Não foi fácil chegar aonde cheguei, mas tenho a sensação de que caminhei pelos caminhos certos. No entanto, gosto de frisar que a minha história tem que ser vista com muito cuidado. Há uma tendência de valorizar a meritocracia. Que é só você trabalhar, focar, que consegue. E não é bem assim. Conheço muita gente que trabalhou duro, enfrentou dificuldades e não conseguiu ter êxito” -
Conceição Evaristo,
escritora
Quando tinha por volta de 12 anos, Conceição Evaristo escreveu na escola onde estudava, o Barão do Rio Branco, em Belo Horizonte, uma redação da qual nunca mais se esqueceu. Com o título Por que me orgulho de ser brasileira, o texto foi eleito o melhor do colégio. Era o primeiro dos muitos prêmios literários que a hoje consagrada escritora mineira e doutora em literatura receberia ao longo da vida.
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CADERNOS Um dos destaques da mostra é a influência familiar na vida da escritora, que hoje mora em Maricá, na Região dos Lagos fluminense. A mãe, dona Joana, de 94 anos, foi a principal referência. Inspirada pela escritora negra Carolina Maria de Jesus, autora do clássico Quarto de despejo, a lavadeira que criou 9 filhos não tinha estudo, mas colecionava cadernos que achava pelas ruas e os recheava com seus escritos sobre a vida, pensamentos e poemas.”Vamos ter uma sala com os escritos e os cadernos da mamãe. Ela costumava fazer poesias, escrever coisas do dia a dia, como se fosse um diário.
Foi a partir daí que surgiu o conceito criado e adotado pela autora de obras reconhecidas como Ponciá Vicêncio e Becos da memória, as “escrevivências”, a escrita que nasce das vivências. Viver para narrar. Narrar o que se vive. “Quando sou escritora, não me desvencilho de quem eu sou. A Conceição de origem pobre, de família humilde e que veio de uma família com mulheres que viveram em situação de subalternidade. Isso sempre orientou a minha escrita. É isso que chamo de escrevivência”, salienta.
Além da própria exposição, a Ocupação traz atrações como mesas, debates, masterclass da autora e apresentações teatrais. A programação também oferece um amplo conteúdo virtual, como entrevistas em vídeo sobre a vida e a obra de Conceição e informações biográficas no hotsite itaucultural.org.br/ocupacao.
“Um outro aspecto interessante é que haverá a retomada do projeto Cartas Negras, criado por Conceição e amigas escritoras, como Esmeralda Ribeiro, Geni Guimarães e Miriam Alves, nos anos 1990. Elas trocavam missivas sobre suas vidas, em uma espécie de debate escrito, sobre vários temas. Agora, além das antigas parceiras, outras escritoras negras foram incorporadas”, acrescenta Ana Estaregui.
NOVOS LIVROS Conceição Evaristo tem dois projetos literários encaminhados: um romance e um livro de contos. O primeiro reúne memórias ficcionalizadas sobre a saga dos africanos e seus descendentes no Brasil. “É a história de uma matriarca que vai fazer 107 anos, mas não quer festa. Seu único desejo é reencontrar seus descendentes que estão espalhados por aí”, relata. Já a segunda publicação vai seguir sua escrita centrada no cotidiano das mulheres negras, mas desta vez ela insere o contexto masculino. “Quero agora fazer dos homens negros os protagonistas. Minha intenção é concluir os livros no segundo semestre”, avisa..