Naquela esplêndida manhã partiria para S. Paulo. A pureza do ar entrando-me pulmões adentro me purificava. Os pensamentos eram leves, os olhos buscavam mansamente a paisagem, evocando na saudade outros momentos comuns, um mesmo despertar gostoso para as coisas, para a vida. Eu venceria.
Treze horas. Sentada contra um janelão de vidro, por ele, lá de cima, do meu hotel, eu podia ver uma nesga da cidade. Um relógio quadrado enorme indicando sempre que o povo deva correr. Tempo é dinheiro. E os homens lá embaixo, como em fita de cinema mudo, eram milhões de Carlitos se acotovelando, cruzando, passando… Por entre gigantescos blocos de cimento, fixos, rígidos, indiferentes. São Paulo ficou mais fria. E eu me senti só.
Às seis horas da tarde, em uma repartição pública, escutei a mocinha receosa dizer que era preciso voltar rápido para casa
Passaram-se alguns dias e muitas coisas aconteceram
Atingi em cheio o alvo. Eu, que confiante escrevera no cartaz — usando das cores e formas da bandeira paulista — “Amo São Paulo” —, sorria à vitória do amor. Pois minha arte, meu trabalho, conquistou a maior cidade do país.
Não importa a criatura, mas a obra. Esta, sim, permanecerá.
Crônica publicada no Estado de Minas,
sexta-feira, 12 de julho de 1968